Vida dura.
Hoje foi mais um dia cheio.
Das seis às sete da manhã, uma perambulada pela
praia, vendo o sol nascer e pensando na vida.
Depois, o café da manhã:
suco de amora, meia melancia gelada, pãozinho quente
recém-chegado da padaria, meia xícara de café com leite
e broa de milho.
A seguir, horário sagrado para um pouco de música:
Keith Richards tocando o Concerto de Colônia, o sax
aveludado de Ben Webster, alguma coisinha de Bach
e para finalizar “El dia que me quieras”, de Carlos
Gardel e Alfredo Le Pêra, com Barenboim ao piano,
Rodolfo Mederos no bandoneon e Hector Console ao
contrabaixo.
Almoço very light, que ninguém é de ferro:
saladinha de tomate, folhas verdes, tudo salpicado com
queijo árabe “salclish”.
Em seguida, linguado na manteiga, acompanha
alcaparras e purê de batata.
Água mineral bem gelada.
E para arrematar, frutas da temporada:
duas babaninhas-ouro.
Tudo isso dá um sono invencível, que se prolonga
até às 5 da tarde.
Rápido rodopio pela praia, depois um papinho com padre
Oswaldo, tendo como pano-de-fundo o por do sol.
Hora de por a leitura em dia:
algumas linhas de Machado de Assis (vergonha nacional:
estava na fila há mais de dez anos), o livro com desenhos do
Egon Schiele, e uma revista semanal, nem sei qual.
Um telefonema para a mulher, que vem descendo de São
Paulo, e depois já é hora de jantar:
um omelete recheado de tomate, um arrozinho e meia
garrafa do tinto chileno Dona Carolina.
A partir daí, navegar é preciso.
Santa internet que foi inventada na hora certa !
Viver na praia é bom, duro é agüentar a rotina.
Hans Dammann |