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Poesias-->ESTÁGIO DE SER HUMANO -- 16/10/2008 - 21:22 (Alfredo Burghi ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTÁGIO DE SER HUMANO



Quando a música tocou

Pela segunda vez,

Vinte e cinco anos depois,

Eu estava sentado na mesma

Ponta de mesa,

Sozinho e meditativo...



Vinte e cinco anos depois,

A mesma música e a mesma ponta de mesa:

“Penso che un sogno cosi non ritorni mai

più”.

À minha frente o aeromodelo às mãos,

As plantas, a cola, o papel, a ferramenta.

Sobre mim o sonho de vôos mais altos

A elástico, a motor planando

Sobre o ar puro de Araçatuba.

Na cabeça o pensamento distante,

Uma certa consciência da produção inútil,

Um pouco de desprezo ao vôo,

Uma falta de valor no sonho

E a busca por problemas reais.

Quando terei problemas reais?

Quando o valor será eu mesmo?

Quando precisarão de mim para a

Montagem da coisa humana precisar voar?

Na cabeça a fantasia de unir pedaços

Humanos para sonhos reais.

Disfarçada nas minhas mãos

Em cabeça-fuselagem, coração-nervura,

Emoção-estabilizador, consciência-asa,

Amor-motor, engenharia-humanidade.



Quando a música tocou pela primeira vez,

Vinte e cinco anos atrás,

Eu fazia meu estágio de ser humano

Nas peças de um aeromodelo

E ensaiava a reprodução da vida

Na mesa do meu laboratório.

Dezessete anos, e eu aprendia

Que não se mistura

A emoção com a cabeça,

O coração com a consciência

E que o amor é o que decola e

Faz voar o modelo e a única peça que

Pode funcionar errado em todo o mecanismo.

No exercício paciente da montagem

De cada nervura da asa e de sua

Colagem à fuselagem a exatos 90 graus,

A descoberta da função precisa

De cada parte e o primeiro alumbramento

Da integração emoção/consciência,

Cabeça/inteligência,

Coração/amor expressos no princípio

Do equilíbrio no ar de um

Objeto mais pesado que nossos

Pensamentos.



O exercício seguia um ritmo

Compassado: estudo da planta,

Análise das 290 peças, leitura das

Instruções, corte, polimento, colagem,

Montagem, pintura, devaneio.

O tempo fluía sem pressa, sem

Fome, sem sono, persistente.

Naqueles dias eu tinha um

Amigo cego a quem eu explicava

Cada passo, a forma, que ele

Examinava com as mãos, e as

Cores, que eu descrevia pelo valor

Da intensidade diferenciada do

Vermelho para o amarelo e o verde,

O branco...

Como era gozado ouvir o Lúcio

Falar ao final da descrição:

“Nem quero ver ele voar”.

Nascia em mim a gratidão por ter olhos

E ouvidos para aprender sua fantasia

Sozinha e meditativa...



Vinte e cinco anos depois,

A mesma música e a mesma ponta de mesa:

“Penso che un sogno cosi non ritorni

mai più”.

À minha frente o quebra-cabeça às mãos

Em algum lugar na capital de São Paulo.

O coração, a emoção, a consciência e

A inteligência e o amor são apenas 5

peças

Que não se integram neste exercício

De ritmo descompassado, sem planta,

Sem manual de instruções, sem pintura,

Sem cor, sem devaneio, sem fantasia,

Sem Lúcio, o que podia ver sem olhos e

Hoje é advogado de tribunal.

Meu motor deu defeito e com ele

Ficaram no chão meus sonhos de

Vôos mais altos.

O tempo flui com pressa, com fome,

Com sono, persistente.



Nesses tempos

Meus amigos vêem tudo

E não me contam nada

E eu já não acho um privilégio

Ser deles um assemelhado.

Restou entre nós essa ironia

Da evolução da tecnologia.

Nosso modelo hoje só tem 5 peças:

Coração, emoção e amor,

Inteligência e consciência,

Mas esse avião não vai voar.



Como era mesmo o nome daquela música?



Será que ela tocou pela segunda vez?

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