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Poesias-->PROMESSAS DE ANO NOVO - COMPLETA -- 03/10/2008 - 23:57 (Alfredo Burghi ) |
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PROMESSAS DE ANO NOVO - COMPLETA
Ele - Você poderia estar junto de mim
E preencher parte da solidão
Que de tão grande
Não cabe mais dentro de mim.
Ser parte deste poema
E não a metade que falta neste poema.
Há muito espaço ao meu redor,
Bastante para me incomodar.
Permanente para ter nomes:
Solidão, vazio, liberdade, autonomia...
Suficiente para lhe receber como parte
Nesta vaga em mim, imensa e enorme,
A me sufocar.
Tem tamanho para lhe abraçar
Tem carinho para lhe afagar
E amor para lhe dedicar.
Se você aceitasse ocupar
Meus vazios por pedaços de você,
A cada dia eu conquistaria
Pontos minúsculos de você.
Se você me deixasse fazer
De cada dia um novo dia,
Em todos eles eu lhe amaria
E só a você me dedicaria.
Não é possível que não haja
Uma pequena tristeza em você
Que eu não seja capaz de amenizar.
Um sentimento em você
Que não possa se incomodar
Com o meu sofrimento.
Amor eu não pretendo
Humanidade lhe caberia
Aliás, compaixão já bastaria para preencher
Esta solidão
Que de tão grande
Já não cabe mais dentro de mim.
Se você fosse parte deste poema, a completar os
espaços que faltam...
Em troca eu lhe amaria.
Tudo de mim eu lhe daria
Absolutamente nada lhe faltaria
- Isso eu posso lhe garantir.
Se você murmurar eu ouvirei
Quando pedir eu atenderei
Se emudecer eu respeitarei
Se cantar eu acompanharei,
Se dormir eu a velarei.
E quando acordasse eu a alegraria
Se você ficasse junto de mim
Nesta vaga que me acompanha.
II
Eu penso que emagrecerei
Perdendo a minha solidão.
Mais jovem, seria mais homem,
E cada dia melhor, menos porcaria.
Se você quisesse, e você poderia.
Tristezas eu nunca lhe proporcionaria
E existem tantas nesses nossos dias!...
Dissabores eu lhe pouparia
Todos os amargores eu carregaria e
As mais belas frutas separaria
Para lhe oferecer toda manhã de dia.
E ao entardecer, por nós dois, sozinho
Eu rezaria o Pai Nosso e a Ave Maria.
E para noites calmas com você,
Toda suavidade eu reservaria
Para a minha alma e o meu corpo
E com todo amor eu a beijaria.
Se eu fosse você eu pensaria
E não seria rápido que eu decidiria.
Um tempo longo eu ocuparia
Em querer saber por quais razões
Tudo isso alguém ofertaria.
Para se salvar? Pode ser! Seria!?
Para ocupar seu vazio?
Eu raciocinaria...
Talvez alguém esteja buscando uma nova parceria.
Ou uma aventura? - Isso eu descartaria.
Sendo tão sincero e verdadeiro
Aventura eu não admitiria.
III
Se eu fosse você, durante muito tempo
Assim eu pensaria...
E nesse interlúdio eu me prepararia.
Estudaria inglês e francês e
Grego e latim eu recitaria.
Em história da arte e
Em boas maneiras me especializaria.
E mais coisas fossem
Preciso todas elas eu iria aprender:
Andar de bicicleta,
Nadar de costas,
Pular em uma perna só
Passar perfume
Cortar o cabelo
Do jeito que você quisesse.
Comprar uma cueca nova
Usar paletó folgado
E sapato de salto inglês.
Se você quisesse
Eu me deixaria
Transformar-me em um
Novo homem sim,
Com a mesma solidão, diria.
E se você quisesse entender
Após julgar que toda a transformação
Que havia
Foi por você um dia.
Eu não vou pesar toda renúncia
Para lhe conquistar
Porque seria a nossa recompensa
O amor que eu lhe ofereceria.
IV
Ela por Ele - Mas o que em mim lhe autoriza
Tanta honraria?
Por que me reservou o espaço
Onde a sua solidão me caberia?
E se eu não for forte o suficiente
E tanta solidão latente
Fosse tão grande
Que de mim se apossaria?
O seu problema me abraçaria
Como eu me libertaria?
E se me supusesse forte
Para não aceitar tanta honraria,
Resolvido o drama,
Como você ficaria?
O seu sofrimento e a nova solidão
De que tamanho seriam?
Muito maiores que aqueles nos quais
Você já não cabia.
E nosso drama recomeçaria?
Mas calou fundo em mim
A proposta que você fazia.
Se eu aceitasse, assim então seria.
Mas não é a lógica que me restringiria
Mas a emoção imensa que me arrebataria.
V
Mas seria verdade? Eu duvidaria!
E nossos processos e perdas?
E seus copos de conhaque?
E suas ausências de perto de mim?
E novos bilhetes a serem escritos?
E minha angústia enorme?
E lágrimas fatais em meus olhos brotariam
Se para você eu voltasse
- E talvez eu voltaria -
E você não mudasse
- E você não mudaria.
E até acho que este erro eu estivesse a me dever
E essa fraqueza eu devesse me conceder
Adicioná-lo a tantos que eu me recusei
Esse nada iria me importar.
Meus créditos estão a suplantar
As perdas que tenho por enfrentar.
Desamor não é, não é por não lhe amar.
Humanidade ainda me resta, embora seja duro acreditar
E compaixão - antes de tê-la por você aqui presente
Reservo a mim pelo meu futuro a realizar.
É assim que eu tenho que pensar
Antes de aceitar a sua honraria
E toda a beleza que você me oferta
Na pureza do seu poema deste dia.
E mais um pouco ainda...
Há este tempo
Que cada dia mais avança
Sobre as minhas forças e me arrebata a vida.
E junto com ela a minha pouca beleza.
E se depois, mais tarde, de novo,
Do meu lado você desaparecesse,
Nada mais em mim se recuperaria.
Outro amor? Mesmo hoje eu já não espero e sonho.
Quem, neste alto-mar, deste
Velho barco se aportaria?
Que tempestades e ventos fortes
Ele ainda enfrentaria?
Hoje eu tenho conhecimento dos meus limites.
Entre uma aventura errante
E uma aposta alta para ser perdida
Fico com o meu barco na calmaria.
Assim prefiro ficar.
Na solidão de hoje eu aprenderia
Na liberdade de amanhã eu me bastaria.
E se houver - e haverá - tristeza
Sobre ela eu escreveria.
Com esta dor no peito e este beijo de agonia
Que no seu poema eu sei pouco lhe adiantaria
E sua solidão não resolveria.
VI
Ao acordar no dia seguinte
Ao ano que se estabelecia
Mais parecia um sonho
Que durou mais de mil dias
Tamanha a solidão imensa na qual
Ela já não cabia.
Dos seus olhos uma lágrima nascia
E junto com ela promessas de ano novo que ele se fazia.
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