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Contos-->B R A S I L -- 15/03/2001 - 06:04 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aqueles homens esquisitos, com suas roupas nunca vistas com paus de fogo foram logo disparando trovões que faziam brotar o sangue e a morte da nossa gente, estavam chegando de novo.
Pegavam-nos e punham-nos a ferros. Com chicotes batiam-nos como se fôssemos burros ou mulas.
Depois de alguns dias, quando nós já presos e indefesos, com fome estávamos, fomos metidos em um porão sujo e mal ventilado que cheirava merda e mijo.
E então me parece que tudo começou a se mover. Lá em cima haviam vozes. Ouviamos seus passos. Os gritos eram de uns para outros. Uns mandavam outros, creio a grande maioria obedeciam. Chingavam-se. Ofendiam-se.
E aquele ruído de madeira roçando em madeira? Aquilo era de enlouquecer.
Alí naquele porão, nos jogavam água. Bebíamos mal e porcamente. Os alimentos eram deglutidos sob o clima de bosta, de fezes. A ordem era que defecássemos nos latões. Mas como fazer isso durante uma crise de diarréia?
De vêz em quando vinha um daqueles homens barbados, com aqueles chapelões e chicote na mão. Gritava contra nós. Batía-nos.
Muitos de nós morreram durante o balanço no mar.
Os corpos eram jogados da murada para baixo.
O choro e o ranger de dentes era insuportável. Brigavamos entre nós mesmos. Nos culpava-mos por termos nos deixado capturar. E veja só agora o que estava acontecendo.
Aquele navio tinha um pouco menos do que trinta metros. Tinha mais ou menos oito metros de largura. Pesava algumas toneladas e carregava além de parte da minha tribo outras cento e tantas almas brancas.
Quando não havia vento eles demonstravam impaciência. Ficavam irritados e discutiam. Os mais irados, quando incontidos, vinham até nós e descarregavam aquela ira toda em nossas costas com cacetes enormes.
Não foi muito fácil não. Mas haviamos chegado. Não pudemos apreciar a beleza da terra, mesmo porque não havia saúde para contemplações.
Fomos chegando e o pau foi comendo. Era pancada que não acabava mais. Todo dia era surra de manhã e surra à tarde.
E a comida ? Uma bosta.
Tinhamos que trabalhar na enxada. Carpía-mos aquelas lavouras de cana.
Era uma tristeza que dava dó.
Quando aprendí a entender o que diziam aqueles homens mandões, pude perceber que eles estavam preocupados. Dizia um deles que numa tal de Inglaterra estavam fazendo máquinas que trabalhavam no lugar dos braços humanos. Num tal de Estados Unidos aplicavam aquele maquinário a vapor prá trabalhar. Não conseguí entender o resto da conversa porque o feitor chegou dando chibatada. Mandando a gente trabalhar. Se mexer.
Eles moravam numa casa grande. Nós viviamos amontoados numa espécie de barracão.
Tinha um homenzinho que vestia uma saia preta que de vez em quando vinha até nossa gente. Caminhava pelo amontoado das nossas coisas e falava de um tal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu acreditava.
Ele dizia que teríamos a vida eterna. Que podíamos crer.
E assim tudo transcorreu até que completei trinta anos. Me sentia velho e acabado. Daqueles que vieram comigo não restava mais ninguém. Todos estavam mortos e enterrados. Haviam os filhos dos parentes. A criançada estava crescendo. E já aprendia a obedecer sob o comando forte e a pancada no lombo.
Onde terminaria tudo aquilo? Como seria o futuro de nossa gente?
Sob o comando de quem colocariamos o nosso destino? De Franceses ou Americanos?
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