| No deserto o experiente carrasco, vestido de tentação, ofereceu o poder. “Jovem, sei que tens adormecidos em sua consciência os piores pesadelos. Todos nós os temos. Dê-me seu livro vermelho, assim terás uma vida equalizada, coerente com a conveniência do poder que estiver vigente. Dê-me o livro vermelho e mostre-me sua faceta mais virginal – a sensatez”. O jovem olhou bem para as cédulas novinhas e mal cheirosas e respirou bastante. Pegou do colo o livro vermelho e apertou contra o próprio peito, depois crivou um olhar mortífero contra o experiente carrasco e falou. “Demônio, afaste-se de mim com sua tentação. No seu pântano de desgraçados jaz uma horda de aduladores, não precisas de mim! Demônio, minta para outro. Pois de mim, meus pesadelos, os piores, levarei para a tumba – são eles suas incontáveis mentiras, o mosaico de sua faceta mais original – a desonestidade. Se não tens um livro vermelho porque nunca o procurastes, não haverias de encontrar jamais na fonte que jorra de seu senso de justiça impraticável, distópico, despótico”. |
