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Contos-->As coisas importantes -- 25/01/2008 - 15:53 (Evandro Carvalho da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na fábrica de relógios da grande cidade foram abertas vagas de emprego. João candidatou-se para o cargo de estoquista de pulseiras. Na manhã chuvosa de uma segunda-feira cinzenta encarou uma fila de duas horas para pegar uma preciosa senha. Com o dia clareando esperou em uma das milhares de cadeiras espalhadas no pátio. Em meio ao cenário de rostos tensos, só pode mesmo confabular com o próprio guarda-chuva enquanto rezava para Deus implorando boa sorte na entrevista. A chuva forte e constante castigava a já castigada massa de desempregados, como uma aliada dos patrões e industriais locais.

Às 11 horas a massa esquálida e deprimente foi se desfazendo. Um a um, os desempregados entraram na sala do entrevistador. João apenas respondeu “sim”. Tinha experiência, sujeitaria-se ao minguado salário mínimo de Rio dos Véus, encararia a terrível jornada de 15 horas de trabalho de domingo a domingo – um acordo dos patrões com o sindicato dos operários local para cumprir as encomendas e não comprometer a economia rio-velense. O entrevistador, um jovem promissor do gerenciamento dos recursos pessoais, ouviu João despedir-se com um “bom dia”. Respondeu com um “próximo” inflexível, imparcial e congelado.

João pegava no batente às 06 horas da manhã, almoçava ao meio-dia em 15 minutos. Saía às 21h15 da fábrica – extenuado. Durante as primeiras semanas agüentou bem a jornada. Mas depois João foi minguando, enfraquecendo. Num sábado às cinco da tarde despencou na linha de produção. Enquanto morria nos braços de um colega de trabalho, lembrou vagamente de seus sonhos de infância e do dia em que finalmente poderia ter sua casa, uns livros na estante, sua mulher e a boa cachaça para oferecer aos amigos. Em poucos minutos todos os seus sonhos e perspectivas foram levados pela sua morte.

No outro oposto da cidade de Rio dos Véus, já depois do fechamento da edição da Gazeta Diária, um outro João, repórter e redator, bebia café e respirava aliviado por ter colocado sua matéria na primeira página. Esperou o arrastar dos minutos para refugiar-se ao fim do expediente na Taberna de Virgílio. Colocou o paletó e... olhou para o relógio de pulso. Divagou alguns minutos sobre aquele objeto e imaginou o número de pessoas que dependem daquele objeto. Depois divagou sobre os que muito ganham sobre aquele objeto. “Bobagem”, disse. Não deu importância ao pensamento.
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