Há fatos pitorescos em nossas vidas que, às vezes, embora irrelevantes eles nunca mais saem de nossas mentes.; ficam fixados para sempre, grudados lá no fundo de nossas almas. O caso a ser narrado, pode até parecer muito besta, mas interessante pela maneira inusitada do acontecimento.
Estudante do Ginásio São Luís, quando o colégio estava ainda em construção e era apenas um conjunto de salas de aulas, sem dependências para laser, com o chão de barro batido, ainda por terminar, totalmente improvisado. Quase sem condição de uso.
Naquele tempo, sem os avanços tecnológicos da atualidade, as condições precárias não eram motivos para desânimos, enfrentavam-se as situações de qualquer forma. A falta de condições do colégio não era motivos para não haver aulas, ou mesmo para não aproveitarmos nosso tempo da melhor forma em busca de laser e até mesmo de aprendizagem, porque poucos alunos vão à aula com esta finalidade, o que nos incentiva quando criança são as brincadeiras e a companhia de outros colegas.
Mesmo assim, qualquer aluno de nosso tempo, por mais fraco que ele fosse, era melhor do que os atuais em conhecimentos sobre qualquer área, isso não só pela qualidade de ensino, mas também pelo rigor da época, tanto dos pais como dos mestres.
Mas isso é outra história. O que nos interessa no momento é nossa narrativa.
Como dito, o colégio não tinha a menor condição de uso, mesmo assim estava funcionando, porque as aulas do Colégio São Luís eram ministradas antes, na parte da tarde, nas dependências do Grupo Escolar Menezes Pimentel, que emprestava suas salas ao pessoal do ginásio, como não era possível se continuar no Meneses Pimentel, pois naquele ano de 1964 um cheia muito grande tinha deixado inúmeras famílias desabrigadas, o jeito foi improvisar abrigo nas dependência do Grupo Escola para aquele povo todo, e transferir as aulas do Ginásio São Luís para suas dependência ainda que inacabadas.
Por não haver área de laser: quadras esportivas e campos de futebol, sendo que aquelas só foram inventadas, digo inventadas, porque o termo é este mesmo, muitos anos depois. Apenas colégios mais “elitisados” tinham estruturas para esporte e laser de seus alunos, nós não tínhamos qualquer área recreativa, tudo que fazíamos era nas áreas ao redor do colégio.
Nos intervalos de aulas, as brincadeiras para passar o tempo variavam de acordo com o gosto de cada um e dependia muito também da tolerância de professores e diretores. A repressão aos alunos era quase total. Correr, aqui não pode. Brincar disso, também não. Jogar bola, só se for em tal lugar. Conversar alto é proibido. Falando assim, os mais novos não entenderão nada. Mas era assim mesmo, repressão total. Muitas vezes, até um simples jogo de bila – bola de gude para alguns – não era permitido.
Hoje nos colégios, além das estruturas tudo pode. Até se fuma nas dependências colegiais. Naquela época, fumar só às escondidas e olhe lá, se fosse pegue o aluno era inevitavelmente expulso do colégio. E o problema em casa! Aonde estudar? Pois muitas vezes um aluno expulso de um colégio não era mais aceito em nenhuma outra instituição de ensino, a não ser nos colégios conhecidos com pagou-passou. O negócio era rigorosíssimo.
Pois bem, nos intervalos de aulas, nosso maior laser era jogar bola. Um campo de futebol foi improvisado em frente a colégio, aproveitado certo espaço, bastante grande no comprimento, de pouca largura, entretanto. Quatro pedras serviam como traves: duas de um lado.; duas de outro. Para não haver problema no tamanho, as traves eram medidas em pés. A pessoa que medisse um lado media também o outro, de forma que o tamanho da trave ficasse igual. O campo era no barro vermelho. Quando chovia tornava-se muito, mas muito escorregadio mesmo. Parecia sabão. Mesmo assim, nos dias chuvosos, jogávamos, independentemente das conseqüências que pudessem vir de uma queda, da sujeira nas roupas, com as quais teríamos de continuar a assistir as aulas.
Certo dia, inverno rigoroso, campo eslameado, fomos jogar. Naquele dia chuvoso, o campo parecia mais liso do que de costume. O jogo transcorria normalmente, quando um colega, que não jogava lá essas bolas todas, partiu para o gol. Célere, avança rumo ao gol. Na sua frente só bola, goleiro e trave. Tudo pronto para ele marcar o gol, que talvez fosse até o único por ele marcado na vida, pois era um perfeito perna-de-pau. Porém, na hora do chute, nosso “craque” chuta o vento. Erra feio a bola. Pelo impulso que dera para o chute, ele se levanta do chão mais ou menos meio metro e cai no barro de cu trancado, como se diz na gíria. Queda foi feia, que esperamos o pior, um braço ou uma perna quebrados, pois o grito dado por ele foi assustador:
Aí....Socorro mamãe,estou sem fala. A risada geral. Nosso “craque”, com vergonha passou vários dias sem participar do racha.