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Artigos-->Poesia Visual e Fraternidade -- 16/11/2002 - 20:45 (Ricardo Alfaya) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Poesia Visual: linguagem em busca da fraternidade do olhar







A Poesia Visual constitui não apenas uma nova estrutura formal que se oferece ao fazer poético, mas também um corpo de idéias de onde essa nova estrutura derivou, resultando nos poemas que hoje podem ser apreciados.

Em poesia, a atenção para a importância do aspecto visual do poema se insinua já no Simbolismo. De lá para cá e em profunda ressonância com o avanço das artes gráficas e dos diversos meios de divulgação da palavra impressa, vários poetas, a partir de Mallarmé, começam a perceber que destacar uma palavra em caixa alta, ampliar ou diminuir o espaço entre os versos, distribuir de maneira diversificada o poema numa página são recursos não apenas estéticos, no sentido da visualidade do poema, mas que também interferem tanto no ritmo quanto na significação.

Em relação à palavra, o Concretismo leva tais experimentações a um grau máximo, em poemas impregnados de forte visualidade. Isso em grande parte se deve a uma busca intensiva que havia nos concretistas por uma exatidão, por uma "precisão", digamos assim, da palavra enquanto estrutura poética, relegando a um segundo plano as formas mais discursivas e lógico-lineares de poesia.

O Concretismo surge em 1956, vindo a marcar fortemente a década de 60. Por fim, em 1967 surge um novo movimento, de certa forma resultante da polêmica instaurada com o Concretismo. Trata-se do Poema Processo que teve em Wlademir Dias-Pino um dos principais representantes desse grupo.

O Poema Processo entende que a poesia não se resume à palavra. A poesia é um processo de linguagem. Desse modo, antes de ser palavra, a poesia é idéia. Idéia que, para se materializar em poema, poderá e deverá utilizar todos os recursos de linguagem que se encontrem a seu alcance. Recursos esses que podem ou não incluir a palavra. Em outros termos. Dessa vez, não apenas o verso, como ocorre na poesia concreta, mas a própria palavra torna-se prescindível para a realização de um poema.

Mas o que importa ressaltar aqui é que desde o seu início a Poesia Visual assume uma postura bastante crítica em relação ao "status quo", seja já por sua origem e natureza polêmicas, seja pela ousadia da estrutura de poema que propõe seja, ainda, pela maneira política como virá a utilizar os códigos de linguagem sobre os quais intervém.

O crítico Jair Ferreira dos Santos, em "O Que é Pós-Modernismo" (Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 10 ed., 1991, vol. 165), observa com muita propriedade as características pós-modernistas da poesia visual. Em primeiro lugar, o poema processo/poesia visual não rejeita pura e simplesmente os códigos de linguagem dos "mass-mídia", como tentaram fazer os modernistas com suas propostas de movimento à parte. Ao contrário, a Poesia Visual faz questão de explorar esses códigos de linguagem, venham da publicidade-propaganda, do cinema, das histórias em quadrinhos, dos "out-doors", dos sinais de trânsito, do jornal, da TV, do livro didático, dos "best-sellers". Enfim, o poeta visual recupera aquele espírito devorador-antropofágico, à Oswald & Andrades, o que implica, e isso é muito importante, não apenas assimilar passivamente, mas assimilar criticamente.

Então, fazer Poesia Visual não deverá ser fazer uma coisa "bonitinha", apenas que em lugar de versos se utilizam imagens ou imagens e palavras. A Poesia Visual acontece quando o indivíduo trabalha criticamente os códigos, os processos de linguagem existentes, seja num sentido estético, seja num sentido poético, seja num sentido político, ou mesmo, na fusão desses três elementos, como é comum na poesia de Joaquim Branco, Avelino Araújo, Hugo Pontes, Hugo Mund Jr., Almandrade, J. Cardias, Maynand Sobral, Rubervam du Nascimento, Moacy Cirne, Paulo Bruscky, Márcio Almeida, Omar Pereira, Samaral, Álvaro de Sá, Philadelpho Menezes, apenas para citar alguns dentre os tantos que se dedicam no Brasil a esse gênero.

Ressalte-se, mais uma vez recordando Jair Ferreira dos Santos, que esse aspecto de "apropriação" de códigos, de verdadeira paródia dos processos de linguagem realizado pelo poeta visual, bem como o sentido múltiplo e eclético dessa apropriação somam para caracterizar esse artista como pós-moderno.

Mas a Poesia Visual está longe de ser um movimento meramente nacional. Existe em seu ideário uma proposta universalizante que se apoia justamente no fato de que a imagem à medida que dispensa a palavra ou reduz sua participação ao essencial, torna-a apta a superar o eterno problema da barreira das línguas. E é desse modo que se dá, nas mais diferentes partes do Planeta, o circuito da Mail Art ou Arte Postal, com trocas de postais e poemas visuais e, o que é muito relevante, as exposições que ocorrem a todo momento nos mais diferentes recantos e que democraticamente convidam todos os artistas interessados, em qualquer parte do mundo. Tais exposições não visam premiações ou venda de trabalhos, pois seu objetivo é incentivar a arte participativa, furar o bloqueio imposto pelas galerias, salões e órgãos das instituições oficiais, promovendo o livre intercâmbio entre os povos.



Nota: O texto acima foi impresso em várias publicações como Suplemento Literário de Pernambuco, Correio do Sul de Minas (Varginha-MG), Revista da AABB-Rio e outros.



Ricardo Alfaya



ricardoalfaya@oi.com.br



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