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Contos-->QUANDO FOR À UMA CIDADE, VÁ PRIMEIRO AO CEMITÉRIO-MINI CONTO -- 22/03/2001 - 03:14 (denison souza borges) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Mas, pelo amor de Cristo, o que fazemos neste lugar?
Felice Boyler perguntava indignada, ao perceber que adentrara no Cemitério de Viena.
Dr. Átila Kepler deu uma tragada no seu cachimbo e, ajeitando seu terno impecável, respondeu tranquilamente a pergunta precipitada de sua fiel – porém ingênua – secretária particular Senhorita Boyler:
- Minha jovem, sempre que chegar numa cidade, vá logo visitar os mortos – são os mais nobres cidadãos de qualquer lugar - depois resolva seus problemas triviais com os vivos.

Felice não parecia entender o seu recente empregador e, após dar uma batida na poeira da sua calça jeans surrada, encostou-se levemente numa lápide com expressão questionadora.
O experiente Átila percebeu que deveria esclarecer mais os seus motivos fúnebres.
- Minha cara, os mortos estão mais vivos do que nunca; você chega na cidade e percebe, nas instituições em geral, jovens entregues ao ostracismo, mortos, desiludidos, sem idéias. As grandes idéias estão aqui no cemitério, em qualquer cemitério do Mundo.

Eles caminham lentamente por entre as lápides enquanto o Doutor explica a importância de algumas almas ali presentes. Ao passar pelo túmulo do Dr. Freud ele suspirou:
- O que seríamos de nós, homens civilizados, do século XXI, sem as idéias deste Homem?
Ao passar pela lápide de Richard Wagner, outro suspiro:
- Oh, minha jovem, o que seria da ópera sem este grande homem? Ela teria se extinguido muito antes, pois já estava fadada ao fracasso.
Faltando pouco para se aproximarem da nobre lápide de Ludwig Van Beethoven, o doutor percebeu o semblante carregado da sua secretária; deu-lhe um lenço e atiçou:
- Minha jovem, o que te perturba o humor?
- Ainda não compreendo as suas razões em valorizar tanto este lugar, senhor?
- Minha cara – falou docemente o doutor enquanto acendia novo fumo no cachimbo – eu não confio e nem aposto na capacidades dos vivos, eu só admiro quem já morreu. Lembro-me da primeira vez que visitei Praga e, assim que cheguei à cidade e fui logo ao cemitério afim de visitar Franz Kafka, havia chegado um defunto novo e, quando perguntei ao coveiro de quem se tratava, o homem respondeu que era apenas um médico sem importância. Dois meses depois li nos tablóides que aquele homem havia feito descobertas incríveis no tratamento do mal da vaca louca; descobertas essas somente averiguadas - com acuidade - após a sua morte.

Felice estava estarrecida com a história do doutor, mas aquilo não parecia convencê-la. O doutor percebeu a elegância do andar de sua secretária, percebeu a forma graciosa que ela segurava o cigarro Camel e se preocupava em convencê-la de seus pensamentos.
- Felice, eu entendo...você é jovem, mas eu sou um velho, arcaico, catarrento, meus ídolos e heróis já morreram faz muito tempo. É difícil explicar certas coisas à você, minha jovem. O Mundo está mais retardado hoje, não há mais gênios como na Renascença ou como na Idade Antiga.
Naquele momento o doutor interrompeu para assistir à um velório que adentrava o lugar. O morto parecia ser célebre, muitas pessoas acompanhavam o cortejo. Quando ele se aproximou do defunto e percebeu que era o nobre maestro da Orquestra Sinfônica de Viena, gelou e ficou ali em pé oferecendo as suas homenagens. Por um momento levantou as vistas e, virando de lado para Felice Boyler, falou um pouco baixo, mas com veemência, diretamente ao ouvido da jovem, para Ter certeza que desta vez ela entenderia:
Minha cara, o cemitério é Vida, a cidade...bem, a cidade já morreu faz muito tempo.
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