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cronicas-->Ausência -- 24/02/2005 - 11:34 (osvaldo onofre) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ausência...

Nico pensou logo cedo em ir à praia, para mais uma das suas atléticas e saudáveis, e por que não dizer, romànticas caminhadas matinais. Como era domingo, estava reticente: descansar um pouco mais, relaxar descuidadamente, ou seguir agreste, vencendo os últimos sinais de sono.

Na verdade Nico (de batismo, Nicodemos), tinha outros receios, pois acordar para ele nunca fora problema. Dorme pouco, bem, mas pouco, notívago que é. Um aperto no coração lhe deixara ensimesmado, inseguro, já que não tinha nenhuma certeza de que sua Rosinha cumpriria igual maratona, afinal ela era a razão maior dele açoitar com admirável determinação aquela áspera e longa via asfáltica todas as manhãs, ou quase. Ela houvera dito, no dia anterior, com a gentileza e meiguice que lhe são peculiares: domingo você sabe que eu não ando, tiro prá descansar um pouco mais, fico relaxando; se quiser vá só (e priu!)

Apesar da sentença clara e incisiva, Nico não se fez de rogado e não se rendeu às dúvidas, enfrentou-as, afinal de contas nada impediria Rosinha de mudar de idéia, ela era dona de suas ventas e poderia muito bem ter decidido fazer-lhe uma surpresa, e que grata surpresa!

Otimista de carteirinha e perseverante contumaz, tudo estava, enfim, decidido: à caminhada. Atravessou as ruas iniciais calmo e calculista, como quem colhe e cata feijão. E mais: por Rosinha, ainda que em sonho, ele já se sabia capaz de mergulhar de cabeça, mesmo sem saber nadar, numa piscina, como faz um homem-bomba, pulando do trampolim mais alto dele mesmo, sem salva-vidas, sem pára-quedas, sem perguntar e sem sequer pensar se lá embaixo encontraria água ou apenas o cimento vazio, como dissera um poeta.

A avenida pareceu, logo nos primeiros metros, muito mais longa, acho que devido ao semblante dorminhoco do domingo, presente nos olhos e tez dos poucos andarilhos que insistiam, pelos mais diversos motivos, em se entregar àquela manhã de maré alta, sonora, ritmada no encontro de água e pedras.

Induzido pelos raios cortantes daquele sol preguiçoso, aliado à sua sabida deficiência visual, Nico vislumbrava, aqui e acolá, em outras mulheres, a imagem de sua Rosinha ao longe, as suas formas, o seu estilo de caminhar, o seu cabelo que ele adora, aquele leve empeno no ombro esquerdo, braçadas militares, constantes, e dava asas ao coração que por pouco não ribombava a ponto de denunciar-se aos anónimos companheiros de amanhecer. Pareciam, sim, ao longe (foram várias vezes), mas de perto estavam longe de assemelhar-se às feições mais queridas, quase angelicais de sua Rosa. E a cada desenlace, uma dolorosa frustração.

Ele se precipitou, é verdade, pois fora devidamente advertido de que se fosse, andaria sozinho, disso não se deixou dúvidas. Todavia, Nico é assim, diferente, capaz de ir além do previsto, romàntico a mais da conta, atrevido, capaz de lançar-se sem esperar a ponte concluir, já que se deixou incendiar com estranha facilidade.

Ele pensou o que teria feito se fosse ele: faria uma surpresa, e para atestar o seu bem-querer, violaria as regras de sua càmara íntima com um único e inestimável objetivo: fazer a sua Rosinha transbordar de alegria, ou se isso fosse muita presunção -- achar que ele, Nico, poderia ensejar tal alegria --, demonstrar pelo menos sua disposição de sacrifício, de cessão, pois entende que só desse jeito se constrói a felicidade e se transcende a paixão.

O tempo passou, o dia andava a passos largos, o sol estava semi-escaldante. Os informais se preparavam para montar o cenário dos banhistas, suas tendas, cadeiras, as bebidas afogadas no gelo. Nico completou o percurso, suado e triste. Sua decisão, espontànea e unilateral daquele domingo, era o álibi perfeito para Rosinha, dela não poderia, como não pode, compartilhar culpas. Ela disse-o no mais claro português: não vou. É suficiente. A culpa é de quem sonha!

Nico foi retornando, e só aquele "diabinho" azucrinando no seu ouvido: "Quem manda ser babaca, seu destrambelhado, pensar que todo mundo entra nessa de ser fantasioso, lírico, sonhador; isso é coisa de romance, de filme, vai prá casa toma um banho e vê se aprende, ta?"

Nico foi embora, mas o que o "diabinho" disse entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Ele é assim mesmo, e disso não abre mão. E Rosinha ? Ah!, prá ela ele guardou um buquê de lindas rosas vermelhas e um grande beijo, e um lugarzinho no fundo do seu coração.
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