O lobo Mil
Fernando Zocca
Num ribeirão de águas límpidas, certa vez, um cordeiro ainda muito jovem, parou para saciar a sede. Ele bebia em paz, quando de repente, logo acima do lugar onde estava, parou também um lobo mal encarado.
O lobão disse para o cordeiro:
- Seu vagabundo! Você está sujando a água que bebo. Será que não percebe?
O cordeirinho notou que o fluxo de água vinha do local onde o lobo-bobo estava, para o ponto em que ele - cordeiro - parara. Então a ovelha respondeu:
- Como é que posso sujar sua água, se a água que você bebe, não passa por mim. Aliás é você que turva a que bebo. Não percebe?
O bobo lobo notou que realmente quando ele colocava o focinho na água, os sedimentos arenosos do fundo, acompanhando a corrente, desciam e chegavam até onde estava a ovelhinha.
Então sentindo-se envergonhado, com a ignorância própria, o lobo-bobo-tonto disse mais bravo ainda:
- Se não foi você que sujou minha água, foi seu pai! Dizendo isso o lobão malvado tentou pular sobre o carneiro, que por não ser tolo, saiu em disparada.
Essa atitude equivocada do lobo-bobo é semelhante àquela do sujeito desejoso que o filho de alguém, pague por um crime do pai dele, desse alguém.
Diante das leis de Deus e também das leis dos homens, cada um responde por seus atos, por suas ações. Ninguém pode ser culpado por algo que não fêz.
Se o lobo-lelé desejava aplicar aquele princípio da reciprocidade (olho por olho, dente por dente) deveria sujar as águas do pai do carneiro e não do filhote, que não tinha nada a ver com as quizumbas do pai dele.
A vingança que o lobo desejava fazer atingia o sujeito alheio à história passada. O filhote de carneiro não tivera participação. O carneirinho, no tempo que o pai dele sujou a água do lobo, não tinha capacidade - por ser muito neném - para compreender o que estava acontecendo. E mesmo que tivesse, talvêz não dispusesse de poder para impedir que o pai sujasse mesmo a água do lobão raivoso.
Moral da história: É bom ficar esperto, o mundo está cheio de lobos-bobos que confundem as coisas atribuindo a responsabilidade a quem não tem nada a ver com a história.
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