Tudo começou com as 8:11, ele chegou correndo, passos largos, cabelos despenteados, sorriso sem culpa nos lábios, entra pelas portas da empresa e vai direto ao local que há vários anos passo o cartão de ponto.
Como é normal, aquele barulhinho tão insignificante, mas dependendo a hora, o momento, os indivíduos que estão por perto o espreitando, aí a coisa muda de figura. Se aquele colega, amigo de todos os momentos, que também passa o cartão, é natural uma brincadeirinha para descontrair.
- O carro furou o pneu? Ou
- A cama estava boa, hei? Ou ainda
- Hei colega, o relógio não despertou?
E por ai vai, intermináveis pergunta para aquele que naquele dia, por sorte do destino, chegou uns pequenos momentos (onze minutos para ser exato) atrasado.
Se porventura quando chegou na empresa, o patrão estiver olhando para a porta e fica observando a sua entrada triunfal na firma, ele continua te olhando, olhando até você passar o cartão na maquininha e ele que nem sempre diz isso, mas nesse dia, que você chegou atrasado ele diz com bom e alto som:
- Bom dia, fulano.
Ele dá uma olhadinha no relógio, e você tem que responder:
- Bom dia, tudo bem?
Conforme o momento, uma desculpa pelo fato acontecido, quando na verdade aconteceu mesmo, vai bem, mas inventar uma desculpa, soa mal, principalmente se você está com o rosto vermelho, e se começar a discorrer sobre o que "aconteceu" sua face ficará ainda mais corada.
Tem dia que o momento é propício, e você procura aquele que com um par de olhos te observou a sua entrada no local de trabalho e relato o ocorrido:
- Olha, tive de chegar neste momento, pois aconteceu um imprevisto.
Se ele perguntar qual, você tem que estar com a resposta na ponta da língua. Se ele não estiver a fim de papo, você é salvo da situação desagradável de relatar o ocorrido.
Lembro-me de um dia, que tudo de errado aconteceu, o relógio não despertou, e por não dormir direito naquela noite, perdeu a hora, toma um copo de leite e sai de casa correndo, encontra o carro com o pneu murcho e verifica que precisa passar no posto mais próximo para encher o pneu, tem um cidadão calibrando o pneu, e pela demora, ele não tem horário pra cumprir, é o caos, todos os semáforos encontram-se fechados (devem ter percebido que eu estaria para passar naquele momento), para o carro na vaga mais próxima e quando sai do carro, encontra alguém conhecido e lhe rouba preciosos momentos e quando entra na firma, pronto, já é tarde.
Mas o pior de tudo, é aquele cara, colega de trabalho encrenqueiro, que vendo você chegar aquela "hora" começa te azucrinar o resto do dia. Sempre que tem uma brecha, lá vai mais um comentário.
- Hei, colega, o que foi que aconteceu?
Se você está de bom humor, você discorre por longos momentos a aventura daquela manhã, mas se o humor estiver mais baixo que o Real brasileiro, pronto, a vaca vai pro brejo, e uma encrenca se inicia naquele momento.
- Qual o problema? Você nunca chegou atrasado aqui na empresa? Por ventura você é o meu patrão agora?
- Puxa, só fiz uma perguntinha.
Enfim, que chega atrasado, fica com o rosto corado, até a primeira rodada de café, pois depois disso, tudo é festa.
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