As hostilidades haviam cessado. Aquelas disputas acirradas pelo domínio territorial deixavam-na estressada de forma a quase impedí-la de trabalhar. Mas tinha que se defender. Deveria defender sua liberdade. Afinal, cumpria com todas suas obrigações legais.
O barbeirozinho atrevido que lhe infectara com aquela dermatite estava sendo punido por seu sidicato. Aquela instituição oficial que defendia os direitos do Consumidor já estava acionada e movia seus tentáculos para a reparação dos danos.
O homenzarrão bundudo que vivia com os pés inchados e espancava os cachorrinhos fora denunciado à sociedade protetora dos animais.
Os quadrilheiros que traficavam influência espalhando boatos, mentiras e meias verdades, nos organismos sociais reduziram e aquietaram a sanha dissolutória.
Estariam vivendo um ciclo passageiro de paz? Quando a intermitência do sossêgo seria trocada pelo frisson dos contatos antipáticos? Quizesse Deus que os momentos de quietude fossem maiores do que os de interações abrasivas.
O verão findava-se. No inverno a constrição do frio haveria de desacelerar aqueles neutrons, prótons, átomos, e moléculas diminuindo assim a velocidade da transmigração de certas órbitas a outras.
Haveria de se mudar a fim de evitar os sortilégios de mau agouro que poderiam emanar daqueles odres de insensatêz.
Amar a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a tí mesmo. Eis aí a regra. O que desejo ao meu próximo peço a mim mesmo. E bastante ciênte de que o universo é composto de matéria e movimento e de que não cai de uma árvore podre uma folha seca sequer sem que haja a manifestação do princípio primeiro, sabia ela que fora da caridade não haveria salvação. Sabia ela que fora da lei não haveria salvação. Os fatos estavam latentes para comprovar. E amanhã seria outro dia. Os cães finalmente cansaram-se de ladrar. Que Deus tivesse piedade deles.