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cronicas-->Pra que tanta pressa -- 03/02/2005 - 17:13 (José Francisco Bessa da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Já vai pra 18 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca.
Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante.
Qualquer projeto aqui demora dois anos para se concretizar, mesmo que
a idéia seja brilhante e simples. É regra. Então, nos processos
globais, causa em nós aflitos por resultados imediatos (brasileiros,
americanos, australianos, asiáticos) uma ansiedade generalizada,
porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito neste prazo.

Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações... E
trabalham num esquema bem mais "slow down." O pior é constatar que, no
final, acaba sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da
tecnologia e da necessidade: bem pouco se perde aqui... E vejo assim:
1. O país é do tamanho de São Paulo; 2. O país tem 2 milhões de
habitantes; 3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes
(compare com Curitiba onde somos 2 milhões); 4. Empresas de capital
sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel
Biocare,... Nada mal, não? Pra ter uma idéia, a Volvo fabrica os
motores propulsores para os foguetes da NASA.

Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem
estar errados, mas são eles que pagam nossos salários. Entretanto,
vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha
mais cultura coletiva do que eles... Vou contar para vocês uma breve
só pra dar noção...

A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava
no hotel toda manhã. Era setembro, frio leve e nevasca. Chegávamos
cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada
(são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no
segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa
manhã perguntei: "Vcs têm lugar demarcado para estacionar aqui? Notei
que chegamos cedo, o estacionamento vazio e vc deixa o carro lá no
final..." e ele me respondeu simples assim: "é que chegamos cedo,
então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar
atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Vc não acha?" Olha a
minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira... Deu pra rever
bastante os meus conceitos..

M C M Volvo IT South America Slow x Fast > >Há um grande movimento na
Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association
- cujo símbolo é um caracol -, tem sua base na Itália (o site é muito
interessante. Veja-o). O que o movimento Slow Food prega é que as
pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos,
"curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem
pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do
Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa,
porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um
movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista
Business Week em sua última edição européia.

A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura"
gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em
contraposição à qualidade de vida ou à "qualidade do ser". Segundo a
Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos
horas, (35 horas/semana) são mais produtivos que seus colegas
americanos ou ingleses.

E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8
horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%.
Essa chamada "slow attitude" está chamando a atenção até dos
americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it Now" (faça já).

Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem
menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com
mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos
detalhes e com menos estresse. Significa retomar os valores da
família, dos amigos, do tempo livre, do lazer e das pequenas
comunidades. Do "local", presente e concreto, em contraposição ao
"global" - indefinido e anónimo. Significa a retomada dos valores
essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da
simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé. Significa
um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve" e,
portanto, mais produtivo, onde seres humanos felizes fazem, com
prazer, o que sabem fazer de melhor.

Nesta semana, gostaria que você pensasse um pouco sobre isso. Será que
os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é
inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes
tempos de desenfreada loucura? Será que nossas empresas não deveriam
também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa" até para
aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem
a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um
personagem cego (vivido por Al Pacino) tira uma moça para dançar e ela
responde: "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos."
"Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num
passo de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.
Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só
alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim.

Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se
esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo
todo mundo tem por igual. Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por
dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber
aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon... "A vida é
aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro".

Parabéns por ter lido até o final... Muitos não irão ler esta mensagem
até o final, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo
globalizado. Pense e reflita: até que ponto vale a pena deixar de
curtir sua família, de ficar com a pessoa amada, de meditar todos os
dias, ir pescar no fim de semana? Poderá ser tarde demais...
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