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Contos-->O ramerrame -- 04/12/2007 - 14:22 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ramerrame

Fernando Zocca

A cabeça do Van de Oliveira Grogue não era TV, mas nela, de vez em quando, também passavam alguns filmes. E naquela manhã de três de dezembro, dia seguinte ao decreto da capitis diminutio do Corinthians ele acordara com uma ressaca fenomênica.
Levantou-se, foi ao banheiro, aliviou-se, escovou a dentadura, e voltou para o quarto. No espelho, fixado na lateral do guarda-roupa, notou a barba crescida; aqueles fios brancos denunciavam o transcurso célere do tempo.
As micromoscas que o circundavam indicavam a necessidade de um banho bem demorado. “Sim, com certeza, mas não nesse momento”, pensou ele.
Grogue vestiu a velha camisa vermelha, a calça jeans azul desbotada, o mocassim que ganhara do cunhado rico, e passando um pente nos cabelos anelados, saiu rumo ao seu destino.
A luminosidade matutina fazia-o contrair os músculos da face; fotofóbico ele desconhecia ser aquele incômodo conseqüência da exacerbação na ingesta da mamãe-de-aluana.
Ao chegar perto do bar do Zezinho, Van notou que parte do grupo de paus-d´água arruaceiros, já estava reunida defronte a porta do boteco. Então tudo lhe voltou à mente e, como se fosse num filme, ele reviu as cenas que presenciara na noite anterior: a turba estava irada; xingavam-se uns aos outros e indignados expressavam a revolta por terem levado a pior num confronto com outro bando mais violento.
Na sua cachola Grogue ainda podia ouvir: “Dei uma paulada na cabeça dela!”, que esgoelara uma histérica. “Tem que defender sua nega, ô Manoel!”, que cobrara outro exaltado. “Eu fui pra cima da magrela, Marcão ocê viu?”, que perguntara outro nervoso.
Sacudindo a cabeça, como que disposto a afastar os maus pensamentos, Van de Oliveira Grogue entrou com o pé direito no bar. Nem precisou falar nada, só o olhar significativo indicou, ao comerciante experiente, o produto desejado.
Com um gesto firme Van emborcou o copo fazendo desaparecer, goela abaixo, a esquenta-por-dentro. Então se dirigindo à beirada do balcão apanhou o Diário de Tupinambicas das Linhas que jazia como base de pouso para as moscas.
Olhou a primeira foto e sentiu repugnância. “Esse jornaleco está um nojo!”, pensou ele. Então, virando a capa, olhou os artigos da página dois e três. Percebeu, pelas assinaturas, que os manifestantes eram todos representantes da elite mandante na urbe. Expressavam seus preconceitos, suas aversões e tentavam explicar porque Jarbas o verme das ventosas salientes, deveria ser reeleito.
E lá estava também o fuinho bigodudo expondo, aos leitores, porque merecia acrescentar, mais outra legislatura, ao rol da sua já dispendiosa coleção de cinco.
Vinte anos no poder! Não havia chance pra mais ninguém! Tudo era do fuinho bigodudo o iconoclasta chutador, espancador de imagens.
Absorto Grogue só se incomodou quando surgiu uma nova alteração no ambiente. A discussão entre torcedores logo se transformou em sopapos e pontapés: voaram copos, garrafas, mesas, cadeiras, e até o rádio postado logo ali em cima da prateleira, fixada acima da pia, foi parar no meio da rua. Era o deus-nos-acuda costumeiro subseqüente às derrotas do time, que se manifestava.
Uma jovem, acompanhada pela sobrinha, ainda menina, que entrara no boteco para comprar a sardinha em lata pro almoço, viu-se no meio da balbúrdia e não teve outra alternativa do que a de esconder-se atrás de um cartaz de publicidade de cerveja, que voou por cima da sua cabeça, indo parar no chão, ao lado dos seus pés.
Van de Oliveira Grogue protegendo o cocuruto, com as mãos em concha, pôde atravessar o território, onde os briguentos se atracavam, saindo então à rua.
Longe, lá na esquina, ele pode contabilizar o saldo resultante da desavença: duas garrafadas na costa e dois chutes na canela.
Dos males o menor. Grogue percebeu haver bebedores briguentos que, lançados na calçada, precisariam dos serviços das ambulâncias.
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