As apresentações de peças teatrais no interior de Pernambuco, nos idos de 1960, eram sempre interessantes e engraçadas, seja pela falta de recurso e excesso de improvisação, seja pelo próprio elenco, reunido às pressas pelo Diretor, o qual contava com pouquíssimos atores experientes.
O caso que passarei a contar, sucedeu em Caruaru(PE), e foi assim:
Um conhecido Diretor de teatro foi apresentar uma peça policial nessa cidade e no dia da estréia adoeceu uma personagem que fazia vários papéis.
O Diretor fez uma redistribuição dos papéis desse ator, dividindo-o com os demais; mas ainda havia um problema; o Diretor precisava de uma pessoa que fizesse uma cena na qual ouvia-se uma explosão e logo após aparecia um ator no palco, todo sujo de fuligem, rasgado e chamuscado, dizendo em altos brados: - Escapei milagrosamente- Escapei milagrosamente-
Não havia ator disponível para fazer esta cena porque logo depois todos eles entravam no palco e não haveria tempo para mudança de roupa. E a cena da explosão teria de ser feita!
O dono do cinema que alugou o prédio para encenação da peça, sugeriu a contratação do sapateiro local que adorava teatro e todo fim de semana apresentava peças de mamulengos para as crianças do lugar. - Se o Sr. Quiser ele fará essa parte de muito bom grado! - disse o dono do cinema-.
O diretor concordou e pouco depois chegava o sapateiro felicíssimo porque finalmente iria ter a chance de trabalhar numa peça de verdade.
Estudou o papel horas e horas, treinando dizer bem pronunciado:
- Escapei milagrosamente.
- Escapei milagrosamente.
A assistência aumentou consideravelmente pois todos queriam ver a estréia do novo ator quer surgia: O estimado sapateiro.
Casa cheia, Diretor feliz, e é chegado o momento. Ouve-se a explosão e pula para dentro do palco a figura toda chamuscada, rasgada e descabelada do sapateiro, gritando a plenos pulmões: - Milagrei escaposamente. - Milagrei escaposamente.