Usina de Letras
Usina de Letras
16 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50673)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O Petismo e o Lulismo -- 12/11/2002 - 16:34 (Don Pixote de la Pança) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"O PETISMO E O LULISMO



Gaudêncio Torquato



A votação abaixo de sua média nacional, que Lula recebeu em 75% das cidades administradas pelo PT, comprova que, se ganhou um passaporte de confiança, o partido foi reprovado na tentativa de colocar a bandeira vermelha no pórtico dos governos estaduais. Essa clara visão diferenciada do eleitor sobre o presidente eleito e seu partido é uma indicação de que dois fenômenos abrirão o novo ciclo político: no curto prazo, o fortalecimento da identidade de Lula e, no médio prazo, o divisionismo no PT, ambos com repercussão no espectro social e político.



O petismo abriga um escopo de idéias multifacetadas, algumas antagônicas. Acolhe desde a ultrapassada noção de que é preciso fazer a revolução, à ingênua idéia de que a erradicação da pobreza e a distribuição de renda constituem metas que se podem alcançar em pouco tempo. Há de se reconhecer que, ao lado de grupos que assim pensam, o petismo avançou nas veredas da pragmática política, adotando o preceito de São Francisco de Assis, de começar fazendo o que é necessário, para, depois, realizar o que for possível, e, de repente, chegar àquilo que parecia irrealizável.



Já o lulismo é algo transcendental, a partir da figura do próprio presidente eleito, que, agora na condição de popstar, começa a habitar um olimpo de admiração e crença. Parece ter assumido uma identidade dual, que se reparte entre a imagem divina da onipotência e a feição humana de um guerreiro. Os brasileiros optaram pelo lulismo em função de uma profunda fé que costumaram a dedicar a um homem do povo, tenaz e afeito às intempéries. O lulismo paira sobre partidos e ideologias. Se tem cores, são as da bandeira nacional; se tem cheiro, é o das ruas; se tem símbolo, é o de tábua da salvação.



Um perigo, porém, ronda o guerreiro Lula: a monumental esperança que seu perfil desperta. São tão intensos os anseios, tão forte a torcida para que dê certo, que algum passo errado, qualquer decisão adiada, sentimentos frustrados acabarão gerando uma reversão de expectativas. E uma infelicidade como essa terá o efeito de uma bomba atômica sobre a auto-estima de um povo que se embala no manto da esperança. O presidente eleito precisa conter os acenos populistas que, se para ele, são uma forma catártica de fruir o prazer da vitória, para o povo é compromisso que será cobrado com juros e correção monetária.



Lembre-se ao presidente Lula que, estimulados pela voz saída da garganta de seus povos e dos gemidos de suas Pátrias, grandes guerreiros da Humanidade acabaram arrastando seus exércitos para as páginas da História e as sombras da morte. Como foi comparado na campanha a Lincoln, um lenhador que se formou em Direito, alguém precisa lhe dizer que o 16º presidente dos EUA, de origem modesta e educação rústica, não era um simples sonhador. Sabia que a luta pela liberdade humana era eterna e que ela não chegaria ao fim em sua época.



É preciso ter muito cuidado quando se promete muito. Uma coisa é erguer a bandeira dos oprimidos e necessitados. Outra, é abrir para eles os portões do paraíso. De sua excelência, já se pode enaltecer a grandeza da alma, quando acena com a possibilidade de todos os brasileiros, sem exceção, terem direito ao café da manhã, ao almoço e ao jantar. O que não se pode esquecer é o tamanho da conta para alimentar as 46 milhões de pessoas que vivem em estado de pobreza.



Se, na frente externa, a identidade onipotente de Lula é quase sinônimo de felicidade, na frente interna, será sinônimo de polêmica. Primeiro, porque o verniz "divino" adicionado à imagem vai começar a ser descascado, depois de um prazo de carência, a partir de cobranças da ala mais radical do PT. Temerosos de que o perfil do "Lulinha paz e amor" acabe de todo "endireitado", os radicais vão procurar gerar focos de tensão, de um lado, para evitar o amaciamento completo do presidente e o convívio ameno com siglas da direita, de outro, para cobrar a prática dos conceitos e propostas clássicas do partido. No fundo, o que ocorre é um antagonismo. Aliança e parceria, na visão do petismo ortodoxo, só se faz entre irmãos ou parentes consangüíneos. Com pessoas distantes, é uma traição ao ideal partidário. E a idéia de pacto social parece algo passível de contaminação. Já o petismo conceituado pela cúpula dirigente deve rezar o terço do dia a dia da política. Um terço ao qual podem ter acesso muitas mãos. Se a feição olimpiana do novo presidente brilhar nos céus da Pátria, recebendo aplausos, o petismo ortodoxo ficará em reclusão. A recíproca é verdadeira e, neste caso, uma onda macambúzia se espraiará pela sociedade. Que fique bem claro: o coração brasileiro torce para que o novo presidente tenha sucesso. Ele merece um voto de confiança.



Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político."

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui