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Contos-->As vassouras da bruxa -- 04/02/2008 - 13:36 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As vassouras da bruxa

Fernando Zocca

Van Grogue, naquela manhã de domingo de carnaval, defronte ao bar do Zezinho, estava com uma ressaca tão intensa que quando lhe deram um bom-dia ele respondeu ser o dia bom, muito pouco.
O folião, que passara a noite divertindo-se no carnaval, a princípio vendo o desfile carnavalesco, na avenida Beira-Córgo, margeante do rio Tupinambicas das Linhas, e depois pulando no salão de bailes do clube Cristóvão Conlombo, vestia a camisa 10 do Corinthians. Seu rosto afogueado indicava estar a temperatura do corpo muito elevada.
Por causa do horário, bem cedo para os padrões do comércio naquele período do ano, o bar estava ainda fechado e Grogue então, para fazer hora, sentou-se num cepo deixado ali pela antiga proprietária do boteco; segundo os maus beiços, uma mulher pesada e indolente.
Grogue notou que defronte ao bar havia um bueiro de onde emanavam odores fétidos. Ele sentiu então a tosse que, de vez em quando, assomava-lhe os pulmões. Segundo os médicos ele tinha mesmo que parar com os cigarros imediatamente, sob pena sujeitar-se aos desprazeres da asma ou bronquite.
Mas apesar de tudo, de todo malefício e desconforto que lhe davam a fumaça cinza-quente, ele buscou no bolso direito da calça preta o maço amarfanhado de pitos. Tirou então um cilindro todo torto, colocando-o nos lábios. Com um isqueiro amarelo acendeu o rolete.
O seco-cinza-quente da fumaça, somado aos vapores invisíveis e malcheirosos brotados da boca-de-lobo, induziram novamente o acesso da tosse, piorado agora pelo ar frio da manhã. Durante a crise, o folião viu assim meio que de soslaio, a aproximação da mulher magra, de cabelos curtos e negros, lábios finos, mãos grandes e grossas que vestida de feiticeira caipira, trazia nas mãos duas vassouras de piaçaba. Ela tinha na cintura um arremedo de rede de pesca feita com fios de náilon.
A carocha magérrima passou rápido ao lado do Grogue e quando percebeu que ele não a poderia mais ver, xingou-o de louco, murmurando a palavra em tom baixo, concomitante com o cruzamento dos cabos das vassouras em xis, no alto da cabeça. Logo em seguida a estringe entrou numa casa de onde vinham vozes pitiáticas.
Van de Oliveira Grogue sentiu amenizar as convulsões da tosse, quando então parou na sua frente um sujeito alto, magro, cabelos ralos, calva proeminente, tez morena, com óculos de aros grossos, vestindo calça e bata brancas, chinelos e um punhado de livretos xerocopiados, na mão esquerda. Ele parecia pregar uma teoria, corrente filosófica, religião ou fenômenos que observava.
Defronte ao Grogue ele iniciou um discurso logo contido por um “pode parar” do pingueiro, que levantou a mão direita em sinal de protesto. Mas mesmo assim o folião recebeu do “profeta” um livreto onde, dentre outras coisas lia-se: “Gentileza gera gentileza... Designação dada por Joseph Babinski (1857-1932) aos distúrbios secundários da histeria, rigorosamente subordinados aos ditos primários... Neurose de conversão...”.
Grogue que quando embriagado confundia as piadinhas com a espiadinha, achou ser conversão uma conversa grande, e quando viu o adivinho dobrar a esquina, amassou o papel jogando-o na calçada. Então murmurou com desprezo:
- Escreve relatórios...
Ao longe pôde Grogue embasbacado ver um grupo de sete arruaceiros embriagados que, com tijolos nas mãos, vinham pelo meio da via pública gritando:
-Ei, Grogue, vai tomar no... Ei Grogue vai tomar no... Ei Grogue vai tomar no...
Os cães ladravam desesperados.
Van agoniado levantou-se e achou que se tomasse o porre diário no fundo do quintal, escondidinho lá na casinha, tendo a janela e a porta bem fechadas, estaria mais seguro, mesmo que os pernilongos, criados ali nas águas esverdeadas da sua piscina mal cuidada, pusessem-no em perigo constante das conseqüências da dengue.



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