IRRACIONAIS
(somos todos irracionais)
Atados pelo mesmo laço,
Andando no mesmo passo,
Passeiam pela avenida
Dois nutridos, bem fornidos,
Animais.
Pela mesma avenida,
Na tarde que morre,
Volta pra casa distante,
Distante de casa,
Um pobre menino.
Um passo a mais e sobre ele,
Sobre ele, avança,
A fera de enormes caninos!
Um susto apenas...
Apenas... que susto!
Quando por ele passo,
O menino sorri pra mim
Um sorriso branco e puro,
Que sua pele escura
Só faz realçar!
Às vezes – afirmam santos e sábios,
É permitido matar!
Eu mataria!
Mataria?
Eu não mato!
Nem mato, nem falo,
De ofensas que só eu (?) percebo.
Me calo e prossigo, levando comigo
A vergonha da minha muda,
Indigna-ação!
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