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Contos-->Os pratos da balança -- 25/09/2007 - 14:41 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os pratos da balança

Fernando Zocca


Van Grogue não era fumo de corda, mas estava bem enrolado. Como todo mundo sabe, ele sempre confundia tudo: numa ocasião chegou a pensar ser patologista o sujeito que estuda patos.
Sua mente primária, aquele excesso de zelo, o desejo de posse, e a certeza de que Malu K. Grogue, sua concubina esmerada, “costurava a piaçaba pra fora”, deixavam-no atarantado.
Então o pobre Grogue, entristecido, naquela manhã de segunda-feira, munindo-se de uma garrafa da mais pura patrícia, do maço de cigarros “Jesus me acuda” e de um exemplar de domingo do Diário de Tupinambicas das Linhas, tomou um ônibus circular, descendo perto do salto do rio Tupinambicas das Linhas; e depois de caminhar um pouco, sentou-se num banco instalado debaixo da sibipiruna, na avenida beira-corgo, passando então a usufruir a sombra benigna.
Devido à ressaca advinda das bebedeiras de sábado e domingo ele não queria saber das notícias do jornal e, acendendo um quebra-peito viu no esvoaçar da fumaça uma margarida que varria freneticamente o chão.
- Ô minha cachola! Parece que tomei uma vassourada nos cornos.
Ele firmou os olhos e pôde ver do outro lado da avenida, distante uns cinqüenta metros, uma velhota que, irada, passava a vassoura na cabeça de um moleque rueiro.
Van percebeu que quando o menino esboçou reação, surgiu lá de dentro da casinha um homem falando grosso a amedrontar o menino.
Ao sair correndo o guri pôs-se a gritar:
- Leoa loba boba! Leoa loba boba! Leoa loba boba!
Enquanto assistia a cena, Van nem percebeu que sentou ao seu lado um sujeito emagrecido, careca proeminente, barba branca e rala, barriga convexa, aparentando uns sessenta anos e que pigarreando, depois dos cumprimentos formais, foi logo dizendo:
- O senhor viu só o que aconteceu outro dia lá na vila Dependência?
Van nascido e criado em Tupinambicas das Linhas sabia que ali os contatos com estranhos eram comuns e, à semelhança das demais cidades de pequeno porte, as pessoas geralmente se falavam nas ruas, mesmo que não se conhecessem.
Van respondeu:
- Não, senhor, eu não vi nada.
Então o forasteiro passou a contar o caso:
- Uma mulher, bem nova, com muita raiva do marido que a traia, resolveu vingar-se fazendo uma maldade, que ela considerava maior ainda do que a traição que sofria.
Ela esperou que todo aquele pessoal freqüentador do bar se reunisse e quando estava todo mundo ali, ela parou defronte ao boteco e começou a gritar que Mané a havia estuprado. Nossa! O alvoroço foi geral. Do silêncio naquela multidão vinham olhares odientos e percebia-se, pelo crispar das mãos, que a turba já queria fazer a justiça própria.
O pobre Mané estava “pra lá de Bagdá” e alheio ao que acontecia achou que estava tudo certo. Aqueles que poderiam desconfiar ser a conversa da denunciante mentira calaram-se.
A mulher continuava clamando, dizendo, apontando o pobre bêbado, e informando que ele tinha “feito mal” pra ela.
Foi então que a turba, incontrolável, desceu o cacete do Mané que nem sabia porque estava apanhando.
Sabe o que aconteceu com ele? Ele morreu!
A polícia chegou e prendeu quatro ou cinco. Deu o maior aperta-chico.
Quando o forasteiro parou de falar, Grogue, mais tonto que mosquito atingido por inseticida, disse:
- É bom que cuidem da própria vida, porque enquanto eles cuidam da vida alheia, a deles passa e nem percebem.
Ao notar, pela expressão facial do forasteiro, que suas palavras soaram dissonantes, Grogue levantou-se e, falando enrolado, fazendo uma salada de palavras, exprimindo-se de forma ininteligível, saiu buscando um banco mais sossegado.

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