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cronicas-->MEU QUERIDO ZIMBA memorial em homenagem a Zbigniew Ziembinsk -- 24/02/2005 - 14:14 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU QUERIDO ZIMBA
(memorial em homenagem a Zbigniew Ziembinsky)

Antonio Miranda


Era feio, desproporcional. Agidoce. Como todo diretor de teatro de verdade, ia da doçura ao histerismo. No caso dele, sem perder a ternura...

Zimba era o apelido para os mais íntimos. Eu era muito jovem quando tive o privilégio de conhecê-lo, no final dos anos 50, no Rio de Janeiro, onde morávamos. Eu tinha meus 17 anos mas parecia ter bem menos; ele entrava na casa dos 50 mas parecia bem mais velho. Ninguém entendia a relação entre um "velho e um jovem", naquela época de preconceitos, mesmo numa cidade dita liberal como o Rio de Janeiro. As vizinhas de minha mãe advertiam para aquele desequilíbrio de idades, quando o querido Zimba vinha à minha casa e quando saíamos juntos. Minha mãe o adorava. Faço o registro para mostrar como a capital intelectual e artística do Brasil não era assim tão tolerante, embora estivesse na vanguarda das artes e dos costumes...

Eu já escrevia meus versos e tentava a dramaturgia. Apresentei a ele um texto incipiente que eu havia escrito. Fez leitura pública com alunos de teatro. Foi um tremendo estímulo para mim. Achava muito ousado, até escandaloso o que eu escrevia e me deu orientações valiosas. Mas aprendi mesmo foi assistindo aos espetáculos que ele montava e aos que se apresentava na cidade. Pirandello, Anhouil, Shakespeare, Arthur Miller, Tennessee Williams, Ionesco. Nunca me esqueço das peças que assistia (dirigidas por ele ou por outros) com atrizes e atores tão espetaculares como Cacilda Becker, Tónia Carrero, Adolfo Celi, Paulo Autran, Glauce Rocha, nos teatros daquela época: no Ginástico, na Aliance Française, no Mesbla. E não raras vezes fia a restaurantes na companhia daquelas estrelas... Era o auge de uma geração nova de artistas de teatro, que o Zimba havia ajudado a criar. Mas ainda existia o teatro mais tradicional de "estrelismos" e também o teatro rebolado e as comédias de costumes triviais por toda parte. Mas Ziembinsky, seu nome público, era uma celebridade como diretor e como ator. Na minha fascinação por ele e pelo mundo que ele me descortinava, não avaliava exatamente o que aquilo realmente significava para as artes cênicas brasileiras.

Ziembinsky era polonês, com um sotaque indisfarçável, que ele mantinha nas interpretações no teatro e na televisão. Chegara ao Brasil em 1941, com uma experiência teatral que foi útil para sua consagração, principalmente por ter-se associado a grupos emergentes de inegável vontade de renovação. Primeiro com "Os Comediantes" e mais tarde com o famoso Teatro Brasileiro de Comédia - o TBC, do empresário Franco Zampari. Além de iniciar a iluminação no teatro com vigor dramático, Ziembinsky tocou o teatro de repertório, com atores novos, talentosos, sem os vícios do teatro comercial da época. O verdadeiro reconhecimento veio depois da polêmica montagem de Vestido de Noiva, do Nelson Rodrigues, autor que marcou toda uma época de nossa cultura (e a minha formação em particular). [Não assisti aquele célebre espetáculo, pois eu tinha apenas 3 anos de idade quando aconteceu a estréia da peça, que se tornou o divisor de águas de nossa dramaturgia. Mas assisti a outras estréias do grande Nelson, principalmente do inesquecível espetáculo Os Sete Gatinhos, que me impressionou muito).

Mas no final da década de 50 e início da década de 60, havia um movimento teatral novo, mais engajado politicamente, com uma renovação da linguagem e das encenações. Ziembinsky ficou de fora. Zimba regressa à Polónia em 1963, onde não consegue readaptar-se e volta ao Brasil. Desde então só acompanhei a trajetória dele pela televisão, por tornar-se um dos atores mais destacados na florescente indústria de novelas. Vivi fora do país, de 1966 a 1972, época em que ele era ícone televisivo. Como não tenho o costume de ver novelas, não posso julgar o trabalho dele naquela fase de sua vida. Mas foi, sem dúvida, um renascimento de garantido reconhecimento público e financeiro mas que o afastou das grandes e ousadas montagens teatrais do passado.

Não sou muito dado a saudosismos. Mas sempre que vejo uma foto de Zimba fico muito emocionado, triste, com um certo desassossego. (Chácara Irecê, fev. 2005)
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