Usina de Letras
Usina de Letras
57 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62245 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50643)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->As pipocas do senhor doutor -- 12/03/2008 - 15:55 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As pipocas do senhor doutor

Fernando Zocca

1. 2008

O sonambúlico doutor Silly Kone, psiquiatra de Tupinambicas das Linhas, sentindo-se zonzo naquela manhã fria de 24 de Junho, examinou a agenda de compromissos do consultório, e por não constar nada de interesse, voltou para a cama.
Ele percebeu-se fora de forma, por isso seus movimentos estavam lentos. Os cabelos desgrenhados e a barba por fazer, em outro local e hora, poderiam indicar deterioração mental, passível de socorro.
Mas Kone não se preocupava muito com o que pudessem pensar dele. Então notando a halitose insuportável, levantou-se novamente e, no banheiro, escovou os dentes.
Ao terminar o ato, bafejou o espelho, fazendo após, na película vaporosa, com o indicador direito, um T.
Aliviado retornou para a cama. O quarto tinha condicionador de ar, e a temperatura agradável, apesar do ruído, fez com que Kone pegasse logo no sono.

2. 1967


O menino de olhos verdes, descalço, vestido com short preto, sem camisa, aproximou-se da turma de crianças, reunidas naquela manhã de sábado, na rua perto da escola, onde naquele horário não havia aulas e, pedindo para participar da pelada, disse chamar-se Sidney Morgano, sendo morador no quarteirão de cima, numa casa dos fundos de uma loja pequena de armarinhos.
Os meninos naquele dia, brincaram, todos juntos, sob o sol escaldante, até o momento em que foram chamados, por suas mães, para o almoço.
Depois da refeição as crianças voltaram para a rua, mas sem a bola, desaparecida após um chute violento do Kone, que a fez sumir sobre os telhados das casas vizinhas, durante uma brincadeira no quintal. Eles passaram o resto do tempo, naquele dia, divertindo-se com o pega-pega.
Num certo momento da correria, Morgano convidou Kone para irem à sua casa, onde beberiam água.
Para entrar os dois meninos, pecorreram um corredor comprido, ornado com 7 vasos de comigo-ninguém-pode, encostados na parede do lado direito de quem saia, ingressando na sala onde, além da mesa circular, uma estante com livros de odontologia, havia também um pickup grande, daqueles que combinavam rádio e toca-discos.
Passaram pela sala e na cozinha saciaram a sede. Na volta Kone quis saber como funcionava aquela máquina. Morgano mostrou o aparelho, abrindo-o e explicando que tocava long-plays que giravam 33,33 vezes por minuto.
Kone lembrou-se logo de um primo, que por ser rádiotécnico, tinha também alguns dequeles na sua oficina. Mas para mostrar como era o mecanismo do engenho, Morgano ligou-o fazendo tocar From Me To You, dos Beatles.

3. 1970

Então Sidney desceu do banco do carona da pickup, que ficara parada com o motor ligado, defronte a casa do Kone, e batendo com força na porta da residência, chamou o amigo para uma viagem.
Silly não esperava por aquilo, mas entusiasmado, porém curioso pelo que motivava aquele convite inusitado, aceitou o passeio.
Silly Kone subiu na carroceria da pickup que era dirigido por um amigo do Sidney, e foi então desprotegido do mesmo jeito que ia, quando um tio açougueiro o convidava para ver o sítio, onde tinha plantações de melancia e abacaxi.
Depois de algumas horas de viagem desconfortável, em que vascolejaram muito, chegaram ao local não identificado por Kone.
No sítio foram logo recebidos por duas mulheres, que áquela hora da manhã, já preparavam o almoço. Enquanto esperavam, os três rapazes, arreando dois cavalos propuseram-se a laçar um boi no pasto.
Chovia naquela hora, e Kone montava um dos cavalos; o outro montado por Morgano, fazia sobrar a pé o dono do sítio, que se desesperou ao ver um dos bois, a serem laçados, fugir encosta abaixo.
O dono do sítio, com um gesto brusco, fez Kone apear da montaria, ocupando o seu lugar. Pegando o laço que estava na sela, perto da sua perna direita, ele saiu em disparada no encalço do boi fujão.
O animal foi laçado, trazido para cima, e preso na mangueira perto da casa.
Algum tempo depois as mulheres os chamaram para o almoço. A mesa posta, além do arroz e feijão, tinha muitas carnes; havia bifes de carne de porco, de vaca e frango frito. Todas muito mal passadas.
A conversa entre as quatro pessoas, durante a refeição, pareceu estranha e muito esquisita ao Kone, porém não o impediu de satisfazer-se com tanta iguaria.
Após o almoço, Kone acendendo um cigarro, sentou-se numa poltrona instalada perto da porta da sala, enquanto todos os demais integrantes do grupo, reunidos na cozinha, papeavam alegres.
Depois das 17 horas, os três rapazes se preparavam para voltar. Colocaram muitas coisas na carroceria da pickup, cobrindo-as com um encerado. Kone, com algum esforço, subiu na caçamba pisando no pneu direito trazeiro e sentando-se sobre a lona úmida.
Ele se arranjava para o desconforto da volta, quando depois de todos embarcados, uma das mulheres saiu da casa oferecendo pipoca aos viajantes.
Nenhum dos dois rapazes aceitou, só Kone pegou aquele pacote, entregue pela mulher, que lhe sorria amável.

4. 2008

Silly Kone acordou as três da tarde. Não tinha tanta vontade para voltar ao consultório. Apesar de tudo sentia-se ainda muito cansado. Precisava de férias. Se possível perto do mar, numa praia ensolarada e aprazível onde pudesse desfrutar de bons momentos até então escassos na sua vida.
Mas, apesar dos desejos ardorosos de mudar um pouco de ares, logo o telefone tocou trazendo-o ao dia-a-dia. Era uma cliente que morava na vizinhança, desejando marcar uma consulta para a filha adolescente, de quem suspeitavam estar acometida pela esquizofrenia hebefrênica.
O doutor Silly Kone tinha mesmo que trabalhar.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui