IDEAIS FRUSTRADOS
Paccelli M. Zahler
Nas reuniões promovidas pelo CREA/DF para buscar uma solução para o problema da discriminação salarial que vem atingindo os profissionais da engenharia, arquitetura e agronomia no Serviço Público, tem se verificado uma baixa frequência de pessoas, apesar do empenho de cada participante em trazer mais gente.
Em uma dessas oportunidades, especulou-se sobre a impropriedade do horário, a falta de consciência da classe, o desinteresse e a desilusão com a profissão - hoje mal remunerada.
Há poucos dias, o Presidente do CREA/PI, em contato com o Presidente do CREA/DF, comunicou que um engenheiro no seu Estado percebia o "vultoso" salário de NCz$ 1.300,00 (um mil e trezentos cruzados novos).
Se a situação dos profissionais da área de engenharia, arquitetura e agronomia do Serviço Público Federal não é lá essas coisas, devido à disparidade salarial entre os órgãos públicos (segundo o Diário Oficial da União de 06/03/90, o salário do NS-05 do Ministério da Agricultura será NCz$ 36.367,11, ao passo que o NS-05 do IBAMA será NCz$ 56.542,95 - uma diferença de NCz$ 20.175,84; a última referência do M.A., o NS-25, receberá NCz$ 68.544,75, e o correspondente do IBAMA, NCz$ 107.186,55 - uma diferença de NCz$ 38.641,80) imagine a situação do colega piauiense.
Não são poucos os colegas que abandonam a profissão. Basta computar quantos estão estudando para o concurso do Banco do Brasil, Banco Central, Técnico do Tesouro Nacional ou Assessor Legislativo. Outros, fazendo curso de digitação, programador, analista de sistemas ou cursando outra faculdade; outros ainda, dedicando-se ao comércio ou fazendo "bicos" para complementarem seus salários.
Que fim levaram os ideais? E aqueles sonhos de juventude de contribuir para um Brasil melhor?
Os corredores dos órgãos públicos estão repletos de desestímulo, de reclamações, de injustiças, de salários que acabam no segundo dia após o recebimento, de ideais frustrados.
Não se observa mais aquele brilho nos olhos de pertencer ao quadro deste ou daquele Ministério, de ser um técnico especializado em determinada área do conhecimento porque a especialização não lugar nem valor numa máquina administrativa enferrujada, viciada, burocrática e apadrinhada.
Preocupado com o valor do aluguel, do condomínio, da luz, do gás, do supermercado, da escola do filho e com o que vai vestir - reajustados semanalmente, e o salário defasado, alguém pode exercer a sua profissão em paz?
Quem achar que sim, "atire a primeira pedra".
(Publicado no INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO DE ENGENHEIROS AGRÓNOMOS DO DF nº 2, março/90)
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