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Artigos-->Car@ Leitor@: -- 14/11/2002 - 03:51 (Marcelo Luís Militão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você já notou que “o homem chegou a Lua”? Que o “homem deve preservar a Natureza”? Ou que o “homem é a medida de todas as coisas”?

Claro que essas três afirmativas referem-se à humanidade, a todo e qualquer ser humano. Mas homem é sinônimo de ser humano?

Não sei o que o dicionário diz, mas é sim.

“Homem” significa pessoa, e também pessoa com um par de cromossomos XY em algum lugar do DNA. O resto é “Mulher”. “Mulher” também é pessoa, mas não é sinônimo de pessoa. Não na nossa língua, ao menos.



Um monte de gente já falou disso, não vou me aprofundar muito no fato de a discriminação sexual que denigre as mulheres ser mais velha do que a pedra, nem vou comentar as óbvias conquistas que elas conseguiram. Só vou falar de um ranço linguistico que, na minha opinião, é um ranço linguístico.

“O homem habita a Terra”. Subentenda você que tem mulheres também, mas elas não precisam ser citadas. “O homem segue na busca da cura da AIDS”. “O homem é o único ser racional”. “A mulher” é apenas aquele personagem que entrou na da serpente, e afundou o pobre do homem junto...



Todo mundo concorda que a forma com que se fala algo não necessariamente expressa a realidade sobre aquilo, o que leva à conclusão de que não é pelo fato de a Língua discriminar o sexo feminino que alguém ainda vá realmente acreditar que “a mulher é um homem incompleto”, como Santo Agostinho e Aristóteles acreditavam.

Mas é difícil não concordar com o fato de que a Língua reflete o pensamento da sociedade, e se a Língua ainda permite que as mulheres sejam incluídas junto com os homens em uma expressão própria de um termo masculino, mas não permite que os homens sejam incluídos junto com as mulheres em uma expressão própria de um termo feminino, dá para deduzir alguma coisa dessa sociedade. Em outras palavras, sempre que você ouvir a frase “os internautas navegam todo o dia”, pode ser que se esteja falando de mulheres e de homens, ou só de homens; mas se você ouvir a frase “as internautas navegam todo dia”, pode ter certeza que essa frase não se refere a nenhum homem.

Agora, porque isso? Você nunca se perguntou? Então se pergunte agora!

A questão é que, há tempos, as mulheres são vistas como seres inferiores. Todo mundo cansou de saber que antigamente as mulheres não tinham direito a voto, não tinham direito a tomar decisões legais por conta própria, e mesmo agora, em pleno século XX, o Talibã tentava disfarçar o fato de que existiam mulheres no planeta enfiando-as embaixo da burka.

Com o passar dos séculos, especialmente nos últimos anos, a mulherada chutou o pau da barraca e saiu detrás do fogão e foi à luta, ou melhor, foi à luta, mas achou tempo para mexer o feijão no fogo, que isso é serviço que mulher e muito homem ainda tem medo de começar a aparecer seios no seu peito e de começar a achar o Rodrigo Santoro um gato caso comece a fazer bolo para as visitas no Domingo.

Há muito que se fazer ainda, mas as mulheres já conquistarem muitas coisas, como, por exemplo, o direito de fazer o que der na telha, desde que isso não vá quebrar a telha alheia – direito esse também conhecido como liberdade.

Mas o Aurélio ainda não descobriu que as mulheres também foram à Lua (tudo bem que era o Neill Armstrong lá, mas é todo mundo gente), assim como não descobriu que a humanidade, por exemplo, menstrua.

Alguém agora vai dizer que não é a humanidade que menstrua, mas sim as mulheres, então nesse caso não pode generalizar. Ou seja, incluir os homens em algo feminino não pode, é “haram” – seja lá como se escreva – , mas incluir as mulheres numa palavra que se refere especificamente aos homens pode (como em “o homem surgiu do macaco”).

Simone de Beauvoir escreveu no livro O Segundo Sexo (isso aqui não é nenhuma coisa científica, com normas da ABNT e essas coisas, por isso, vou citá-la de cabeça) que o homem é considerado o positivo e o neutro, e a mulher, o negativo (generalizando a idéia de masculino e feminino). E é exatamente isso que a linguagem reflete quando permite que as mulheres sejam contadas entre os homens, mas não permite que os homens sejam contados entre as mulheres.

E, na vida prática, também se vê isso. Uma mulher pode, tranquilamente, comprar um pacote com três cuecas a R$ 1,99, por exemplo; mas você alguma vez já viu um homem comprar uma calcinha numa loja? Se ele não for guei, você vai achar que é... Ou seja, mulher agindo como homem ou é loucura, ou é inveja da “superioridade” masculina (caso você seja machista); homem agindo como mulher é boiolice, humilhação ou auto-flagelação (ou ainda comédia), mas dificilmente vai ser encarado como um fato normal e corriqueiro.

Só para que fique bem claro, estou criticando o fato de a língua refletir uma forma machista de pensar que se não morreu ainda, espero que esteja definhando.

Daria para criticar também o fato de sempre os termos masculinos virem antes dos termos femininos (“brasileiros e brasileiras”, “eleitores e eleitoras”, “os homens e as mulheres do país...”) e também o fato de as mulheres virarem homens, linguisticamente em outros casos (“ele e ela “sempre vão virar “os dois” quando a gente está com preguiça de escrever, e nunca “as duas”); mas já achei muito complicado escrever o que escrevi.

Há, claro, algumas exceções (vi um estatuto que dizia “as mulheres e os homens do...” numa associação comum, que não tem nada a ver com feminismo, mas com problemas sociais em geral) e uma delas, que acho incrível, são os sites que usam a “@” para abranger tanto o feminino quanto o masculino.

Infelizmente, a “@” só é usada na internet, e também somente em sites feministas ou sobre qualquer coisa, mas feitos por mulheres.

Acho que seria demais esperar que a nossa língua reconheça de uma vez por todas que a mulher, definitivamente, não saiu de uma costela do Adão, mas, por outro lado, quando Aristóteles iria imaginar que um dia as mulheres poderiam manter o sobrenome de batismo num casamento?



Ps.: sei que escrever isso não vai mudar o mundo, mas eu tinha vontade de dizer isso.
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