Não meus amigos definitivamente não sou burra. Sou loira, tingida mas não sou a mula que vocês estão pensando. Eu sou comerciante. De tanto falarem que era vagabunda, que não trabalhava que vivia de terêrê nas ruas do bairro, resolví abrir o meu comércio para o povo. E ele tem freqüêntado. Entram duas ou três pessoas por dia. Passam, olham perguntam como vou, se tá tudo bem ou não, entram, pegam na mercadoria, alisam perguntam o preço e saem. Está difícil viu!
Tem um homem que é muito do louco, metido religioso que mora na casa de cima, logo depois da esquina. O cara me olha de um jeito estranho. Acho que ele pensa que eu sou fácil.
Eu não converso com ele. Só fala de coisa que eu não entendo. Fala de recessão, do dolar, do pouso da economia americana e não sei mais o quê. O cara é louco mesmo.
Mas eu tenho uma amiga, uma moreninha muito da batuta que está sempre aquí na minha boutique. Ela me disse que aquele velhote estaria de olho gordo nela, na minha boutique. Mas eu não acredito.
Depois que o velho sai nós vamos até a frente da casa dele e jogamos um saquinho desses de plástico, sabe? É para significar que ele já encheu o nosso saco!
De vêz em quando também nós jogamos uma embalagem daquele bombom "Sonho de Valsa" que é prá significar que ... "o rico fica cada vêz mais rico e o pobre cada vêz mais pobre... Oi que bom bom bom".
De manhãzinha, quando o chato ainda está dormindo, minha colega, começa a lavar sua calçada com aquela mangueira enorme. Quando ela vê que não tem quase ninguém na rua ela solta seus cachorrinhos e eles como que se ensinados fossem vão lá prá frente da casa do velhote para aliviar as tripas.
Nós ficamos na entradinha do meu comércio só observando a reação do velho. Quando ele se mostra irritado aí é que nós fazemos mais e mais malvadezas.
Meu marido é trabalhador mas é chegado numa caninha que me apavora. Quando enche o pote, meu Deus! Até desmaiado na calçada ele fica. Acho que todo mundo olha e vê. Tenho vergonha mas o que vou fazer ?
Bom deixa eu ir embora que amanhã tenho que levantar cedo. Quero ver se consigo ler o jornal. Faz muito tempo que não leio nada. O velhote tem acordado depois das sete. Dá tempo de emprestar o seu matutino sem que ele saiba.
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