Sentado na praia.
Quem leu “O Tao da Física”, de Fritjof Capra, nunca mais
vai esquecer a sua emocionante introdução.
Vou tentar contá-la, resumidamente.
Capra, escritor americano, estava sentado
na areia de uma praia deserta, observando as ondas que
quebravam no mar, à sua frente, e em algumas pedras, à sua
direita.
O silêncio, total, era quebrado tão sómente pelo barulho do
vai-e-vem das ondas arrebentando na areia e nas pedras.
Aos poucos Capra foi relaxando, cedendo à monotonia das
ondas que vinham-e-quebravam, vinham-e-quebravam...
Entorpecido, abandonou-se inteiramente ao hipnótico
marulhar das ondas.
Aos poucos, foi sentindo uma pulsação que vinha da água,
com as ondas vindo-e-quebrando, vindo-e-quebrando...
Desconectando-se do mundo, entrou num estado de vigília.
E aos poucos foi sentindo que a pulsação não vinha só do mar.
Vinha das pedras.
Das folhas das árvores.
Da praia.
De cada minúsculo grãozinho de areia.
Do próprio vento.
Sentiu-se no centro de um único pulsar, com tudo à sua volta
vibrando num mesmo ritmo, como um mesmo tambor.
Depois veio a integração completa, o nirvana:
as palpitações do seu próprio corpo, vivo e pulsante, entraram
em sincro com a imensa vibração da natureza à sua volta.
Sentiu que tudo – ele e tudo o que estava ao seu redor, - era uma
coisa só.
Um único pulsar, uma vida só.
Li esse livro há muito tempo, de modo que esse breve relato está
sujeito a chuvas e trovoadas.
De qualquer modo, procurei ser fiel ao que senti.
E continuo achando que nesse breve prefácio Capra foi mais
que escritor, pensador, físico quântico, ecologista, cientista.
Foi poeta.
Hans Dammann |