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cronicas-->A LICHIA E AS PESSOAS -- 05/02/2005 - 08:32 (MARIA HILDA DE J. ALÃO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A LICHIA E AS PESSOAS


Marlene B. Cerviglieri



 
Sempre admirei muito minha bisavó. Como meus pais precisavam trabalhar o dia inteiro, era com ela que eu aprendia muita coisa.
Tínhamos uma casa grande e um quintal maior ainda. Nele havia parreiras, pés de pêra dura e mole, goiabeiras, galinhas, alguns porquinhos, um papagaio e muitas árvores de várias frutinhas.
A horta era variada, cheia de pés de couve, salsa e, num canto, muitas roseiras e dálias. Ervas medicinais cresciam ali para todos os males.
Minha bisavó era a benzedeira do pedaço. Crianças eram trazidas para que ela curasse os seus males.
Meu bisavó era mais intelectual. Lia e me ensinava a recitar Camões. Até sotaque eu tive até os meus treze anos.
Foi implantada, em mim, a sua veia intelectual, daí meu gosto por leitura e de escrever também.
Certa vez, estava embaixo de uma grande parreira, quando meu bisavó trouxe uma caixinha cheia de umas frutas que eu não conhecia.
Levou até minha bisavó, que ficou muito alegre, e logo me chamou para ver as frutas. Eram de cor vermelha e bem ruspiosas, pareciam ter uma cobertura de lixa - disse eu.
- Isso mesmo - disse meu bisavó - são chamadas pelo nome de lichia.
Com um canivete abriu uma e então provei a lichia. - Que coisa gostosa! É muito doce e branquinha - disse eu.
Foi ai então que minha bisavó fez a comparação que ficou marcada em minha vida para sempre:
- Esta fruta pode ser comparada a uma pessoa.
Como? perguntei.
- Simples minha querida, veja só:
- Existem pessoas de uma aparência feia, com pele grossa, desajeitadas que, a primeira vista, ninguém quer falar com elas. Porém quando as conhecem, surpreendem-se com sua doçura, sua transparência, docilidade ao falar. Não se parecem com a lichia? Sua aparência impressiona, mas depois, ao vê-las por dentro e sentir seu sabor, ficamos encantados como com essas pessoas.
Fiquei emocionada ao ouvir tal comparação e, confesso que no momento achei mesmo que meus bisavós estavam ficando velhinhos.
Muitas vezes em minha vida tive de fazer a comparação da "lichia e as pessoas", confesso que nunca houve erro. Ver as pessoas por dentro, sentir sua docilidade, ou melhor, sua alma, seu estado de espírito, requer muita sensibilidade, e isto eu aprendi com eles nas suas observações simples da natureza.
Aos meus bisavós, que viveram bem próximo dos cem anos e que tantas lições me ensinaram, o meu eterno carinho.
 
Marlene B. Cerviglieri

mcerviglieri@uol.com.br

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