Afastem-se de mim - Cassius, Cinna e Metellus -
Mais que desprezíveis vilãos, seus covardes!
Contra vocês, que não merecem a glória de terem executado César,
Lutarei ferozmente - como um leão.
Diante, porém, de Brutus,
Comportar-me-ei qual uma ovelha, idiota,
Feliz de ser sacrificada.
Feliz de morrer por uma adaga tão virtuosa.
Já tendo atravesssado o rio que separa a vida da morte,
Sinto-me agora livre da promessa feita a Servília –
Sua mãe e minha não tão secreta amante de tempos passados.
Livre para afinal usufruir a alegria de chamá-lo
Brutus, meu filho – meu filho de verdade!
Somente os deuses conhecem a minha dor,
A de não poder proclamar a toda Roma a minha paternidade
E viver, por isso, no inferno de ser um pai sem filho.
Mas, agora um puro espírito,
Posso tudo enxergar em toda parte,
E despedaça o meu coração descobrir
Que breve você irá me encontrar, meu filho,
Porque o Império deve padecer uma muito sangrenta guerra civil,
Antes que os cidadãos romanos aceitem a minha própria morte.
De César – um tirano talvez, mas também o seu verdadeiro criador.
Que seja eu sedento de poder, isso não posso negar,
Mas o poder em si realmente era inútil para meus verdadeiros fins.
O que você precisa entender agora,
E Cassius o percebeu muito antes,
É que sempre fui um jogador, um bom jogador talvez,
Mas nunca tão forte e determinado como se supôs.
Essa máscara, achei conveniente usá-la,
Tal que, no meu amor pelo povo romano –
Justo igual ao seu, Brutus –,
Deixo-lhe a mais preciosa dádiva:
Você, Brutus, um homem – não, um herói! - muito mais grandioso
Que eu em todos os aspectos.
Assim, ainda que dessa maneira dissimulada,
Fui verdadeiro para com você.
Mas a minha criatura provou ser boa demais para este mundo -
Que não o merece!
E, de fato, não conseguirá suportá-lo por muito tempo.
Porque tanta virtude é perigosa:
Porque pode ela conduzir ao crime.
A este sangrento crime perpetrado contra mim - seu próprio pai.
Isso, porém, estou pronto para perdoar-lhe.
Entretanto, nesta minha nova forma e capacidade,
Existe algo que não consigo entender:
Como você foi tão cego
A ponto de não perceber a sua aparência tão semelhante à minha?
Onde o espelho do seu quarto, Brutus?
Certo, não é tão fácil distinguir com clareza o próprio perfil.
Mas e as suas mãos – as minhas mãos, Brutus?
As mãos que tão afetuosamente
Centena de vezes acariciou a sua face!
Mas, meu querido, você cometeu uma falta trágica.
Brutus, você acabou acreditando nos seus raros méritos,
Na sua quase sobre-humana virtude.
E isso, Brutus, os deuses não aceitam.
Eles não admitem rival,
Um que lute para tornar-se um seu igual!
Por isso, decidiram puni-lo.
Você terá de ser destruído!
Não por uma mão estrangeira ou desprezível,
Não por uma vulgar doença fisica,
Mas honradamente – pelo seu próprio braço,
Porque outro mais nobre não pode ser encontrado
Em parte alguma deste Império!
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