Os alunos da Universidade Federal de Rondônia, campus de Porto Velho, são felizes.
Sem necessidade de conhecer a realidade brasileira, longe dos bancos, deixam que ela entre pela janela, pelos tubos do sistema de ar condicionado e pelas velhas telas protetoras todos os dias o aroma inconfundível do lixão da Vila Princesa.
A Vila Princesa é um reduto de um amontoado de cidadãos sem cidadania, que agora já tem uma escola pública e um boteco para sobreviver, juntando os restos de plástico e metal dos monturos de lixo que Porto Velho despreza.
A Vila Princesa, vizinha da intelectualidade pública, fornece aos alunos das ciências humanas material farto para estudos.
Na sociologia da miséria e na antropologia da fome, os historiadores traçam suas letras e filosofam.
Os biólogos de nariz torcido insistem que os enfermos da enfermagem analisem os aspectos psicológicos da alopatia aplicada pelos estudantes de medicina.
No rol das estatísticas os matemáticos buscam informações que possam jogar nos computadores.
São os dados podres que a massa de ar traz todos os dias, lembrando que a miséria é um componente da natureza humana.
O lixão da Vila Princesa integra a sociedade verdadeira com a sociedade intelectual.
O mau cheiro da Vila Princesa exorciza os malefícios de uma sociedade organizada nas idéias e incapaz de se organizar na prática sanitária.
Vila Princesa é escola e calvário. Na prática, uniu a Unir aos miseráveis do lixão.