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Contos-->O Tropeiro -- 19/11/2007 - 23:23 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Telegrafei a “ti” Mariano dizendo que tava fazendo bom negócio. E era verdade, vendi tudo. Montei num jumento velho e arribei pra casa. Na estrada, encontrei dois rapazes tangendo uma grande tropa. Perguntei de onde é essa tropa?
- É de Picos. Vamos levando pra vender no Maranhão.
Troquei com eles o jumento velho por um novo, mas era franco, não agüentou a viagem e fui à pé tocando. Deixei a tropa sair primeiro, lá na frente encontrei um rapaz a pé levando quatro animais arreados. Perguntei de onde é essa tropa. É de Aparecida. Mas não perguntei quem era o dono! Sabia que Cândido Cipriano morava lá, mas quando fui morar no Santo Antonio, ele já tinha se mudado pra Aparecida. Passei adiante, quando cheguei lá na frente encontrei uma pessoa a cavalo e um rapaz montado acompanhando. Aí desconfiei e perguntei:
- Manuel ou Cândido Cipriano?
- Cândido.
Ele também não me conheceu. Perguntou, e o Senhor, quem é? Quando eu disse, ele desceu do animal e me deu um grande abraço. Ia me casar com uma cunhada dele, faltavam poucos dias.
- Onde você encontrou um rapaz tocando quatro animais com quatro jogos de mala.
- Daqui a mais de légua!
Ele disse ao rapaz. “Apeie e deixe as armas. Vá em meu animal que é mais ligeiro. Atalhe a tropa e mande voltar.”
- Não faça isso! A tropa já vai longe!
- Não tem disso. Ele respondeu.
O rapaz saiu galopando, trouxe a tropa e nós descansamos juntos. Saímos de tardinha, um pra lá outro pra cá. Cortei estrada, quando cheguei nessa cidade depois de Pedreiras, sei o nome dela, já passei lá diversas vezes, mas agora não me lembro. Vendi o jumento por pouco mais ou nada. Não apurei nem o dinheiro da sela. Toquei numa estrada desconhecida. Nunca tinha andado nela. Não tinha estrada não, era vereda. Parei pra descansar, já estava ficando de noite. Parei porque tava cansado e também temendo algum mau elemento. Era perigoso viajar naquela hora, só tinha casa cinco ou seis léguas uma da outra. Era perigoso ter ladrão esperando pra roubar ou matar, se não conseguisse roubar sem matar. Todo dia arranchava cedo da noite, mas saia de madrugada. Nesta viagem, vim dá em rancho conhecido, de Colinas pra cá. Parei num ponto conhecido.
- Seu fulano. Vou sair de madrugada.
- A hora que você quiser. Mas quando sair feche a porta!
Levantei de madrugada, peguei minhas coisas, saí e fechei a porta. No amanhecer do dia, avistei uma grande fazenda. O dono não dava hospedagem pra ninguém mas fez uma casa na beira da estrada. Quem quisesse arranjar, arranchasse lá. Tinha uma tropa parada. Encostei e perguntei de quem é essa tropa? “É de fulano te tal lá dos Picos” Não conhecia.
- E vocês?
- Fulano e Fulano.
Disse quem eu era e onde morava, e um deles respondeu.
- Nós somos do Riachão , passamos dentro do Rodeador, André Ramos falou que Mariano Grande recebeu um telegrama seu, dizendo que estava fazendo bom negócio.
Nisso, chega um rapaz à pé, com uma matula nas costas e uma garrafa de cachaça espontando.
- Bom-dia!
- Bom-dia.
Ficamos por ali. Ele ouviu a conversa toda. Assim que a tropa saiu, fiz finca pra sair. Agora com licença! Vou sair também. Ele me acompanhou.
- Para onde o senhor vai?
- Vou pra Picos
- Pois nós vamos juntos.
- Não, não dá.
- Por quê?
- Tô estropiado e me arrancho cedo!
- Nós vamos juntos. Num gosto de andar sozinho, de noite nós “banha” os pés com água de sal e cachaça...
Andamos só umas duas léguas. Ele disse.
- Vamos parar pra fazer a bóia. Um faz o almoço e o outro faz a janta.
Pensei. Vou fazer o almoço com meus mantimentos, se esse danado for embora, não fico devendo nem favor. Fiz o almoço, ele fez a janta. Arranchamos cedo. No outro dia foi do mesmo jeito, eu fiz o almoço, ele fez a janta. Todo dia encostava cedo da noite e saia de madrugada. Parava de ponto em ponto. Dizia que estava estropiado... mas, era medo de malfazejo.
Atravessamos o Parnaíba, cinco ou seis léguas acima de Floriano, e saímos beirando o rio. Lá adiante, ele disse.
- Vamos banhar os pés e os braços e fazer um descanso?
- Vamos!
Meu dinheiro de gastar na viagem tava ficando pouco. Dei as costas pra ele, fiz que tava me lavando, puxei o maço de dinheiro e separei o da viagem, sem contar. Peguei o de gastar na estrada e guardei o outro. Ele viu.
- Você troca um dinheiro pra mim?
- Troco.
Entramos em Floriano, fizemos umas compras e cortamos estrada. Lá adiante, arranchamos num ponto conhecido. No outro dia de madrugada, pegamos a rodagem de Floriano a Picos. Não passou nenhum carro por nós, nem indo nem vindo. Isso é mundo?
Andamos poucas horas.
- Vamos acender um fogo, deixar o dia amanhecer?
- Vamos. Essa estrada é perigosa.
Acendemos um fogo e quando o dia amanheceu viajamos. Adiante, lá pelas oito ou nove horas da manhã, ele tornou falar. “Vamos acender um fogo, assar uma carne, comer com rapadura e fazer um descanso?”
Dava pra puxar mais um pouco, mas concordei. Comemos carne com rapadura e farinha e sentamos na beira do fogo. Acendi um cigarro... ele acendeu outro...
- Agora conte sua história que eu conto a minha.
- É rapaz! Eu moro sete léguas depois de Picos. Levei um carregamento pra Pedreiras e fiz bom negócio. Não adiantava negar. Ele tinha escutado a história do telegrama que passei pra “ti” Mariano.
- Eu sou de Cedro no Ceará. Naquele dia que lhe acompanhei tinha tirado dezoito léguas. Moro em tal cidade do Maranhão. Lá fiz um dano... Minha mulher tá lá. Eu vou pra Cedro, quando chegar, aviso a ela. Ela tem que viajar num cavalo lazão fronteiro peito e anca. Vem com um rapaz num burro cardão, com uma carga de caixão, acompanhando.
Depois disso, perdi mais o medo. Descobri que era um homem direito, tinha até sido soldado do exército. Chegamos no Rodeador, pelejei com ele pra ficar uns dias comigo. Mas ele não demorou. “Não posso. Tenho pressa”. Almoçamos juntos e à tardinha seguiu viagem.
Casei. Com quinze dias de casado viajei pro Maranhão. Quando passei em cima do rasto onde ele me acompanhou naquele dia às seis da manhã, encontrei com ela às seis da tarde. Caminhei só umas duas braças, pelos sinais que ele me deu, conheci que era ela. Voltei.
- É a mulher de Artur Patrício da Silva?
- Sou sim senhor, onde o senhor viu ele?
Eu ia puxando muito porque o rancho mais perto era daí a quatro léguas. Lá era acostumado a pousar. Mas eles não conheciam a estrada, tinham que dormir ali onde estavam. Ela voltou quase chorando. Tinha ficado preocupada com a viagem. Mas ficou sabendo por uma notícia voadeira que o marido tinha pagado um rapaz pra viajar com ele...
- Ele não pagou ninguém na vida. Se alguém deu essa notícia, era eu que tava junto. Ele me acompanhou em cima desse rastro. Viajamos de cima desse rasto até sete léguas depois de Picos.
Ela queria que eu ficasse para contar toda história da viagem. Deu cavaco porque não descansamos juntos. Continuei minha viagem. Cheguei em Carolina fiquei sabendo que do outro lado, tinha um comércio muito grande de um paraense que comprava no atacado tudo que se oferecesse. Atravessei o rio, vendi toda minha mercadoria, mas na travessia o barco afundou com o carregamento. Outros barqueiros recuperaram o alho todo, mas não conseguiram salvar o dono do barco que fazia o transporte.
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