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Contos-->O funileiro louco 2 -- 08/05/2008 - 16:35 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O funileiro louco 2


Fernando Zocca


- Minha vida é um litro aberto. Todo mundo sabe tudo sobre mim. Ninguém desconhece que meu pai foi carteiro, em Tupinambicas das Linhas; que ele era um pingão também assim como eu. A vizinhança inteira sabe que me casei com a filha de um carpidor, trabalhador braçal, da Escola Fazenda Oligárquica da cidade.
O funileiro Nelson Chalumeau murmurava, sentado na calçada, defronte ao bar da tia Cris. Dos demais bebedores, três deles, permaneciam acomodados na mureta do boteco, situado numa esquina do bairro Dependência, orla da urbe. Nelson Chalumeau continuava a arenga:
- Tenho 45 anos e nunca fui tão maltratado desse jeito. Todo mês dou um lucro de R$500 a R$ 600 para o dono desse chiqueiro. Agora, só porque atrasei um pouquinho, quer falar mal de mim, pra todo mundo. Ô ingratidão!
Enquanto Nelson resmungava, deprimido e arfante, ocupando boa parte da calçada, Luisa Fernanda, a gerente do banco Brafresco, conduzindo Magna, a cadela poodle, percebeu que a peluda, ao ver aquele obstáculo diante de si, começou a protestar latindo; então a mulher disse empinando o nariz:
- Gentalha! Venha querida, não chegue nem perto desse pudim de pinga. Olha quanta mosca!. - dizendo isso, Luisa Fernanda carregou Magna nos braços, mas ao passar por Nelson, não notou um montículo de fezes que algum outro cachorro depositara ali por perto.
Esfregando a sola da bota de bico fino, no chão e protestando contra essa gente, que leva a cachorrada pra passear, mas que não recolhe os produtos expelidos por seus bichos, Luisa sentiu que já não tinha tanta paciência, como antigamente, vendo-se por isso mesmo, mais nervosa e indelicada, por tão pouco.
Nelson Chalumeau, ao notar os gestos de repugnância, feitos por Luísa Fernanda ao vê-lo sentado na calçada, achou que deveria mostrar àquela maluca que ela não era assim tão mais importante que os demais. Então o funileiro, começou a escarrar.
O rosto do Nelson, vermelho e inchado, sobressaia num fundo composto pela parede do botequim, emoldurado pela cabeleira cinza desgrenhada. Babando e pronunciando palavras incompreensíveis, Chalumeau expectorava fazendo alarde. Ele desejava que os ruídos emitidos por ele, fossem ouvidos pelos circundantes.
Luisa Fernanda passou rápido por aquele homem, quase estendido no passeio. Com muita raiva ela disse:
- Ocê ainda vai morrer cagando, seu lazarento! - Enquanto Luisa imprecava, Magna a cadela odienta latia.
Ao terminar a transposição daquele obstáculo amarfanhado, jazido no meio da passagem, Luisa reuniu um restinho de ressentimento e soltou:
- Vai cagar, ô baboso! Cuidado pra não se estourar na privada!
Todos os demais colegas do Nelson, que permaneciam sentados na mureta do bar, sentiram a maldade com que aquelas palavras foram ditas. Dois deles resolveram protestar, mas um outro, achou que não deveriam intervir. Afinal o funileiro louco criara a confusão, portanto tinha agora que solucionar os problemas subseqüentes.
Luisa Fernanda, depois dos vitupérios lançados contra Nelson, e ao virar-se para frente, para prosseguir a caminhada, quase trombou com a Inês Chalant que vinha em sentido contrário, de braço dado com Custódia.
As duas, assustadas, ainda puderam ouvir os lamentos de Nelson-boca-podre, que cuspia e babava, sentado agora na sarjeta.
Inês disse de forma muito delicada, temerosa que as agressões e insultos, dos rixosos, fossem direcionados a ela:
- Quanta falta de educação, dessa gente, não comadre?
- É sim. No meu tempo de moça, não tinha tanta palavra fácil assim! - respondeu Custódia.
- Vem cá ô INSS, que eu quero falar com você! Espera ai, ô velha safada! - gritava Nelson que confundindo Inês com INSS, levantava-se cambaleante, tentando alcançar as duas companheiras assustadas.
Ninguém ali do bairro, nunca vira antes, mulheres idosas, correndo daquele jeito, que correram as duas amigas, naquela tarde.

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