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Cronicas-->A arte da decepção -- 24/02/2005 - 16:14 (Marissom Ricardo Roso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Aqueles que se movimentam na esfera pública em função de interesses particulares exercitam um tipo de atividade que poderia ser classificada como "apolítica", posto que se afastam do objeto que deveria definir a política por excelência; a saber: o interesse público. Ao que tudo indica, a conduta política definida pela aposta em favor do "bem público" e regrada por princípios morais é uma atividade em extinção. Na verdade, a maior parte do que se convencionou chamar de "política" no mundo moderno encontra-se limitada no espaço demarcado por três atividades: a do comércio, a do ilusionismo e a do cálculo. (Marcos Rolim - Sinal dos Tempos)

A política, na visão de Sócrates e Platão, seria a cura dos males da sociedade, uma espécie de parteira da felicidade para os cidadãos e os estados. Já Epicuro, enojado da politicagem do seu tempo, pregava que "a vida política constituía a ruína da felicidade".

Acredito que os filósofos gregos, já naquela época, haviam percebido que a política, apesar de fundamentalmente necessária para a construção das sociedades democráticas, acabaria por tornar-se a arte da decepção. Mesmo assim, creio que não imaginassem que chegaríamos a tanto.

As decepções políticas ao longo dos tempos foram muitas, mas elas têm sido muito mais duras para os idealistas, diante desta situação atual "sui generis" na política nacional, tanto que só resta a estes tomar uma decisão dramática, inteiramente diferente do analfabetismo político por ignorància ao qual se referiu Brecht. Ou os idealistas vendem suas almas, abdicando de seus ideais em busca da felicidade, ou então, radicalizam, omitindo-se comodamente, permanecendo puros, porém, cada vez mais infelizes.

Diante do triste quadro de nossa política partidária, onde tudo virou um jogo de interesses pessoais, aqueles que não se dobram, tornam-se vítimas de vilanias e armadilhas desmoralizantes, ou então, acabam isolados na solidão do poder, até ir parar no limbo dos relegados ao ostracismo.

Maquiavel deve envergonhar-se ao ver suas lições ao Príncipe sendo aplicadas com maestria por alunos tão dedicados e cruéis, que acabam ganhando muito com a política, e a política, infelizmente, não ganhando nada com estes profissionais.

Nossa impotência se revela assustadora diante da descoberta de que a sentença arrogante proferida por Nietzche de que Deus está morto, emendada mais tarde pelo sarcasmo cirúrgico de Foucault de que o homem também está, somos agora, governados pelo deus Mercado, o qual impõe limites ao mais puros e bem intencionados governantes, tornando-os vítima de uma ditadura económica que fere de morte qualquer democracia, transformando os vilões de ontem nos heróis de hoje.

Nenhuma cidade pode viver feliz e em paz, observava Platão, quando seus cidadãos acreditam que a felicidade está na busca, sem limites, do consumo e do luxo, pois os pilares de um verdadeiro sistema de vida feliz está na busca da virtude, da qual unicamente pode nascer a felicidade. Infelizmente, a política se transformou na arte da decepção, pois nos parece que só é feliz na política aquele que faz dela um negócio. É desolador constatar que a salvação de nossos princípios está no confortável analfabetismo político. Ou seja, não fazer parte disto.

Talvez tenha chegado o momento em que, por amor à política, tenhamos de escolher entre o conformismo de sermos ignorantes o bastante para acreditar que tudo que muda, o faz só na aparência, ou então, o romantismo de que mais uma vez está o homem se confrontando com seus limites, tendo cada vez mais do mesmo.

Depois desta escandalosa aula de fisiologismo aplicada por trezentos deputados (por ironia, 300, como "os 300 picaretas" da música do Paralamas) na Càmara Federal, culminando com a eleição para a sua presidência de tragicómica figura folclórica que representa o que há de pior na política (comércio, ilusionismo e cálculo), está cada vez mais fácil acreditar que virtude e política não combinam.

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