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Artigos-->A volta do Santo Ofício -- 13/11/2002 - 01:00 (Marcelo Luís Militão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Visitei um site na internet chamado Pró-Vida de Anápolis (www.providaanapolis. org.br).

O site pertence a uma Entidade de Direito Privado, chamada Pró-Vida de Anápolis.

A idéia de quem fez o site, suponho, era divulgar os ensinamentos de Jesus Cristo, evangelizar, fazer todo esse tipo de coisas que a Igreja Católica faz há dois mil anos.

Sabemos que a Igreja Católica, em determinadas épocas, agiu de forma um tanto paradoxal, pregando palavras de amor, mas instituindo o medo e o terror entre as pessoas que se opusessem a ela. Muitos explicam que era a cultura da época; o que pode até explicar, mas não justificar; outros dizem que não foi tanto assim, ou que na verdade era o Estado quem atemorizava as pessoas, etc. Tudo isso pode até explicar essas atitudes em épocas como a Idade Média, por exemplo, mas não explica atitudes semelhantes àquelas tomadas hoje em dia.

Sabe-se, também, que a Igreja Católica proíbe, de acordo com a sua doutrina, relacionamentos homossexuais, sacerdócio feminino, e, coerentemente com seu pensamento milenar, outras crenças.

Tudo isso, há séculos atrás, podia gerar desde a exclusão da pessoa da sociedade, até à morte da pessoa. Hoje em dia, a Igreja já reconheceu seus erros, através do Papa João Paulo II, já flexibilizou mais as suas posições, tanto no que diz respeito à doutrina, quanto às práticas, enfim, já evoluiu bastante, preocupando-se mais em divulgar suas crenças e verdades do que em atacar as crenças e verdades dos outros.

Mas aquele “estilo católico” já superado, de atacar tudo o que lhe é contrário, de ameaçar com o fogo do inferno e com o tridente do diabo a quem não seguisse suas leis, de aceitar qualquer explicação científica que fosse, se confirmasse suas posições, parece que deixou saudades, ao menos nas pessoas responsáveis pelo site citado lá em cima.

Começa pela questão do aborto. Tem quem seja contra, tem quem seja a favor, mas, para as pessoas que fizeram o tal site, não tem querer: todos estão obrigados a acatar as normas cristãs, mesmo, suponho, que a pessoa seja, por exemplo, umbandista. Sim, porque no site havia, ao menos quando fui lá, um contador que contava a quanto tempo o então ministro José Serra havia não sei se aprovado ou encaminhado ao congresso uma tal de Norma Técnica que aprovava o aborto não sei onde nem em que condições. Ora, se determinado grupo ensina seus filiados a agir de tal forma, não há porque impor a mesma atitude a pessoas que não são daquele grupo, há? Para o site, há.

Há também a questão do homossexualismo. Horrores e horrores são ditos contra essa opção sexual. Um dos textos do site nega que essa opção seja realmente uma opção, já que deus não quer que seja assim. Vamos pegar, novamente, alguma pessoa umbandista (não sou umbandista, nem recebi procuração deles, só pego essa religião como exemplo. Poderia ser muçulmano, judeu, índio, etc. É que essa religião é bastante comum no país). Digamos que ela concorde que o deus cristão realmente não permita o homossexualismo. Mas talvez os deuses da sua religião permitam. Então, apesar dessa pessoa não ter nenhum problema de consciência ou religioso (também não sei se a Umbanda permite isso) em escolher a sexualidade que quer, tem que sujeitar-se a uma legislação que impõe a visão de um determinado grupo, que não concorda, por ordem divina, com tal conduta.

Sem falar no desrespeito que o site tem com essas pessoas, e no jogo sujo que fazem, sempre associando o homossexualismo a algum tipo de desordem, como se quisessem fazer supor que uma pessoa homossexual pode mais facilmente ser também uma pessoa com mau caráter, etc... Como se sexualidade dependesse de caráter...

E há também outro ponto, na minha opinião o pior, que é o machismo disfarçado de moralismo.

Bytes e mais bytes metendo o pau em todas as associações que promovem a emancipação feminina, textos e mais textos tentando provar por A mais B que lugar de mulher é na cozinha (claro, em nenhum momento, o site diz com essas palavras, mas o que pude inferir foi isso. Ao menos, é o que se pode inferir quando se lê que, segundo a bíblia, “o homem é a cabeça da mulher, assim com Cristo é a cabeça do homem”. Isso merece espaço fora dos parêntesis também), etc. As provas de que a mulher deve ser submissa ao homem recheiam o site. A maioria baseadas em uma das cartas de Paulo, citada ali em cima, mas cujo nome não recordo no momento, mas creio que seja alguma das duas ao Coríntios. Ora, São Paulo também era contra as mulheres entrarem sem véus nos templos, contra as mulheres usarem cabelos curtos e homens usarem os cabelos compridos... se se fosse seguir à risca algumas coisas que Paulo diz em suas epístolas, teriam que confiscar todos os crucifixos por aí que mostram Cristo cabeludo, bem como tosar a cabeleira de muitos padres por aí, e dar um puxão de orelhas nas freiras que cortam o cabelos curtinhos...

O site também está recheado de “provas cabeludas” de que o movimento feminista é uma barbárie usada pelo capitalismo para descristianizar a sociedade e acabar com a Igreja, e tem também quilos e quilos de outros absurdos (como por exemplo a seguinte “pérola”: eles afirmam que um estupro é preferível ao homossexualismo, porque ao menos, no estupro, apesar de este ser uma coisa extremamente condenável, ao menos há uma “relação natural” e não uma “perversão” como há no homossexualismo. Ou seja, é preferível uma atitude “natural” e hedionda do que uma “antinatural” mas que não prejudica ninguém além das pessoas envolvidas...).

Não quero dizer, com toda essa crítica ao site, que eles devam mudar de opinião. Se o bispo disse e o Papa falou, os cristãos tem mais é que agir assim, ou tentar mostrar que não é bem assim, e que se entendam.

Não escrevo tudo isso tentando dizer que eu estou certo e eles errados, e sei que nada do que eu disse surtirá efeito algum (o máximo que talvez aconteça é que vá todo mundo lá ver essa tristeza: sei que, falando deles, acabo fazendo propaganda involuntariamente).

O que me revolta é o desrespeito e a intolerância com opiniões diferentes, e também a tentativa de impor o ponto de vista de uma religião que, apesar de ser uma das maiores do mundo, uma das mais antigas, e a mais inovadora que surgiu, não representa TODAS as pessoas que habitam a face da Terra.

A Igreja evoluiu, “abriu as janelas para o vento do Espírito entrar”, como disse João XXIII referindo-se ao Concílio Vaticano II, reviu muitas opiniões e atitudes, descartou o que julgou desnecessário e reafirmou o que julgou válido ainda, mas alguns de seus fiéis, infelizmente, ainda insistem em sonhar com a volta do tempo da imposição desrespeitosa a toda e qualquer diferença...



Ps.: todas as citações ao e do site foram escritas livremente, e não nas exatas palavras que estão lá.

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