Ficava olhando do terraço lá de cima aquela espuma branca que ia e vinha.
Dava pra escutar um barulhinho de longe e o murmúrio das pessoas na areia, não muita gente, nem chamavam a atenção. Mas as ondas, as ondas sim, prendiam a vista, fixava o olho e chegava até a ficar mareado de tanto olhar aquele ir e vir e um ligeiro movimento para a esquerda e para a direita, não conseguia parar de olhar. E sorria com a espuminha, que espocava lá em cima quando a onda estava no alto, depois descia com toda a força quem não saísse de perto era quase arrastado.
Às vezes via a formação de um funil, que medo que dava e tinha gente que ficava la dentro, como podia? Outros passavam por cima com suas pranchas. As cores mudavam vez em quando do verde para o azulado e manchas verdes mais escuras, barcos lá longe, para onde iriam, de onde vinham, gostava de imaginar os barcos furando o mar com força, as lanchas em fúria empurrando os espaços que abriam na água.
Ficava horas, onda vai onda vem, gente entra, gente sai e aquilo ia entrando na mente e no corpo, saindo da realidade, imaginando a sensação da espuma na pele, o sal, a cabeça molhada, o barulho oco de fundo do mar, o corpo flutuando, quase caia lá de cima. Ia ficando quente, ia ficando hipnotizado, ia ficando destacado da vida real e então em supremo esforço conseguia tirar o olho e nem esperava o elevador, descia as escadas correndo, correndo atravessava a avenida, corria pela areia os pés queimando, corria, corria, tropeçava, levantava, entrava correndo que delicia no mar, mergulhava, boiava, virava sal, virava água, virava mar.
Tita
7/11/2008
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