Usina de Letras
Usina de Letras
156 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62210 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140797)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->O MÁGICO MISTER M -- 24/02/2005 - 16:46 (Marco Aurélio Bocaccio Piscitelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pensamento vacila, embirra, empaca como o animal que não se deixa levar.

Este texto, escrito em julho/1999, demonstrou pouco apetite para se mostrar.

Hoje, ao encontrá-lo embaralhado pelas sucessivas mexidas de procura e descarte de papéis, noto que ele se desfez da macicez daquele presente invasor e arbitrário, para atravessar o passado num fio de tempo que prescinde da vara de equilíbrio.


O AUTOR, EM FEVEREIRO DE 2005.



O Mágico Mister M




Quero confessar minha admiração de tiete por esse mascarado que derrama magia nas noites de domingo pela TV. Criticado como um espertalhão do ilusionismo, segundo time de Las Vegas, estaria enricando e melando o ganha-pão de seus pares. Ele revela os segredos que se escondem por trás dos grandes espetáculos de mágica. Quebra o código silêncio da classe. Quebraria o código de sobrevivência da profissão. Uma desonra, um delito, que já lhe valeram processos, retiradas do ar, mais investidas contra sua cabeça. Seria Mister M um impostor por ficar magicando ciladas para embaralhar nosso senso comum? Creio não ser bem assim.

Que faz demais Mister M? Por que é um "desmancha-prazeres", inimigo dos mágicos? Por encarnar o dom supremo de revelar? De velar por nossas ansiedades? De acabar com nossas ilusões - fixações primitivas - para dar espaço a novos e robustecidos ímpetos exploratórios?

Nossa vida é marcada persistentemente pela busca de revelações. A alma é curiosidade insaciável. Persegue as ditas verdadeiras e quase sempre se conforma ou se conforta com as fictícias. Que sirvam de ilustração as profecias de Nostradamus, os evangelhos, os segredos de Fátima - quanto esforço para arrancar o terceiro do Vaticano -, os insights alcançados no processo psicanalítico, ou mesmo os avanços mais modestos da psicoterapia. E quando tudo isso parece pouco, as previsões, os prognósticos de loterias, búzios, tarós, numerologias, linhas da mão...o socorro da auto-ajuda e todo o repertório esotérico. Promessas de políticos, milagres de planos económicos, crenças sedutoras em vida além-túmulo.
Em vez do clássico truque isolado, o truque com o segredo exibido logo após. Mister M, sabe o que incomoda? Por que ninguém pensou nisso antes?

Mister M, você é acusado de um quebra-quebra. Quebrou o código de honra, a ética de uma prática milenar. Que ética é essa? A da transparência sonora de palavras voláteis? A das máfias, cartéis, órgãos de inteligência, a dos governos tiranos? Não, decididamente não. Você age como um nobre que expõe sua mestria. Como um escritor que se deixa folhear sem ver a sua inspiração surrupiada. Como um cozinheiro que oferece os ingredientes e o preparo de seus pratos para uma clientela cada vez mais cativa, ávida de passeios gustativos.

Mister M, você é um mágico de verdade: mata a cobra e mostra o pau. Você faz e desfaz. É um paladino da antiviolência. Faz horrores, mas tudo é suave. Ninguém se machuca. Seu show é íntegro. O que desaparece volta por inteiro. É limpo, não tem armação. Mostra a arte séria de simular, de parecer ser. Em seguida, num passe de mágica, você brinca de revelar o drible da nossa percepção em càmara lenta. E nós continuamos boquiabertos.

Você, senhor de todos os poderes de arrebatar platéias, rompe a monotonia reinante. Impõe trabalho redobrado a antigos e neófitos prestidigitadores. A indagar: o cinema perde a sua majestade só porque é uma sucessão de quadros estáticos na velocidade que engana nosso olhar?

Você, M Grande de Mister e de Mágico, abala a permanência de um mundo até aqui tranquilo. Espalha pànico em campos além do seu. Imaginem se os bons dentistas vão atazanar-se com a redução drástica das cáries promovida pelo flúor. Claro, sempre há os que se sustentam no ofício de amalgamar metais para reparar buracos. A esses, nossas condolências por falta de ter o que fazer. Alguns mágicos também patentearam o direito de impressionar com o imutável. Suas aparições são garantidas pelas pencas de chaves que carregam nos bolsos e cinturas.

O mundo da mágica continua a existir quando Mister M nos conduz aos bastidores de sua alquimia. Por alguma razão mágica, sempre que o mesmo truque se repete, é como se a gente tivesse passado por uma amnésia de dissolução das lembranças. Recai-se na primeira vez dos contos de fada. Ali, onde nossos sentidos acolhiam o mundo com a pureza dos sentimentos e a delicadeza lúdica das intenções.

Portanto, não há o que termer ou punir. Há que rever as ilusões, reabastecer as idéias de imaginação.

Assistir à levitação de uma mulher ou ao seu corte ao meio é sempre um espetáculo verdadeiro. As coisas acontecem; nós as testemunhamos. Tudo é muito rápido e insólito. Quando nos recuperamos, é tarde. A racionalidade foi ferida de dúvida. No sobressalto de decifrar, somos derrubados pelas acrobacias das emoções. Como foi possível? Não, não é possível!



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui