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cronicas-->VÃS PREOCUPAÇÕES E FILOSOFIAS BARATAS -- 05/11/2000 - 23:31 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VÃS PREOCUPAÇÕES E FILOSOFIAS BARATAS

Infelizmente, as preocupações fazem parte da nossa vida, desde o começo. A própria idéia de funcionamento do DNA pode ser considerada como uma preocupação: "precisamos manter esta espécie, nem que precisemos esticar seu pescoço até uns quatro metros e pintar seus pêlos de laranja" (foi assim que surgiu a girafa). No nosso caso, quando éramos espermatozóides, nossa preocupação era somente correr. Correr muito, até aquela bola no fundo do túnel, para depois tentar entrar nela a qualquer custo. E as possibilidades eram poucas, nenhuma ferramenta, nem sequer um canivete suíço, nenhum porteiro para subornar... E vocês também devem se lembrar, correr usando só aquele rabinho não foi fácil!
A minha teoria é que a intensidade das preocupações deveria seguir uma trajetória parabólica (pra quem não sabe o que é isso, imagine um torcedor irado arremessando um projétil no juiz - um radinho de pilha ou um chinelo de dedo. A trajetória do projétil com certeza descreverá uma parábola, a não ser que eles estejam no espaço... bom, deixa pra lá...). Dessa forma, nossas preocupações começariam muito pequenas (no nível celular, mesmo), cresceriam então desvairadamente, atingindo um pico e então deveriam começar a cair novamente, chegando a baixíssimos níveis, proporcionados por uma aposentadoria decente e um descanso agradável. Não é o que acontece.
O pequeno bebê, por exemplo. Sua única e exclusiva preocupação é "quero aquele negócio branquinho e gostoso, não interessa que são três da madrugada". Mas logo aparecem outras, mais complexas, como "minha chupeta caiu da minha boca, e agora?" ou "mamãe, socorro, aquele palhaço pendurado ali vai me matar!".
Na escola, as preocupações se multiplicam. Começa fácil, com chuvinhas e onda vai-onda vem, mas de repente aparece a tabuada do sete. Como se não bastasse, aquele gordo do Nelson quer te pegar na hora do recreio e você nem sabe por quê!
Pouco tempo depois, durante a (argh) adolescência, muitas preocupações novas aparecem, como "é normal acontecer tal coisa?", ou "minha voz se parece com a de um ganso" e "que pêlos são esses?". O sexo se torna uma preocupação constante e intensa. O adolescente passa a maior parte do tempo sozinho, "preocupando-se" no banheiro. Algumas até voltam do tempo de bebê, como a amamentação, por exemplo. Logicamente a idéia nesse caso é outra, e não há nenhuma característica alimentícia envolvida.
Preocupam-se se o pai vai emprestar o carro no fim de semana, ou se eles vão ter que pegar escondido, mesmo. Com as provas, com bebedeiras homéricas, com os episódios novos dos Simpsons (ei, eu adoro Simpsons e tenho quase trinta!) e se compram ou não um suspensório pra fazer tipo "acho que vão dizer - lá vem o maquinista do trem!". Preocupam-se com as crateras de óleo que se rompem sem parar de sua pele, mas, claro, não querem nem saber quanto está custando o psicólogo.
Os jovens namorados já se preocupam com outras coisas: se ele está olhando pra outra, ou se ela está olhando pra outro. Se os outros estão olhando pra ela, ou se os outros não estão olhando pra ela, dependendo do caso.
O ápice da preocupação humana acontece logo após o casamento. Além das preocupações triviais, como dinheiro, dinheiro e com o gerente do banco, que não pára de ligar, outras mais profundas preenchem o tempo do casal, como a hora que ele vai voltar do jogo de futebol e quem estava lá no bar. Obviamente, quando chegam os filhos, as preocupações parecem atingir níveis insuportáveis, que vão desde "Mais fralda? Desse jeito eu não aguento!" até "A faculdade subiu de novo? Desse jeito eu não aguento!".
A partir da formatura dos filhos, a parábola de preocupação já deveria começar a descer, pois cada filho teria sua carreira, sua família, suas contas e, principalmente, suas próprias preocupações. É aí que o indivíduo, já maduro e estabilizado, poderia botar seus chinelos, sentar na frente da tv, tirar a camisa e dizer "Pronto, acabei. Agora eles que se virem", mas aí a filha aparece no portão com os netos e ele tem que ficar preocupado para que o Tavinho não enfie um prego na tomada.
Nas filas nos bancos, por exemplo. Bastaria nos aproximarmos do caixa e a fila se abriria, como o Mar Vermelho se abriu a Moisés. O aposentado se dirige ao caixa para receber a sua maravilhosa aposentadoria, que o deixará totalmente despreocupado até o próximo mês, com tudo o que precisa para um descanso tranquilo e satisfatório, incluindo o sorvete do Tavinho. Entra no seu carro e sai dali sem se preocupar com bobagens, como olhar pra trás antes de dar a ré ou com a placa de "pare" na esquina. E pode, enfim, começar a ler aquele livro, ou começar a escrever aquela velha idéia, ou montar aquele aviãozinho, a mexer no computador, enfim, qualquer coisa.
Não é o que acontece. Hoje em dia, às suas próprias preocupações, somam-se as dos filhos e, muitas vezes, a dos netos também. O que é extremamente injusto para quem já perdeu toda a paciência, o dinheiro e os cabelos preocupando-se com o seguro dos carros, com o filho desempregado e a conta da farmácia.
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