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Artigos-->O CHALEIRA -- 25/11/2002 - 09:16 (Jeovah de Moura Nunes - 1) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Chaleira" tem tres significados. O primeiro e´ o mais usual: vaso de metal, aproximadamente semi-esferico, com bico, alça e tampa, em que se aquece agua. O segundo diz respeito ao soalho ou conves da popa de navios baleeiros. Tambem se refere `as tabuas de proa da lancha baleeira, de onde se lança o arpao.



O terceiro signficado e´: "bajulador". Primeiro nasceu da giria. Hoje esta´ incorporado ao nosso rico glossario do idioma, embora em desuso. Tal significado proveio do comportamento dos assessores do chefe politico Pinheiro Machado, os quais tinham fama de bajuladores. O famoso politico gaucho conservava no Rio de Janeiro o habito de tomar chimarrao. Os ditos bajuladores permaneciam sempre atentos, no intuito de servirem ao cacique politico, com a chaleira de agua fervente, para o preparo da infusao do mate.



-Traz a chaleira ai´, o Fulano!



Entao, a partir do "pegar no bico da chaleira" desde a epoca getulista, passando por "chaleirar, sabujar, adular, bajular e lisongear", muita agua rolou pela chaleira.



Hoje vivemos os tempos que infundem menos respeito e mais leviandade, mesmo no trato com o mais sublime dos sons: a palavra. Entao "chaleira" virou "puxasaco", assimilado tambem como vocabulario da lingua portuguesa, falada em nosso pais, apesar de classificado como chulo.



"Chaleira" e "puxasaco" sao a mesma coisa. A diferença e´ que hoje, em face do alto indice de desemprego, eles pululam tanto nas empresas privadas quanto nos serviços publicos, mormente no municipal, pela razao muito obvia de existirem ai´ uma quantidade respeitavel de cargos por apadrinhamentos e os donos do poder na cidade serem vizinhos dos apaniguados.



Em todos os lugares de nosso pais o "chaleira" ou "puxasaco", como queiram, tambem tem a funçao especifica de "guarda-roupa". Nao. Nao me refiro ao tradicional movel do quarto. Trata-se do homem que cuida de defender seu padrinho, ou de tirar a saude dos rivais de seu padrinho. Nao e´ em absoluto o "guarda-costas". Este e´ o homem treinado e pago para proteger figuras exponenciais. E´ um profissional. O "guarda-roupa", que e´ o "chaleira", que e´ o puxasaco nao e´ um profissional. Ou ate´ pode ser. Mas, sera´ profissional do chaleirismo, ou do puxasaquismo.



Vamos dar uma espiada na Historia.



Na madrugada do dia 5 de agosto de 1954, o heroi da FAB, major-aviador Rubens Florentino Vaz, 32 anos, casado e pai de quatro filhos, foi morto com dois tiros, na rua Toneleros, na entao capital do Brasil: Rio de Janeiro. O jornalista Carlos Lacerda que acompanhava o major e era o alvo da fuzilaria - porque vinha fazendo uma campanha contra a corrupçao do governo de Getulio - ficou ferido com um tiro no pe´. O brigadeiro Eduardo Gomes deu uma declaraçao que mudou os rumos dos acontecimentos:



-Para honra de nossa patria, confiamos que este crime nao fique, a exemplo dos outros, impune".



Naqueles tempos os crimes politicos eram frequentes no governo de Getulio Vargas, tanto na ditadura como no governo legalista dele. Bastava alguem nao apreciar alguma coisa do presidente, para desaparecer misteriosamente. Tanto e´ que em maio daquele ano fatidico, ocorria a morte do jornalista Nestor Moreira, do jornal "A Noite". Nestor era casado e pai de dois filhos. Ele foi violentamente espancado pelo policial Paulo Ribeiro Peixoto, o vulgo "Coice de Mula", com a ajuda de dois vigilantes e sob o olhar do "comissario" do Segundo Distrito Policial. Apos onze dias de martirio o jornalista morreu.

Era comum a morte de jornalistas naqueles "bons tempos", como costumam dizer os mais velhos. E as praticas foram se confirmando ate´ a morte de Wladimir Herzog, no DOPS em Sao Paulo que, mudou a historia simplesmente porque nao foi o Brasil que se comoveu, foi o mundo inteiro.



Mas, voltando a 1954, aquele acontecimento comoveu a opiniao publica e revoltou toda a imprensa. O Estado Novo de Getulio era relembrado.

Com a emboscada contra Carlos Lacerda e a morte por engano do major-aviador ficou patente e sabido da participaçao nos diversos crimes, os "chaleiras" de Getulio. Os chefes dos inumeros "chaleiras" que havia no palacio do Catete eram dois: Gregorio Fortunato, o "Anjo Negro" e Lutero Vargas. Diante da enorme comoçao e revolta e das evidencias do atentado da rua Toneleros, o prsidente Vargas chamou os dois `a sua presença e pediu explicaçoes. E´ claro que ambos negaram. Mas, nao negariam se o atentado houvesse tido sucesso, isto e´, se Lacerda houvesse morrido. Todos ficariam contentes porque o governo Getulio teria sustentaçao sem os incisivos ataques do famoso jornalista. O povo esqueceria e todos seriam felizes.



O resto da historia todos sabem. Lacerda voltou com tudo. Trouxe provas da corrupçao e mostrou ao pais. E Getulio acabou se matando.



Era o fim de um politico semelhante a quase todos, que nao observam com mais atençao, com mais criterios e autocritica os inevitaveis "chaleiras", ou "puxasacos" a lhe acompanharem como um cortejo de rei, ou mesmo um enterro (o enterro do rei), disseminando o odio, as injustiças e a criminalidade.



Isto nos leva a deduzir que os politicos em todos os paises podem ser tudo: inteligentes, honestos, ousados, francos, fieis e grandes estadistas. Mas, nao escapam de uma coisa: sao burros!





(Jeovah de Moura Nunes)

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