Chep-chep.
Um amigo meu, adepto do zen-budismo, me contou uma
experiência curiosa que ele viveu num templo para
iniciados.
Todos se sentaram num banco de madeira, muito comprido
e desconfortável, e tinham de ficar olhando para a frente,
sem mexer a cabeça.
E na frente não tinha nada, absolutamente nada, só uma
imensa parede branca.
Com o tempo a cabeça começou a balançar, o sono chegou,
o cochilo se tornou irresistível.
Mas aí se ouviu o chep-chep.
Era a sandália de corda de um monge que se aproximava
por trás, arrastando os pés na lajota de barro.
Com delicadeza mas com firmeza, beliscou o ombro dos
dorminhocos.
Era proibido cochilar, dormir, sonhar.
Tinha de ficar acordado, olhando para o nada, para o vazio
da paredona branca.
E sabe o que acontece quando você não tem nada para
olhar ?
Você começa a olhar para você.
Para dentro de você.
É quando surgem perguntas sobre sua vida, sua trajetória,
sua morte.
“Aprendi uma coisa”, disse meu amigo. “Para a gente se
conhecer, não existe nada melhor que um chep-chep.”
Hans Dammann
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