Navegante,
Afoga teus motores,
Descansa por um instante teus homens,
Teus remos,
Detém teu navegar.
Parado, pensa, reflita, responda:
Acaso deveras conheces
As águas cantantes do rio,
As ondas revoltas do mar?
Navegante,
Aqui da margem percebo
Que o rio por onde navegas,
O suave leito em que flutuas,
E feito somente de gotas!
Pérolas coloridas, saltitantes,
Mas gotas somente,
Alegres,
Cantando ao passar!
Navegante,
Já que tão bem as conhece,
Em forma de rios,
Em forma de mar,
Permita coisa intrigante
Agora te perguntar?
De onde vem a alegria que sentem
Nessa melodiosa descida de rio,
Nesse alegre caminho do mar!
Navegante,
Será que todas pretendem
Retornar às fontes e rios,
Em forma de nuvem saída do mar?
E voltar a correr sobre as terras,
Dar de beber, alimentar,
E nisso ser planta, ser homem,
Ser pássaro,
Novamente voar?
Navegante,
Se gotas tão puras de origem,
Por que retornar?
Será que, voltando, pretendem,
Noutras plagas, noutros seres.
Enfim vislumbrar,
A amplidão de ser,
do próprio Ser,
Nesse tudo ser, conhecer, experimentar?
Navegante,
Minha alma bem vivida,
Confesso, já sente,
A certeza ainda longínqua,
Mas firme, de também retornar!
E consciente, contente, feliz,
Tudo recomeçar,
Como essas águas que passam
De novo a caminho do mar!
Navegante,
Numa ultima pergunta,
Permita-me prestar
Minha homenagem ao poeta
Dos caminhos e do caminhar:
Entre tantas águas, destinos,
Sendas vividas na terra, na água e no ar,
Existem deveras destinos, caminhos,
Ou caminhos se fazem ao navegar?
|