(“Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?” Titãs – in, Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas)
(“guerra é paz, Liberdade é escravidão, ignorância é força” – in, 1984 – Gerorge Orwel).
Como educador lamento perceber que não estamos sendo levados a série por ninguém.
Já é publico e notório nossos lamentos e pedidos de socorro. Todos estão cientes do quadro desastroso em que a escola publica se encontra. Quanto a isso, não temos mais nada o que dizer. Todos sabem, vêem, escutam. Os profissionais de educação estão cansados de indagar e solicitar ajuda. Enquanto isso, a escola pública agoniza.
O que me surpreende e que Ph.Ds elaboram suas teorias e com ar de perfeição, aparecem sorrindo, informando suas lógicas simplistas e tão óbvias tachando os educandos de “saudosistas” e sem preparo para exercer a tarefa de educar. Pois enxergamos nossos alunos “com esse olhar tão negativo”.
Foi assim que o senso critico do Ph.D. em Educação pela School of Education da Universidade de Stanford e ex-professor da Faculdade de Educação da UFMG , Miguel González Arroyo (Nós da Escola ano 1 – nº 8 – 2002. Pg 08), não deu trégua as nossas angustias.
Do alto de sua formação acadêmica nos informa que sente pena da “escola em que a infância ou a juventude perdeu o questionamento e a inquietação”. Nós, profissionais da educação, não estamos preparados para a inquietação do nosso presente. Tentamos, de forma saudosista, educar pela disciplina, ignoramos o quanto os dois conceitos são “desencontrados”. Pior ainda – e isso foi como Matrix – nós somos preconceituosos, pois tratamos como violentos os “pobres, os negros, filhos e filhas de setores populares”. Esquecemos que muitos de nós pertencemos ao mundo que condenamos. É o nosso “olhar negativo”.
Pobre de nós. Tirou-se o véu. Nada tem de pedagogia nesta forma de ver o mundo. Tentamos fazer as lições de Paulo Freire sem o ter entendido. Ler, entender e por em prática são coisas distintas. Simples.
Mas, apesar desta lógica Orwelliana – a vontade (como triunfo) dos “mestres” e “Ph.Ds” de nos mostrar o ano de 1984 - sentimos saudades do passado. Daí o “saudosismo”.
De que passado temos saudades?
Será que temos saudades da rigidez do Regime Militar, ou da formação cultural que este sistema - e todo um passado visto hoje como tradicional - exigia, nos legou?
Mas, é interessante notar que a classe de professores (dos profissionais de ensino em geral) que pratica a educação hoje é uma mistura de quem educava – e disciplinava – durante e até mesmo antes do Regime Militar, e de quem foi formado por ele. Então, sentimos saudades da Disciplina ou da Educação? Ou de ambos? Realmente são conceitos “desencontrados”?
Desencontrado está a teoria. Onde o teórico vê saudosismo, quem pratica vê compromisso com o projeto de civilização (vivemos em sociedades porque seguimos regras, mesmo precariamente, obedecemos aos sinais de trânsitos, sabemos o limite do que gostamos e do que “podemos” ter e conquistar); onde o teórico vê negatividade no olhar diante de nossos alunos, quem pratica vê carne sendo queimada ao sol da ignorância, descaso cultural com as etnias e minorias ao renegar as mesmas, a cultura e ordem que elite mastiga no seu dia-a-dia. Isso é violência, preconceito, crueldade.
Sabemos desta violência, deste preconceito, desta crueldade. Não sabemos da inquietação de nosso presente?
Existe um oceano entre quem pratica o ensino público e quem teoriza sobre ele. A simplicidade de uma teoria que se quer humana não condiz com a pratica de uma educação para uma geração sem emprego, sem saúde, sem futuro. O capital – preciso lembrar Marx ou será saudosismo? – é a regra do jogo. Não se repatiu o bolo.
Quem pratica a educação informa de forma veemente que a teoria precisa ser repensada, que a ordem que se quer, gerou uma desordem. O passado que se quer não é a ordem unida. O passado – os teóricos sabem bem disso – é espelho para aquele em que o poder escapa entre os dedos. Que a teoria, com o discurso de “humanitários e libertários” (como se liberdade e humanidade se consegue somente expressando sua cidadania), aumentou o fosso entre quem tem saber e quem não o tem. Projetos mil desta cidadania barata são vomitados, e o saber necessário da era que extrapola o limite da vida virou coisa do passado.
Ao retirar da escola pública os instrumentos que a mantinha ligada a realidade capitalista (principalmente a idéia de competir,“Deus” do Capitalismo vigorante) a teoria deixou nossos alunos na arena de leões do Império Romano: sem armas, pedindo ajuda divina. Não é necessária a graduação acadêmica para saber disso. As estatísticas do governo mostram isso claramente. E isso é o pior de todas as violências possíveis.
A liberdade que a teoria propõe deixa de lado a busca do saber necessário para a sua própria conquista. São os grilhões nos calcanhares. Os cintos vermelhos nas cinturas das meninas.
Se a educação é democrática, a escola pertence a todos, estamos seguindo a cartilha do teórico, porque estamos insatisfeitos? É somente porque, na nossa humilde visão de educador, sentimos que a escola não está funcionando?(será que o objetivo foi alcançado?) Lemos a teoria, mas não a entendemos? Não entendemos que o mundo mudou? Ou a teoria não esta dando conta dele?
Toda educação requer disciplina (ou se chegou a Stanford por acaso?). Em contra partida, educar sempre foi - para o bem ou para o mal - disciplinar. A teoria requer uma disciplina. Educar e Disciplinar, não são conceitos desencontrados. Eles sempre andaram juntos. De mãos dadas. Como acha que chegamos ao século XXI?
Não é quem pratica que interpreta de forma absurda Paulo Freire.
No limite das propostas de como educar, os teóricos estão nos disciplinando. Nós fazemos o que eles estão dizendo ser a verdade(?). O mundo é o que é.
Resta a pergunta que não quer calar: Quantos dedos você vê? Ou melhor dizendo: quem quer manter a ordem?