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Artigos-->A SOLIDARIEDADE É UMA POSTURA DE VIDA -- 16/11/2002 - 22:22 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A SOLIDARIEDADE É UMA POSTURA DE VIDA



Venho propor aos meus leitores uma reflexão que, concordo, pesada mas necessária. A inspiração dessa proposta nasceu da matéria do Escritor Júlio César, “MATOU-SE NUM CHAT” (http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=647&cat=Textos_Jurídicos. Fala o colega de um seu amigo que, entrando em desespero, acessou um chat da Net, pediu socorro e não foi atendido por ninguém. Matou-se ali mesmo, com um tiro na boca. E termina Júlio César: “a solidariedade da Net pos-me de luto.”



Li, fiquei arrasada. Não pude acreditar naquilo. Seria ficção? Procurei esclarecimentos e detalhes sobre o caso. Verdadeiro, sim, infelizmente. Jovem ainda, 42 anos. Tinha tendências suicidas, mas procurava ajuda. Fez tratamento psiquiátrico. Desabafava por telefone num serviço humanitário que existe em Portugal, denominado “SOS-Suicídio”. Com o aparecimento da Net e dos Chat, entusiasmou-se com a euforia do virtual, certamente sequioso por companhia. Quando sobreveio o desespero fatal, apelou para o Chat. “PRECISO DE AJUDA: TECLEM COMIGO POR FAVOR.” E ninguém lhe dirigiu a palavra. “SOCORRO! VOU-ME SUICIDAR!!!” Nem resposta...



No dia seguinte apareceu morto. Tinha uma arma (ilegal) e deu um tiro na boca.



Mais detalhes não há. Cada leitor os calculará. Eu temo pensar, mas penso. Um apelo desses, muitas vezes, soa como brincadeira. Pois há os que fazem brincadeiras com coisas tão sérias, eu mesma já vi isso várias vezes.



Mas o problema maior é o preconceito da sociedade. Esse preconceito é mais gerado pelo medo, ou pela angústia que o tema causa nas pessoas. Nada é mais desagradável que esse assunto. Mas ele é uma realidade, principalmente no mundo conturbado em que vivemos. Existem pessoas com tendência ao suicídio e que passam a vida lutando contra o desejo compulsivo da morte. E nós criamos termos como covardia, por exemplo, para nos sentirmos justificados ante o nosso medo. Será covarde alguém que tem a coragem do ato extremo de acabar com a própria vida? Outros se apóiam em frases feitas. Uma das piores é “Cão que ladra não morde”. E ficam acomodados como se essa frase expressasse uma verdade acabada. Alguém nos fala em sua idéia de suicídio e a gente chega a rir do fato acreditando que, se está falando, nunca chegará a concretizá-lo. E um dia somos surpreendidos pela realidade: o suicídio aconteceu, o cão que ladrou mordeu!...



Quero alertar para o perigo dessas atitudes que só reforçam o preconceito. Temos todos – ou devemos ter – uma responsabilidade para com aqueles com quem convivemos. Claro que jamais seremos responsabilizados por um suicídio, mas precisamos ser solidários para tentar evitá-lo, nunca a omissão é o melhor caminho. Quem faz uma afirmação desse tipo sempre é visto como alguém que quer chamar a atenção para si próprio. Se vemos assim, a reação é não ligar, deixar falar. O que poucos pensam é que essa pessoa está mesmo emitindo um grito de SOCORRO. Basta apurar os ouvidos e abrir o coração para perceber isso.



O suicida é um lutador pela vida. A prova da luta é o fato mesmo de estar vivo. E, se luta, é porque ama a vida e quer viver. E perguntarão alguns: e por que dizem querer morrer então? Respondo: porque isso, neles, é compulsão. Conscientemente ele quer mesmo morrer, mas instintivamente não. Pois a vida é instinto e nós o mascaramos com nosso raciocínio.



O chamado suicida em potencial é um doente crônico. Algo como o alcoolismo. O alcoólatra que quer deixar de beber, não pode tomar o primeiro gole. O suicida em potencial não pode deixar que se instale a idéia quando ela surge, porque ela se tornará compulsão e o perigo aumenta muito. Sempre a solidão é um dos fatores que leva ao suicídio. O certo para o suicida é, nessas horas, procurar companhia, falar sobre o assunto até que a necessidade se dilua. Mas como falar se bate de frente com todo o tipo de preconceito? Como poderemos ajudar alguém se não somos capazes de ser solidários?



Vejamos o caso deste homem que pediu socorro no chat. Ele falava sério, mas ninguém foi o suficiente generoso e solidário para lhe dirigir uma palavra. Se pensarmos que o sujeito pode estar brincando, tentemos descobrir isso e, confirmado, passemos-lhe um sabão, pois ele está errado. Não damos a atenção porque não gostamos de parecer ridículos ou ingênuos, caso seja mesmo brincadeira. Mas, se for sério, uma vida salva não valeria o risco de passar por ridículo ou ingênuo?



Este homem não queria morrer. Se quisesse, não pediria socorro. O fato de ninguém no chat lhe dar atenção potencializou seu desejo de morte, pois confirmou que ele realmente estava sozinho, não tinha com quem contar, mesmo virtualmente. Muitas vezes procuramos os motivos que levaram alguém a tirar a própria vida. Tenhamos uma certeza: todo suicida tem um motivo imediato, mas no fundo todos têm uma desilusão profunda em relação ao mundo que os rodeia. As angústias dos homens e do mundo estão sempre presentes em alguém que chega a esse ato extremo.



Daí minha proposta de pensarmos e revermos seriamente nossos conceitos a respeito e nossa posição diante da necessidade de cultivarmos uma solidariedade viril e adulta. Feliz aquele que sabe estender a mão ao outro, que sabe acolher seu sofrimento, mesmo sem entendê-lo. Esse, mesmo sem intenção, poderá já ter salvo e ainda vir a salvar muitas vidas.



Termino lamentando esse fato acontecido em Portugal. Sei que quem me lê fará coro ao meu lamento. Mas não basta lamentar, nem adianta. O que temos é que nos posicionar com sensibilidade diante do problema que se pode apresentar para cada um de nós a qualquer momento. Importante é assumirmos a solidariedade como meta de vida. E casos como esse nos ajudam muito nisso. Deixemos de lado nosso medo mesquinho e o desgaste da angústia, falemos no assunto, troquemos idéias, para que possamos firmar nossos propósitos diante de tanta dor que se nos apresenta diariamente em nossos convívios. A verdadeira solidariedade não é dizer palavras vazias de consolo, mas nossa atitude, nossa capacidade de empatia.



Escritor Júlio César, obrigada por ter trazido esse fato ao nosso conhecimento. E, creia que, com você, todos nós sentimos o peso da responsabilidade e estamos de luto.




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