Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Discursos-->SAUDAÇÃO A UM NOVO ACADÊMICO -- 09/12/2002 - 20:15 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SAUDAÇÃO A UM NOVO ACADÊMICO ®
Genival Veloso de França
Meus Eminentes Confrades:

Esta Casa, sempre tão acolhedora e calma, recebe hoje um dos mais ilustres membros da classe médica paraibana, pelos seus feitos e obras memoráveis.
Gostaria de fugir do ritual das saudações protocolares e dar a esta conversa um tom mais ameno que a intimidade permite. Mas não posso. Vou respeitar o manual acadêmico e seguir o roteiro recomendado.
Péricles Vitório Serafim nasceu na fazenda Cantinhos, em Lagoa do Remígio, distrito de Areia até 1957, situado na soleira agreste da Serra da Borborema, na Paraíba. Filho de Pedro Serafim dos Santos e Sisínia Cabral Vitório Serafim. São seus irmãos: Pedrina, Petrônio, Pérsia, Persilda, Petrise, Pedro e Perialvo. Seus avós maternos foram Manoel Vitório Barbosa Torres e Júlia Barbosa Torres e avós paternos Manoel Serafim de Araújo e Maria Felismina do Espírito Santo.
É casado com Suely da Cunha Paiva Serafim, de cuja união nasceram Péricles Filho, Cristiana, Ana Suely e Gianna, herdeiros de justo orgulho e de tantas alegrias.
Concluiu o curso primário na sua cidade natal e os cursos secundário e científico no Colégio Pio X de João Pessoa. Formou-se médico pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba em 1964, tendo sido orador de sua turma através de um disputado concurso de oratória entre os formandos de todos os cursos de sua Universidade. É também Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia e Letras do Instituto Nossa Senhora de Lourdes de João Pessoa.
Depois de formado em medicina, teve oportunidade de freqüentar os centros especializados de maior renome e percorrer os caminhos do mundo como um peregrino insaciável do saber. Esteve em Brasília no serviço de Cunha Camões; em Porto Alegre com o mestre Carlos Baena Cagnani; com Aziz Lazmar no Rio de Janeiro; com Geraldo Sá em Recife. Esteve com o Prof. Renato Segre em Buenos Aires e no renomado serviço do Prof. José Prades Plá em Barcelona.
Nos anos 73 e 74 freqüentou o Curso de Super-Especialização Clínica e Cirúrgica em Otorrinolaringologia do famoso mestre Antoli Candela da cidade de Madrid. Também nesta cidade, durante dezoito meses, esteve com o Prof. Júlio Sanjuan Juaristi no seu magnífico e respeitado Centro de Investigações Estato-Acústicas de Madrid. Durante os anos letivos de 1973 e 1974 recebeu o Certificado Acadêmico da Carreira de Doutorado pela Universidade Complutense de Madrid.
Fora da sua especialidade, fez curso de Capacitação em Planejamento de Saúde pela Organização Pan-americana de Saúde e Sudene, em Recife; curso de Higiene e Segurança do Trabalho em Madrid; curso de Administração em Saúde Pública pelo Departamento de Agência Estatal para o Desenvolvimento Internacional, nos Estados Unidos; e curso de Jornalismo Industrial pela Universidade Católica de Pernambuco. Participou e colaborou em ciclos de conferências da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra do Brasil.
Além disso, meu apresentado tem participação ativa e freqüente em quase todos os congressos nacionais e internacionais de sua especialidade e em outros assuntos que são do interesse direto ou indireto de suas atividades profissionais. E mais: Tem uma respeitável produção de trabalhos científicos que ao longo de sua vida profissional teve oportunidade de apresentá-los.
É médico aprovado em 1º lugar por concurso público do ex-INAMPS; credenciado do Instituto de Previdência do Estado, do Hospital do Pronto Socorro de João Pessoa, do Hospital General Edson Ramalho, da Clínica Dom Paiva - onde foi seu diretor clínico até 1973 e da Associação dos Servidores Públicos do Estado da Paraíba.
Dentre outras participações em entidades médicas foi Presidente da Sociedade Paraibana de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia, Secretário Geral e depois Presidente da Associação Médica da Paraíba, sócio co-responsável da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia, Delegado da AMPB junto a Associação Médica Brasileira, sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Otologia e membro da Associação Pan-americana de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia.
Foi ainda diretor do Programa Integrado de Nutrição Aplicada (em convênio com a FAO e a OMS), Diretor Geral de Saúde Pública e, logo após, Secretário de Estado eventual dos Negócios da Saúde da Paraíba.
Teve diversas participações em atividades docentes, destacando-se os cursos para auxiliares de administração hospitalar, professor convidado da Faculdade de Medicina de Campina Grande. Ministrou cursos para professores de deficientes de audio-comunicação e proferiu aulas no Hospital da Cruz Vermelha de Barcelona.
No que diz respeito as suas atividades literárias, destacam-se: título de acadêmico da Arcádia Pio X, ocupando a cadeira n.º 4, cujo patrono é Antônio de Castro Alves. Colaborador com um capítulo no livro do Prof. José Arthur de Carvalho Kós sobre o interessante tema “Primórdios da Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia no Brasil” e de um trabalho bibliográfico sobre a vida de Pedro Américo de Figueiredo e Melo.
É autor do livro “Remígio – Brejos e Carrascais“. Sobre esta interessante obra, disse Maurílio de Almeida quando o apresentou na posse da Cadeira 47 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano: “Trouxestes fatos novos, encontrastes a verdade buscada. Partistes do nada, chegastes ao fim. Fizestes a pesquisa sem pressa, fostes aos arquivos públicos e particulares, aos assentamentos de igrejas, cartórios, bibliotecas, onde pudésseis encontrar o fato”.
Lamento, numa rápida saudação e com o cuidado de não tomar um tempo que não é meu, não poder passar uma impressão mais profunda daquela obra, que além da beleza literária e das curiosas revelações, resgata a memória da sua gente num comovente itinerário de saudades e corrige enganos cometidos, dando ao seu município motivos para uma exata percepção do seu passado e à Paraíba uma contribuição significativa para sua memória.
A vida necessita dos serviços da História e o historiador não é outra coisa senão o analista dos acontecimentos, valorizando as ocorrências mais peculiares na vida dos povos, em particular, e da vida da humanidade, em geral. E não é só realçar o fato e a época do fato, mas, também, todo um processo intelectual inserido na continuidade da convivência humana, antes e depois, e, principalmente, uma judiciosa análise às conseqüências do presente, desde a proletária tragédia de cada homem e de cada mulher, até os insondáveis caminhos do amanhã.
Este é o médico e o intelectual Péricles Vitório Serafim.
Meu primeiro contato com o novel acadêmico foi em nossa adolescência, sendo eu mais velho, na pequenina e tão lembrada Remígio, durante as férias escolares de fim de ano, quando no convívio de meus parentes próximos. Foi precisamente numa das sessões agitadas do “Clube 13 de Maio”, uma espécie de confraria ateniense, onde os jovens estudantes em recesso escolar praticavam a oratório e liam seus últimos versos.
Recordo-me com detalhes desse encontro, da imagem distinta e recatada de um moço elegante que me foi apresentado por um amigo comum, e logo se encolheu sem manifestar nenhuma intimidade, sem permitir nenhuma aproximação. Não poderia ser diferente. Pertencia eu a outro grupo, menos nobre e fidalgo, dos que jogavam “pelada” em frente a igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, sob a censura veemente do padre Ruy; dos que tomavam banho de açude na “Baixa da Égua” e no riacho do Palma; dos que freqüentavam o “Beco do Jacaré” e os bailes de fim de semana organizados por um certo sanfoneiro de nome Porfiro.
Confesso que nossas relações não eram as melhores, principalmente durante as festividades da padroeira, quando um ou outro tinha o controle da redação de um malicioso e irreverente jornalzinho chamado “O Papagaio”, de cujas páginas pululavam as razões de nossas rixas e divergências.
Passamos muito tempo sem nos ver. Minhas férias de fim de ano foram substituídas pelos estágios hospitalares.
Voltamos a nos encontrar, desta vez, diariamente, quando trabalhávamos no mesmo ambulatório, quase na mesma sala, e aí sim, nasceu uma amizade que o tempo só faz aumentar. Não é apenas um sentimento de coleguismo, mas uma profunda admiração pelo empenho, pela seriedade e pela humana compreensão como sempre tratou seus pacientes. Observava as crianças humildes, muito pobres, trazerem no final do tratamento pequenas lembranças que, certamente, para elas tinham o sentido de quem paga uma promessa; e para seu benfeitor o significado de um bem afetivo.
Hoje proclamo com orgulho que Péricles é meu amigo, meu admirável colega e médico extremado de minha família, inclusive muito querido dos meus netos, para os quais eu rogo sempre não prescrever injeções. Fui membro do Conselho Regional de Medicina do nosso Estado durante 35 anos e nunca presenciei uma única queixa ou reclamação de paciente ou familiar contra um ato ou gesto seu, mesmo levando-se em conta o risco de sua especialidade e uma época onde as opções instrumentais em sua área ainda eram muito precárias.

Meu egrégio amigo Péricles Serafim:
Esta Academia não é apenas uma instituição médica. Ela pretende ser diferente das outras associações de classe que tratam do aprimoramento científico ou das reivindicações puramente pragmáticas e imediatistas. Somos um órgão de incentivo e apoio, de análise e sugestões a tudo que se deve fazer em favor da cultura e do humanismo. Não quer dizer que somos literatos puros. Como tal teríamos de dissolver-nos pacificamente: não ficaria um só.
Não há mal que o médico possa aliar essas duas formas de cultura. As letras, segundo Claude Bernard, são irmãs mais velhas da ciência. A lei da evolução intelectual dos povos mostra que tem produzido poetas e filósofos, antes de formar cientistas. Seria grave erro pensar que existem duas ordens de verdades distintas ou contraditórias, umas filosóficas ou metafísicas, outras científicas ou naturais.
Acredito também que o médico não deve ser apenas um profissional nietzschiano, a perseguir o efêmero da tecnologia para alcançar simplesmente um resultado. Ou exaltar-se diante da Vida e da Morte, materialmente representadas pelo corpo enfermo, através dos conceitos herméticos da Ciência Médica. É necessário que ele mergulhe fundamente no sentido da Vida para saber quanto ela vale de amor e de esperança.
O humanismo é a lógica mais simples.
Vivemos uma época singular da história da Humanidade. A rapidez das transformações cava um fosso trágico e medonho ante a evasão materialista e apressada para o utilitarismo. Toda vez que nos aprofundamos em nós próprios vêm-nos a certeza de algo que acusa e adverte.

“Este homem, enfim,
não é um homem,
é o homem
que o homem destruiu”
palavras do poeta Afonso Romano Sant’Anna.

Este homem a quem o poeta se refere está desfigurando o humano que existe nele. E um homem que se desgasta, desgasta o mundo.

“Mal sabe a criança dizer ‘mãe’ e a propaganda lhe destrói a consciência”.
palavras de um poeta cujo nome não me lembro.

Criam-se metrópoles de aço e concreto, verticais e desumanas, de árvores cor de chumbo e de céu escurecido por uma atmosfera de fumo e pó. São cidades mortas, sem esperanças e sem ilusões, cidades de homens taciturnos e solitários, apressados no andar como se tivessem um destino. São dramáticos seres perdidos na noite, com suas luzes frias de néon, frias noites sem sentido e sem solução.
Ao atravessar essas ruas de mil e uma tragédias, nota-se uma sensação de desespero em cada semblante e um sufocado grito de socorro em cada boca. Há uma angústia e uma solidão em cada esquina.

“Mas eu não tenho tempo para pensar nessas coisas,
Estou com pressa. Muita pressa.
A manhã já desceu do trigésimo andar
Daquele arranha-céu colorido onde moro”
palavras do poeta Cassiano Ricardo.

Tenho medo. Não sei, com a visão provinciana de modesto mestre-escola na Paraíba, o que se poderá fazer em termos tecnológicos nesses tempos vindouros de tantas duvidas e de tanto tumulto. Sei apenas que já iniciamos a era dos grandes conflitos, provocadores e confusos, no exato instante em que o sentimento agoniza nas mãos da tecnocracia e o desânimo parece ter tomado conta do mundo.
Digo tudo isso porque as Academias, em geral, pela sua inclinação irresistível para o humanismo, terão no futuro um papel muito significativo no último e assustador confronto. E desse resultado teremos dois destinos: o de simples coisa inexpressivamente jogada ao nada; ou o resgate do caminho de volta a nós próprios, em espírito e liberdade.

Meu estimado amigo Péricles:
Aqui estão para lhe saudar pela minha voz e festejar com a própria emoção, seus velhos amigos e companheiros que há muito tempo aguardavam sua presença. Acredito que esse tempo de espera não foi em vão. Esperar não é apenas uma arte; é também uma forma de luta.
Em nome da Academia Paraibana de Medicina, que aceitou a indicação desta apresentação, desejo toda sorte e estimo que continue cultuando cada vez mais a imaginação e a pesquisa.
Eu, de minha parte lhe agradeço, querido confrade, pela homenagem em paraninfar sua entrada nesta Casa. Entendi o gesto. Ao eleger seu menor colega, você prestigiou a própria simplicidade. Mesmo depois do silêncio, guardarei a emoção desses imperecedouros instantes.
Nossa vida, afinal, é assim, feita só de momentos. Mesmo depois, cada lembrança será uma ressurreição.
A hora é sua. Eu acompanharei seus passos com a alegria de quem vai alcançar o céu com as suas asas.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui