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Contos-->O amor da Cadela -- 17/03/2001 - 01:11 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“... seria melhor se você morresse.
Sim, é verdade: mas eu vi casas em Bel-Air com grama fresca e verdes piscinas. Desejei mulheres que só os sapatos delas valiam mais dinheiro do que tudo que eu jamais possuí. Vi tacos de golfe na Rua Seis que me davam fome só de pegá-los na mão. Ansiei por uma gravata como um santo pelo perdão. Admirei chapéus na Robinson’s com os mesmos olhos com que os críticos de arte contemplam Miguelângelo.”
Jonh Fante – Pergunte ao pó

Fora assinado, em algum lugar do mundo, por alguém que se acha muito importante, um decreto dizendo que todas as pessoas ainda vivas encontrarão o eterno amor nas próximas vinte e quatro horas do dia tal. E eu, inocente, ou melhor, burra que sou, acreditei.
Não acordei mais cedo. Minhas noites são maiores do que meus dias devido ao meu promiscuo trabalho. Mas, mesmo assim, me produzi toda, tomei um belo banho, passei meu perfume mais caro (que na verdade não paguei uma meréca), fiz um reforçado café da manhã e saí para as ruas à procura de meu eterno amor.
Sorri para muitos homens na rua, até mesmo para os acompanhados de suas mulheres. Vai ver que aquele era o meu! Pisquei e exibi meu corpo para os mais safados. Reparei nas coxas de mulheres carnudas. Ué! O amor não tem preconceitos!
Eu percebia, eu percebia algo muito diferente naquelas pessoas! Em todas! Possuíam um brilho nos olhos como se, realmente, o amor tivesse lhes tocado. E eu lá, andando todo enfeitada, parecendo um daqueles carros cheios de alegorias do carnaval do Rio, cheia de maquiagem e com essa cara de biscate que Deus me deu. Eu nunca conseguiria arrumar um amor sendo o que sou... uma vadia, leviana, vulgar, uma prostituta.
Às vezes eu acho que as pessoas nem me vêem como uma pessoa. Eu assumo, já tive tudo o que mais quis em minha vida, mas nada era meu de verdade. Frequentei hotéis cinco estrelas e comi do bom e do melhor, graças ao dinheiro de clientes, estes velhos gordos e safados ou aquelas garotinhas lésbicas inrrustidas fumantes compulsivas de maconha.
Bem, mas aqui estou! Sentada numa lanchonete barata, tomando uma sobra de café frio e aguado , olhando para todos os lados para ver se encontro alguém que não sei quem é. Muitas pessoas passam, vão e voltam sem ao menos olhar umas para as outras! Será que aquele brilho nos olhos não era apenas uma fantasia minha!? Porra! Só eu pra ser tão idiota e me fuder assim! Só podia viver de dar a bunda mesmo.
Por alguns minutos fiquei lembrando de alguns clientes que me trataram bem. Alguns deles eram bem “boa pinta”. Mas nesse mesmo momento que estou aqui sentada nessa espelunca, todos eles devem estar sorridentes e despreocupados levando seus filhos e mulheres para um lindo dia no parque, com piquenique e tudo mais.
Acho que até o escroto do Denison Borges, aquele pervertido que prometeu me levar pra França, ou o porco do Guilherme Persona estariam bons para mim. E agora, lá vou eu de volta para as ruas, seguindo pelos caminhos mais movimentados da cidade e sendo perseguida por um cachorro feio e pulguento. Os únicos que reparavam em mim demonstravam nojo.
É estranho perceber o quanto mudei meu pensamento durante estes anos todos. Há tempos pensava somente em dinheiro, prazeres, homens poderosos, achava que todos os meus sentimentos estavam guardados dentro da minha calcinha.
Após ler a maldita nota no jornal de ontem sobre esse papo de amor, acordei...ou melhor trombei com a minha decadente realidade. Já ouviram aquela história da merda mole do cavalo manco do bandido!? Pois é, eu sou uma entre várias bactérias da merda. É assim que me sinto.
Parei numa praça. Que aparência horrível! Algumas lágrimas já borraram minha maquiagem. Não suporto mais pensar nesse tal amor... e esse cachorro que não sai daqui! Vou me embora! Vou voltar para casa! Não quero mais pensar nisso!
No caminho de casa fui parada por um casal, os dois de mais ou menos trinta anos. Disseram que estavam feliz e queriam presentear alguém que não conheciam. Aquela história do “amor decretado” só podia ser verdade! Já não estava entendendo mais nada! Então fomos comer num restaurante caríssimo. Os dois me trataram como um rainha, até me beijaram na frente de todo mundo!
Pela janela do restaurante podíamos ver o pulguento deitado, com uma cara de dó, ao lado da roda do carro deles. Acho que estava me esperando.
Nossa, comi feito uma vaca com lombrigas! Comi até umas coisas estranhas que eu nunca tinha visto na vida... e se tivesse visto daria uma chinelada para acabar com a raça daquela coisa pegajosa.
Ao sairmos do restaurante, entramos no carro deles. O pulguento olhou para mim com aquela maldita cara de cachorro chorão e, além de tudo, o desgraçado ainda balançava o rabinho. Ignorei.
Chegamos na casa do rapaz. Parecia a casa da menina da novela da Globo. Tinha um jardim que não dava nem pra ver o fim. A casa era toda branca, cheia de vidros, bem iluminada, com vários empregados bem vestidos e o melhor: muito champanhe, bolachinhas esquisitas e cocaína pra dar e vender! Acho que nunca tinha cheirado tanto na minha vida!
Eu já nem pensava mais naquela história do cara importante que disse que todo mundo ia arrumar alguém para casar e amar de verdade. No fundo no fundo, eu achava que já tinha encontrado meu amor... e ainda por cima, dois! Ele e ela!
Acho que transamos umas quatro ou cinco vezes. Quando eram mais ou menos umas oito da noite, nós estávamos na piscina, ela disse: “Vamos dar o nosso presente agora?”- E eu, curiosa, perguntei: “Ainda tem mais!?”
Sim, tinha mais! A surpresa final! A mais esperada!
Em menos de dez minutos eu estava na rua, totalmente nua, coberta apenas por um roupão de banho sujo com o meu próprio sangue, com o olho esquerdo roxo e o corpo cheio de marcas das pauladas que ele me deu enquanto ela se masturbava com o cabo de uma escova de cabelos.
Essa era a surpresa final! Me jogaram pelada na rua, me bateram, me enganaram e o pior: não me pagaram! A desgraçada gargalhava e ainda gritou alguma coisa parecida com “Feliz dia do encontro, vagabunda!”.
Eu não me lembro de ter chorado até soluçar antes disso. Quando cheguei em casa, já pela madrugada, tomei um banho, comi um pão com manteiga com um copo de leite puro e fiquei pensando sobre o que me aconteceu.
Tudo por causa de um riquinho engravatado que já deve ter sido meu cliente e agora jura fidelidade à sua velha gorda cheia de plásticas, que ameaçou fazer um escândalo na TV caso ele se encontre novamente com uma dessas patricinhas intercambiarias no Clube de Tênis.
Alguns minutos depois, ouvi um barulho na porta da frente. Tive medo, muito medo! Sentia meu coração bater dentro da minha cabeça, minhas mãos feridas tremiam. Cheguei até a suar! Coloquei a mão na maçaneta, assim que abri... vi aquele ser nojento e sujo deitado no meu capacho da entrada, com a mesma cara de dó, com as mesmas doenças e com o mesmo rabinho balançando.
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