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Contos-->UM BRINDE AO AMOR -- 24/03/2001 - 12:12 (Maria Dalva Junqueira Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM BRINDE AO AMOR
ANTOLOGIA 2000 - V concurso de contos
Prof. Venerando de Freitas Borges (Goiânia)200

Maria Dalva Junqueira Guimarães

Quando se conheceram, em 1987, Margarida já se consumia em dúvidas. Mas... não queria acreditar. Foi levando por longos 20 anos.
Desde o início se encontravam nas sextas-feiras e aos sábados à noite. João chegava sempre muito tarde, dizendo que estava vindo da faculdade, onde era professor no curso de Administração de Empresas. Ele inventava e Margarida não acreditava, mas também não refutava. Tinha de engolir suas desculpas esfarrapadas para justificar suas chegadas tardias. Ele dizia:
.aquelas desculpas esfarrapadas para justificar suas chegadas tardias. Ele. dizia:
–– Depois da aula fiquei batendo papo com os amigos, e nem dei fé do avançado da hora. E já passava da meia noite.
–– Com os amigos, João? Se pelo menos fosse com alguma garota!
–– Mas o que tem ficar batendo papo com os amigos?
–– Ara!... sei lá! me trocar por um bando de amigos!
Viajar juntos? Que ilusão! Jamais a convidara para uma viagem. Mesmo que fosse à Pousada do Rio Quente ou Caldas Novas onde ele sempre ia nos fins de semana, sabe-se lá com quem!
E o Carnaval? Época propícia para entrar numa escola de samba disfarçado das personagens as mais bizarras e extravagantes.
–– E por que ele não a levava para essas quebradas da vida? Estaria muito velha e fora de moda que precisava ser apenas objeto de cama e mesa?
A boboca da Margarida só servia para preparar-lhe um jantar ou um almoço apetitoso acompanhado de chucrute, e depois para a cama saciar-lhe os instintos animalescos. Ali " peladona, montada sobre seu corpo, e ele pedindo outra, e mais outra, volta e meia a sapecar, estaladas, beijocas na ponta do nariz dele, recém dera a primeira: lógico que gostou, " que diacho!", mas todo homem tem o direito de se cansar, ou será que não tem? Ora mais uma? Olha aqui, gringa, pensando bem até que dá."
Mas essa história de beijinho mais beijinho, de tanto beijocar, pode até que um homem, por garanhão que seja, ao encontrar égua no cio fique enjoado. Inda mais, na função do deixa que " eu mesmo tiro a roupa", a leoa teve um troço , um faniquito, e só porque ele, cheio de nós de fricotes, recusou um daqueles grudes chupados, tipo desentopepia e nem queria saber de cafuné (Tu tá vendo –mesmo indignada a guria do interior acabou saindo machucada com tanto desencontro). Mesmo que o amor faça tudo parecer real, dizia alguém filosofando, parceiros de porquês, todos de fraque, bem penteados, donos de seus narizes, na telinha, o amor é um negócio complicado, "tchê", e se lembrou, a propósito (precisava se segurar, tinha que render), de um versinho, versinho?, assim:
”Na quentura de minhas dobras/ seus dedos passeiam apressados/
correndo essas veredas escondidas/ crepitando chamas nas campinas/
dos meus seios duas lareiras incendiárias/ seus dedos agitados
desvendando os mistérios nas dobras do meu corpo"
Bobalhão! Complicado esse negócio de amor. Tu gostou João?, (ou melhor, digo, Fred – o Frederico), "tu não tá vendo, gringa?", tivesse ou não, aquelas pernas intermináveis e movediças, brancas como o merengue que a vó fazia, não se cansava de provocar, e atrapalhavam a pontaria. Margarida, jeito tímido de sorrir, meio estrábico, e essa mania de beijocar a ponta do nariz dele: se arrepiava com os beijos dela, repetidos, curtos, e meio sobre o inconsciente, tinindo, a ponta de, se lembrou da primeira vez que montou cavalo: Upa-upa-upa, cavalinho alazão, e assara as pernas pelo lado de dentro, pelego esquecido, chincha solta, trote de tio vaqueano, nunca mais montou," a não ser mulher, ! né, João?, " que diacho!" Sentia que ela não estava satisfeita, era uma, duas, três, um nunca acabar de, " né, João? Vamos de novo? E ela por cima, cavalgando, sacudida, a leoa, as pernas dela apertando a cintura dele que nem cincha em pelego: "Anda, João, que moleza é esta?, gringa reclamando ação, e tome de beijinhos, implicantes, na ponta do nariz dele, um quase nada arrebitado – nariz arrebitado ficava bem em guria– e ele trepava nas pernas dela e se alojava ali. Apertava suas mãos magras de dedos longos. Até que os dedos da leoa são bem feitos, longos, bem arrumados, sem calos, unhas sem esmalte, raro de se ver. Resiste, homem! Aquela leoa sob o lençol, mais o cobertor, as pernas dela seguiam assumindo a sua missão, apertando, apertando, e o corpo sele pesado se arrastando sobre o seu, pedaços de carne em curvas, e firmes, roçavam no queixo dela. E eles, embalados naquele jogo interminável do põe-e-tira e bota de novo, e quase-quase os afogam no prazer. Mas ele agüentaria, e por isso nem pensava em beijar o maciço daquelas protuberâncias: fantasmas ria?. Se beijasse não conseguiria segurar, e que vexame, "tche!" E Margarida molhava as calcinhas de tanto que ... Pensava: "Anda logo, João, acaba duma vez.." Ouvia-se gritos fantasmagóricos, e aí vinha, logo, logo, perdida a conta, e ele vinha, chegava, e ela, tremendo, estava ali, com meio-sorriso de leoa, bandida, as unhas arranhando as costas do João, dava a idéia de que se entregava, e se entregava , " ora, João!"
E onde andaria o malandrão? E os seus sonhos, aonde andariam?
Ultimamente andava arredio. Às vezes, até agressivo. E mentia, mentia e mentia. No início da segunda quinzena do primeiro mês do ano 2000 ela o pegou em flagrante. Aquela mentira cabeluda de que estava em Ribeirão Preto, quando na realidade, há uma semana que estava em Brasília. Sentiu como um tapa na focinheira, ao ver-se cara a cara com ele na entrada de seu edifício – o silêncio. Uma banal explicação. E vieram outras mentiras para justificar sua mentira..
Beijinho, beijinho, agora não lhe tocava. Só lhe restava curtir o gosto amargo do vexame. O gosto amargo da perfídia e a saliva pesada, os olhos molhados. E a humilhação. O desapontamento. E ela chorava e pensava: está gostando, João!" Só espero que tu tenha gostado, João".
E ela confessa:
—Ele mentir e mentir, sempre. Seria uma compulsão? Um vício? Uma doença?
E ele nem se chamava João, " não é mesmo?".
Ele mentia tanto e estava na "cara" que mentia. Certa vez me dissera que ia viajar a serviço do Banco e que ficaria uma semana fora – dando um curso numa capital que nem mais me lembro se Fortaleza ou Recife. Mas o local não vem ao caso. Poderia ser Salvador ou Manaus. Até os lugares ele inventava. Mas como eu ia dizendo, segundo ele, ficaria fora uma semana. E como pintou uma dúvida, martelando em meu cérebro, saí do trabalho, às três da tarde e vim para casa telefonar para o trabalho dele. E qual não foi minha surpresa ao constatar pela secretária que ele tinha ido ao dentista. Disse para eu telefonar no final da tarde que ele já estaria de volta. Senti um baque que nem tem tamanho. Fiquei tonta, como se tivesse levado uma pancada na cabeça.
Mas, encurtando a conversa, a grande revelação, foi na virada do século, na entrada do tal ano 2000, que veio logo anunciando mudanças radicais na vida dela com João. Nem foi bem na virada do milênio, há algum tempo atrás que ele já vinha escorregando .
Era muito cara de pau, o João. Inventava que a casa dele estava cheia de visitas, com que estaria com o pessoal – políticos... Nem saberia quantas vezes usou esses figurões para desaparecer nos finais de semana. Turistas?!...
Assim, ele sumia Não tinha mais tempo nos finais de semana; ele inventava. um curso de atualização ali, uma partida de truque acolá, um churrasco no setor de mansões... Creio mesmo que os encontros clandestinos se realizam numa mansão, no Parque Way, ou no lago. Lugares fáceis de se esconder e não ser pego em flagrante, fugas dissimuladas com a ajuda de seu aliado, sua majestade o celular – facilitando suas mentiras cabeludas!... Estava em Brasília e dizia que estava em Campos do Jordão, Ribeirão Preto ou São José dos Campos. Outras vezes dizia que estava em Belo Horizonte, outras vezes inventava uma pescaria. Pescaria? (ele que adorava uma mordomia) Imaginem! Acampar na beira de rio!?... E quando chegava da suposta aventura. Nunca aparecia com peixe nenhum! No mínimo chegava todo bronzeado, com ares de uma longa temporada
E foi aí que veio a amarga revelação. Através de um sonho, após um jantar na casa dela, acompanhado de peixes e vinhos. Através de um sonho, quando ela lhe disse que iria vê-lo no seu trabalho e ele se rebelara:
–– Não!.. Não vá ao meu trabalho!...Henry também trabalha lá. Ele não iria gostar de vê-la comigo.
––Mas, quem é Henry, afinal? E porque não iria gostar que eu fosse lá?
–– É que estamos apaixonados. Ele é ciumento.
–– Mas que história é essa, João?
–– É um caso antigo, o nosso relacionamento. Não dá mais para negar.
–– Mas, quem é o passivo, você?
–– Diacho!... Olha aqui, gringa, não existe ativo ou passivo. Nós nos amamos e no entendemos de diferentes formas . O amor é um negócio complicado. Não dá para ficar explicando. Acontece, e pronto! Se o nosso amor for proibido, analisando tais fatos, na época de hoje, com a visão de dois séculos me permite argumentar: se o assunto da matéria em questão é sobre o Paraíso mesmo, o nosso paraíso continua como d´antes, forte e rijo, cheio de bananeiras e bananas. Repleto de Adãos e Evas esparramados pelo vasto continente nacional. No paraíso de agora, contudo, a serpente – que, como todos sabemos, tem vida longa – está envolvida com outros interesses, bem mais materialistas e muito menos dignos do que na época do velho paraíso.
Quanto ao fruto proibido da árvore do paraíso, hoje, o negócio do momento no jardim das delícias não seria a redescoberta de um novo território paradisíaco mais atraente e sedutor? Não há mais paraíso perdido. O paraíso é tudo que nos causa prazer.
*
Margarida acordou aturdida. Foi até sua adega, pegou uma "chuva de prata" e, sozinha, às quatro da manhã, brindou a morte de um "amor" de mais de 20 anos, envolto em mentiras e traiçõrs, e que há muito estava morto. Fora assassinado. Assassinado pela perfídia de um gay, que se passava por garanhão!
O falso João, – tudo um disfarce.
No meio da noite ouviu-se o estouro do champanhe.
O líquido espumante e gelado escorreu pelo seu corpo. Taça?!..
Bebeu no gargalho. Bebeu o líquido do veneno espumante.
E segregou: Um brinde ao amor, Margarida!

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