Usina de Letras
Usina de Letras
65 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50641)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O bombardeio das pombas -- 01/03/2008 - 11:25 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O bombardeio das pombas

Fernando Zocca

Capítulo I

Gabriela Tijolada ou simplesmente GT estava tão tensa naqueles dias precedentes dos exames de ingresso, que faria na prefeitura de Tupinambicas das Linhas, que esquecia até de escovar os dentes pelas manhãs, depois que acordava.
Por difundir aquela halitose descomunal logo cedo, ganhou, do seu companheiro Daniel da Carroça, o apelido carinhoso de Bafão.
A dupla parecia unida pelo amor da maldade. Alguns especialistas diziam que o estágio de adestramento dos membros daquela família evoluíra até aquele ponto em que, para melhorar a socialização, seria necessário um emprego regular, com carteira assinada.
O padrinho de Gabriela era analfabeto, mas nem por isso deixava ele de saber que um bom emprego seria benéfico para a sobrinha, pois a tiraria da imobilidade doentia em que se encontrava.
A neurose que acometeu Gabriela era daquelas que os psiquiatras chamam de neurose histérica, em que os sintomas começam e terminam de forma repentina, por causa das situações carregadas emocionalmente, e que remexem os conflitos subjacentes.
Por ser Gabriela analfabeta, não tinha ela outra alternativa, para alcançar o equilíbrio interior perdido (ela sempre perdia), do que a de atazanar a vida da velhota vizinha, que ao vê-la na rua, recomendava-lhe rezar o terço e o pai-nosso.
Trocando em miúdos, Gabriela descarregava na velhinha indefesa todo ressentimento, ódio e maldade que lhe surgiam na alma, resultantes dos fracassos colhidos nas ações loucas, e impensadas que fazia na comunidade em que vivia.
Gabriela morava ainda com seu pai o conhecido Alcindo Martelete, consertador de panelas de alumínio, curtido na pinga e fumo ruim. Se alguém desejasse acender o pavio da ira em Alcindo, bastava dizer que ele não batia bem.
O ressentimento contra a beata foi se agigantando de tal forma que Gabriela Tijolada não sentiu dúvida nenhuma quando recebeu o convite do Dóia, seu tio veado, para pular no quintal da casa da velha chata, durante algumas madrugadas.
A intenção de Gabriela e Dóia era de trocar de lugar alguns vasos da mulher, que morava sozinha na casa contígua, de vila. Ao instalarem a dúvida na cachola da idosa, balançariam também a certeza que ela tinha da sua sanidade mental.
As instigações contra a pobre dona Marie foram tantas que ela não teve mesmo outra alternativa do que a da de mudar-se para bem longe daqueles demônios.
E logo que os arruaceiros viram a casa desocupada passaram a depredá-la de forma constante e cruel, descarregando nas suas estruturas, todo aquele ódio louco, fermentado nas entranhas viciadas.
A mãe de Gabriela tentara seguir o conselho da vizinha mais antiga: "Antes da menina dormir, logo que ela se deitar, é bom alguém contar-lhe histórias para ver se entra algum juízo na cabeça".
Mas não adiantava, de vez em quando parentes passavam noites insones contando histórias, num tom de voz aveludado, macio e nada. Nem assim Gabriela se emendava.
Pois então surgia agora a oportunidade para Gabriela redimir seus pecados. Ela faria um concurso para trabalhar no funcionalismo público. Ela tentaria a única vaga disponível que se encaixava com perfeição no seu perfil: Gabriela seria vigia de cemitério.

Capítulo II

A concentração dos candidatos seria na Escola Estadual Professora doutora Joana Manoela dos Santos, a partir das oito da manhã, daquele 16 de abril.
Gabriela Tijolada chegou ao local dos exame com o amásio Daniel da Carroça que diigia o carro velho. Ele não tinha medo de ser parado e detido pela fiscalização por não estar habilitado.
E mesmo o analfabetismo que o impedia de compreender os sinais de trânsito, estampados nas placas plantadas nos postes das esquinas, era empecilho para a prática da tal direção temerária.
Todos os candidatos reunidos no pátio da escola, aguardavam as instruções que seriam dadas pelos alto-falantes fixados em locais estratégicos.
Enquanto a orientação não vinha um som tranquilizante vibrava em baixo volume e uma voz macia afirmava: "Tupinambicas das Linhas, um local abençoado..."
Gabriela conversava com Daniel da Carroça e ambos mostravam-se descontraídos, quando de repente, sobre Gabriela Tijolada, vindo de um bando de pombas voejantes no local, um bombardeio de cocô a atingiu vexando-a.
Daniel maldisse a sorte da amante: havia mil pessoas naquele pátio, mas a centena de projéteis branqueados atingiu justamente o cangote da mocréia.
O rebuliço se agigantantou e percebiam-se vozes que se insurgiam contra os organizadores do evento. Muitos queixavam-se do tempo de espera e também do descaso que sofrera Gabriela, a embosteada.
Mas para o alívio geral daquela gente toda, soou a campa indicando aos candidatos que deveriam entrar, com muita calma naquela hora, nas respectivas salas onde se submeteriam às provas.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui