REENCARNAÇÃO
Por: Amy Higgins
Insanidade fértil de mistérios,
Rastro de sangue, dor e vitupérios
Cuja força absoluta subjuga
A vontade do liberto a esta
Carne que apodrece e enruga.
Um horto de lamúrias e tormentos,
Jardim de pavores e excrementos,
Retorno ao covil das víboras traidoras.
Sair de paragens redentoras
Para renascer na carne apodrecida,
É como abandonar dulce acolhida
Nos braços da viva morte
Para aceitar a triste sorte
Descabida de um morto vivo,
Um morto em vida.
Ainda pior reencarnar longe dos seus,
Entre esses horrendos pigmeus,
Rebentos de um mundo
De monstros dantescos.
Sair da companhia de ancestrais dadivosos
Para caminhar entre os espinhos,
Deixar a opulência dos caminhos
Para perambular na solidão dos descaminhos.
Reencarnei contra minha vontade
Neste lugar de pedras e secura.
Deixei sedas suaves de brancura
Para deitar na cama da solidão,
Quase loucura.
Na lama das estradas nunca pisei,
Sou prisioneira encarcerada
Em cidade e país que nunca amei.
Não sei onde foi que eu errei,
Nem o que fiz para cair no abismo.
Só vivo cada segundo ansiando sair desta prisão,
Voar, nadar, ser livre e ao meu povo retornar.
Será que um dia terei a sorte de regressar?
Ou será sempre esta “vida eterna morte”
Que insiste neste corpo habitar?
Quando tentei morrer não me deixaram,
Porém, onde nasci nunca me amaram
Nem deixaram ao meu mundo eu voltar.
Espero seja breve este encarceramento
Em corpo verminoso e macerento
Que é vulto encralacrado em vil tormento.
Ainda, se um dia me deixarem,
Espero ter asas e voar,
Partir deste escabroso lugar
Para correr estradas em outros mundos.
Deixem-me partir!
É o que peço.
Espíritos de luz, feliz regresso à fonte,
Ao luar, ao coração vivo a pulsar.
Deixem-me voltar à imensidão do tempo
Em que vivi feliz nas areias do deserto.
Por que vim para cá?
Isto é penúria!”
Lugar de isolamento,
De vermes feios e lamúria.
Por que eu reencarnei nesta clausura,
Nesta cidade suja, fétida e escura?
Qual velha e abandonada sepultura.
Em 25 de dezembro de 2008.
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