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Artigos-->Madama Mada - Dama Loucura -- 28/11/2002 - 15:06 (Ayra on) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Madama Mada:

Dama Loucura










Autor: Ayra-on


Revisão: Kilandra


Ilustração: Lumoné


Argumentos: Bruno Freitas e Klaus R.


Dedicatória: Ao Luiz, nova Luz na vida de Bruno F.











YAHAHAHAHA! – Ria e rodopiava em seu rodado vestido vermelho. Dona de seios fartos, branca como as pétalas de um lírio, olhos negros. Olhos eram envoltos em um vermelho que substituía o branco-dos-olhos devido aos cigarros e aos vários copos de cachaça. Era a puta mais carismática daquele lugar. Conhecia a todos e tinha certa influência, pois já estava ali já fazia muito tempo e sabia podres de muitos, por isso era perigosa demais... Perigosa demais. Seu jeito de falar alto, de mandar e por ter educação questionável lhe valeu um apelido: Madama Mada.





Difícil dizer a gênese desta história e mesmo contando parecerá um tanto confusa. Maria Madalena era uma linda menina do interior do Rio de Janeiro. Conservatória era um lugar onde o tempo havia se esquecido de visitar. A diversão de seus moradores era as serestas na Praça dos Namorados, o passeio aos finais de semana na cachoeira e falar da vida alheia. Existiam aqueles que se aventuravam em sair de lá em busca do grande Rio Babilônia, mas Conservatória era como uma prisão sem paredes que prendia-nos sem lugar para escapar.





Prendia-nos sim. Eu sou parte da gênese. Eu a criei. Fui o motivo maior da boa e da má sorte de Maria Madalena. Atirei a primeira pedra e retirei-lhe o cabaço.





Conhecemo-nos em uma festa de aniversário do Centoevinte. Centoevinte, como era conhecido, era o “prefeito” desse paraíso escondido. Era meio que lendário. Centoevinte recebeu esse apelido quando tinha 16 anos e quebrou a vidraça da casa do Seu Ezequiel que irado, o pegou pelo braço e bradou para que pagasse o concerto. Centoe inte então puxou seu braço e enfiou a mão no bolso olhando firme para Ezequiel. “Quanto vai ficar, eu pago... é Cento e vinte? Eu pago!” Todos riram, afinal, Centoevinte não tinha um vintém. Então, antes que o velho pudesse gritar “pega” ele correu como um louco. No outro dia não tinha outro nome senão Centoevinte, o único a enfrentar o velho Ezequiel, o tal neto de senhores de escravo.





Na festa Centoevinte recitava um de seus poemetos absurdos “Cachaça neta da cana. Caiana que é filha de Bruxo, se me bate me leva a cama, se não bate te levo ao bucho”. Eu já conhecia aquilo, todo ano era igual, mas do fundo surgiu uma voz meiga e firme de menina, rimou tão sereno que pareceu-me música:


“Cachaça pra seresteiro,


Feita pra beber rasteiro,


Bebo eu o dia inteiro


Com meu santo padroeiro.





São José toma imburana,


Curtida em seu toné.


Bebeu tanto da cana


Que se estranhou com Tomé.





São Paulo bebeu da cana


Do alambique do engenho


Disse a Antão em tom sacana:


Toninho tu tem dinheiro?





Se feita com cana doce,


Bagana de cana-mel


Faz Santo virado fosse


Diabo subir pro céu.





Gente lá do paraíso,


Embebido e passando mal,


Diz que Deus dá o Juízo,


E fez a pinga pra tirar o tal”.





Apaixonei-me naquele instante. Era tão vulgar a poesia e tão dissonante em seus lábios. Como se um verdadeiro anjo falasse lascivas palavras. Não me contive e puxei assunto. “Como vai? Lindo o versinho... Gosta assim de cachaça” já preparado pra garantir boas horas desse assunto que, por gosto, dominava. Respondeu-me “não”. Sem mais nada para dizer e depois de um silêncio que poderia ter custado todo o esforço de matar a timidez, perguntei seu nome. “Maria... Maria Madalena. Mas não gosto de Maria” respondeu “Eu gosto de Madalena... é forte”.





Depois a menina Madalena, que morava na casa amarela, e eu tornamo-nos inseparáveis. Nós três, eu, Madalena e Milene íamos sempre juntos na cachoeira em minha Barra-forte vermelha. Milene era a mais nova, adorava brincar de professora. Tinha jeito de mãezona e era super prendada, mas apesar de bonita era muito brejeira e nada sensual.





Madalena vinha de outra cidade. Diz ela que os pais haviam morrido, mas depois descobri que era porque eles não tinham condições de cria-la, aí venderam-na. Apesar das condições de sua vida era muito esperta, moderna e estranhamente feliz. Queria ser como as atrizes de revistas e ganhar dinheiro fazendo poses. Bem que poderia mesmo, já que era bastante bonita e tinha ainda aqueles olhos cheios de fogo que poderiam parar o mundo em um breve instante.





Eu era aquele que utilizava o ar que as duas geravam para poder respirar. Enquanto Milene me levava a sempre buscar, saber, entender, criar e sonhar. Madalena me ensinava a desejar, querer, romper, ultrapassar e jamais se arrepender.





O tempo foi passando e confundimos a amizade e as pernas. Transávamos em tudo quanto era lugar. Dentro do Maria-Fumaça, no cafezal, no rio, na cachoeira... Era um fogo sem fim. Mas chegou a hora de ir. O exército. O batalhão ficava na Barra, muito longe de Conservatória... Longe e diferente. Havia de tudo na grande Rio de Janeiro. Tanto que me esqueci de Madalena e não mais voltei.





Um dia, faminto, procurei um restaurante no centro. Chamado de U.S.I.N. A era um lugar de gente esquisita. Comiam da mesma forma, garfo na comida, garfo em frente ao queixo, garfo na boca. Ao mesmo tempo e o mesmo prato. Abismei-me. Tinham um olhar vazio... Pareciam vazios. Quis voltar ali de curiosidade. Procurei pessoas comendo diferente, tentei vê-los piscando diferente, olhando para o lado, mas nada acontecia. Resolvi chegar então bem cedo, na hora de abrir. Para minha surpresa as portas já estavam abertas e as pessoas já estavam ali, comendo sem parar. Resolvi então berrar, atirar pedaços de minha comida, cutucar. Não adiantou. Quando levantei me pronto para derrubar a mesa eu a vi novamente... Era Madalena. Fui feliz falar com ela, mas ela não me respondeu. Irado eu então a sacudi, até que ela se virou e olhou para dentro de meus olhos. Seus olhos, que cheios de vida, pareciam contar uma história de longos anos de tristeza e solidão. Eram os olhos que eu havia lhe dado quando desapareci sem lhe dizer o porque. Eram olhos que não tinham mais vida. Súbito, bem ali na minha frente, ela virou pó. Gritei desesperado. Corri como para sair daquele lugar maldito, mas não havia mais porta de saída. Retornei para tentar achar alguém, mas atrás de mim surgiu um espelho onde eu estava jovem novamente. Como se me preparasse novamente para encontrar com minha menina eu sorri. Arrumei minha roupa e a fome que eu sentia aumentou... Muita fome. Uma fome que jamais tinha sentido. Sentei-me para comer ao som de uma risada alta e estranhamente familiar.


YAHAHAHAHAHA!





Observações: Deixarei o titulo grande até a primeira reclamação, ok.








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