MORRA LOGO, MÃE, SUA CASQUINHA... EU QUERO É MINHA HERANÇA !!!
Minha mãe morreu em 1o de março deste ano, dia do aniversário de chopin - artista que ela mais admirava.
Meu pai era um zero à esquerda mais prá baixo um pouco, que lecionava educação física em uma escola pública de 1o Grau - isso é lá emprego de homem de verdade? Era um bunda mole. Não sei como eu e meus irmãos não demos prá veado ou assassino de celebridade.
Minha mãe, aquela piranha, que nos anos 60 fumou, nos 70 cheirou, nos 80 bebeu, nos anos 90 roubou, virou Patinhas e no ano 2000 já fazia trambique nas salas do Uol; Nada podia deter aquele temperamento insuportável e atroz contra tudo que estivesse vivo - com exceção da própria morte.
Adorava fazer o papel que mais amava: ser casquinha e com o cu cheio de dinheiro; tudo com decoração fúnebre e com requintes de "art nouveau" decadente; ridículas as formas da minha mãe se distrair. Mas ela tinha bom gosto, a filha da puta.
Só ouvia clássicos, só lia os clássicos, só assistia aos clássicos. Nossa casa sempre foi uma salada de frutas de alta qualidade: Monet, Fellini, Brahms, Visconti, Kafka, Delacroix ou Kieslovsky moravam em nossa residência sem pagar hipoteca. Nisso ela era admirável.
Mas não adiantava; era uma chata. De carteirinha e tudo. Daquele tipo de ser estranho que nunca sabe quando morrer. Eu torcia para que fosse logo. E quando aconteceu foi uma festa.
Eu e meus irmãos - somos cinco - no funeral, fazíamo-nos de inconsolados, mas já pensando em botar a mão na grana da véia. Foi um espetáculo! Cada um mostrou sua natureza doentia depois de pegar a herança.
Minha irmã Flávia ( dona de casa conformada ) mandou matar o marido e abriu uma boate gay em Honolulu - hoje mora numa casa de frente pro mar com seu caso, uma mulher de dois metros ;
Meu irmão Teodoro ( agitador, comunista ) largou o sindicato, virou pseudo-intelectual, comprou um castelo isolado em Manchester, contratou mordomo, se cercou de livros capa dura, negou a tecnologia, só usava telefone de disco e fio, luz de vela, passou a fumar cachimbo, a usar bigodes longos, não saía mais de casa e só usava pijamas ;
Meu outro irmão Fábio ( crente simples e humilde ) largou a igreja, comprou uma ilha particular com 20 embarcações e se transformou em um dos generais do cartel de tráfico de drogas, casou com uma criança de 11 anos e fundou um clube na internet sobre pedofilia e outras aberrações;
Minha outra irmã Patricia ( metida à besta, advogada, bossal ), abandonou o escritório, pegou a mufunfa, se mandou para uma aldeia hippie isolada nas ilhas britânicas, passou a usar roupas folgadas e velhas, a andar com pobre e comer mato.
Francamente, será que minha mãe tinha razão em ser ranzinza e casquinha? bem... Que a alma dela vá à merda e deixe a gente em paz com a herança, fazendo a bosta que a gente quiser.
Eu, que sei, que me piquei do Brasil, mandei o patrão tomar no cu e realizei meu sonho de morar no centro da cidade de Paris, vivendo como escritor de cocô que é publicado numa revista de sub-cultura vendida numa dessas bancas que vende de jornal à ovo.
