DO SITUACIONISMO AO PUNK (por Belén Soto)
Tradução (do espanhol): zé pedro antunes
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Observação preliminar do tradutor:
Este texto foi encontrado num site da internet que trata do SITUACIONISMO. Em qualquer site de busca, você digita situacionismo ou surrealismo . E boa viagem...
Em espanhol, ele se chama "LA HERENCIA PUNK DEL SITUACIONISMO". Sem apresentar um acabamento formal muito apurado, o texto cria alguns problemas para o tradutor. Por isso, esta tradução poderia ser lida como uma tentativa (temerária) de reescritura do texto.
Se, em alguns momentos, os problemas podem ser facilmente localizados e as soluções como que saltam aos olhos (pontuação deficiente, pouco rigor na divisão dos parágrafos e no encadeamento das idéias), noutros, o tradutor se vê mesmo na obscuridade, não lhe restando senão a ousadia ou, se quiserem, a temeridade de uma recriação. Poderíamos até aventar uma hipótese bastante provável. O texto, talvez, não aspirava ao estatuto literário, destinando-se apenas a um certo círculo de leitores, condescendentes talvez, ou simplesmente ávidos por conhecer-lhe as informações da ordem do conteúdo. Tanto quanto nos foi dado depreeender, até aqui, esse esforço de leitura está ligado à programação de rock de uma emissora da Nicarágua, empenhada na coleta e na divulgação de dados interessantes à causa revolucionária. Daí, as tintas às vezes um pouco carregadas...
Coisas que conhecemos muito bem, por exemplo, de certas traduções brasileiras de textos de Brecht feitas nos anos 60. O dramaturgo escreve: "é preciso transformar a sociedade". O tradutor não tem pruridos: "é preciso fazer a REVOLUÇÃO".
Do surrealismo ao situacionismo, que desemboca na revolução estudantil de maio de 68, e à eclosão do movimento punk, o século XX foi atravessado por algumas boas idéias. Rastreá-las pode ser um bom caminho. Elas tentavam ser uma resposta para quase todas as questões que ainda permanecem em aberto neste início do século XXI. Nâo nos resta senão seguir em frente. Mas não convém, como querem tantos, dispensar o retrovisor.
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Obviamente, o indivíduo é perpassado por etapas
em que predomina o espírito irredutível, o anarquismo, a rebeldia, a negação social, a intolerância. Sem dúvida, no transcurso da vida esse espírito ou se desvanece, ou se converte em “caso crônico”.
OS EPISÓDIOS DO ENIGMÁTICO GUY DEBORD [autor de "A sociedade do espetáculo"]
Numa conferência de artistas e arquitetos, em 1957, que inaugurava a INTERNACIONAL SITUACIONISTA - momento em que o movimento, abandona justamente as loucuras e o jogo do LETRISMO, movimento fundado em 1950 pelo poeta romeno Isodore Isou -, Guy Debord, junto a outros ex-letristas, recordava aventuras recheadas de desafios.
Muito claramente lhe vinha à memória uma certa manhã em 1952. Ele, em companhia de um grupo de letristas, a irromper em meio a uma das palestras proferidas por Charles Chaplin no Hotel Ritz. "Cremos que a expressão mais gratificante da liberdade é a destruição de ídolos, especialmente quando se apresentam falando em nome da liberdade de outros", afirmaria em seguida.
Mas, à leitura do artigo “Do situacionismo ao punk” de Fred Vermorel, na tradução de Nick Cooke, crítico e produtor do programa "Su Noche de Domingo" (Radio Pirata FM 99,9 - Nicarágua), nos deparamos com o desprezo alimentado por Guy Debord pela sociedade consumista do pós-guerra. O excêntrico situacionista zombava do absurdo da sociedade e de sua esterilidade cultural, ele que considerava obscena a palavra “cultura”, o mesmo valendo para a palavra “trabalho”.
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DADAÍSMO SURREALISMO SITUACIONISMO
Ao passo que a inspiração original do dadaísmo (1901-1922) era a de formar visões evocadas, destroçando as formas de arte com as quais se impressionavam os surrealistas (1922-...), e promovendo a arte como arma para subverter a ordem e a realidade que os oprimia, os surrealistas conferiam à própria vida a magia da arte.
Pouco a pouco, as idéias dos situacionistas se propagaram pela Europa. Inspirados tanto pelos dadaístas como pelos surrealistas, os membros do movimento duvidavam da necessidade de se oferecer um programa, menos ainda se tivesse de valer por cinco ou seis anos. O que advogavam era tão-somente uma autonomia social sem limites e uma auto-gratificação sem qualquer tipo de freio.
“Alice no país das maravilhas” e o Marquês de Sade estavam entre as suas leituras favoritas ... Não foram poucos os membros expulsos por apego vicioso à televisão e a outras leituras não-fundamentais, atitudes classificadas como de alta traição.
Recusaram-se a fundar ou dirigir um movimento de massas, considerando que a única função do artista consistia em catalisar e expressar os desejos reprimidos...
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O encontro daquela manhã de 1957 alçou vôo até 1968, quando o SITUACIONISMO assume grande importância nos diversos setores parisienses, as pinturas agressivas tomando conta das paredes dos edifícios e dos metrôs.
FRED VERMOREL, que militara no SITUACIONISMO, sublinha os abusos dos historiadores-mercantilistas, ele que, em suas anotações sobre a rebelião estudantil de Paris em 1968, demonstra conhecer uma outra verdade. Nesse dia – ele relata - todos liam e decoravam os panfletos distribuídos pelos situacionistas, que, entre outras coisas, continham frases como :
“É preciso viver sem restrições"
"A cultura é a inversão da vida"
“Não trabalhe nunca"
“A mercadoria é o ópio do povo"
“A arte está morta, não consuma o seu cadáver"...
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MALCOLM McLAREN & SEX PISTOLS
Entre os estudantes da Universidade de Paris, encontrava-se o artista Jamie Reid, que algum tempo depois viria a ser o diretor artístico do primeiro grupo punk da Inglaterra, os SEX PISTOLS. Jamie Reid e Fred Vermorel retomaram o situacionismo de sua juventude, inspirando o amigo comum Malcolm McLaren, que, como produtor, fez com que a banda se impregnasse com as marcas do movimento, o que, no breve espaço de três anos, provocou enorme celeuma...
Em suas anotações, Vermorel faz lembrar que, uma vez famosos, os situacionistas caíram numa luta rancorosa, em disputas que cresceram no interior do grupo, razão pela qual o movimento se viu reduzido a uma só pessoa, a seu membro fundador, Guy Debord. Este, desgostoso com a sua própria celebridade, decidiu-se pela dissolução do movimento em 1972.
Enquanto ouvimos, na companhia de Xavier Quiñónez, a música dos SEX PISTOLS, o diretor da Radio Pirata, o engenheiro Karl Nilsson sublinha a seguinte passagem da tradução de Cooke:
"A publicação Les Temps Modernes, de Jean-Paul Sartre, resumiu a façanha da Internacional Situacionista como sendo a da reinstauração da subjetividade no projeto da revolução - entronizando as necessidades do eu acima de abstrações teóricas como classes".
Ou então:
"A partir de então, as idéias e atitudes da Internacional Situacionista deixaram de ser periféricas, para assumir uma posição central no pensamento da esquerda..."
Mesmo sem tomar as idéias do situacionismo sempre com a mesma seriedade com que Jamie Reid o fazia, Malcolm McLaren deixava-se levar, com facilidade,
pela força e pela lógica interna de uma idéia.
E o situacionismo era uma das melhores idéias do século XX.
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