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cronicas-->ALCOÓLATRA MIRIM -- 13/06/2005 - 03:24 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Alcoólatra mirim



Lá no distante Piauí, quando possuía apenas dois meses de tempo na Terra fui compelido a beber uma grande quantidade de álcool pela minha irmã, a Honorina com dois anos de idade.

Minha mãe, jovem, apenas 21 anos, saíra por algum motivo qualquer, deixando-me numa rede a dormir sossegado. Minha irmã estava por ali a brincar, ora com sua boneca de pano, ora com alguns objetos de madeira. Naquele tempo, as mamadeiras não eram como hoje, revolucionárias até no ajuste perfeito da boca do bebê. Era tão somente um bico de borracha enorme, que as mães adaptavam a qualquer garrafa. Claro que devidamente lavadas e enxaguadas.

Minha mana encontrou o bico de mamadeira em algum lugar e logo passou a procurar uma garrafa qualquer, onde por certo colocaria um pouco dágua com a finalidade de brincar comigo de "mama-nenê". Coisa de menininha, claro. Deu zebra. Ela localizou uma garrafa de álcool. Ignorando o perigo que aquele líquido representa, fixou o bico da mamadeira e encaminhou-se até a rede, onde estava minha pequenina pessoa a ronronar. Rolou então álcool pela minha boca, pelos meus olhos que eram - segundo minha mãe - azuis. Por algum tempo a mana despreocupadamente, dava-me mamadeira etílica, enquanto me sufocava e certamente devia arder por dentro, já que até então a única coisa que me descia pela goela abaixo eram gostosos mingaus leiteiros.

Quando minha genitora chegou, eu estava azul de tanto beber pinga, digo álcool mesmo. Foi um fuzuê danado! Minha mãe, no estilo típico daquela época, saiu em desespero correndo pelas ruas da cidade comigo nos braços e uma multidão atrás, curiosa e acostumada às tragédias entre crianças. E também às mães correndo com crianças nos braços. Chegando a um lugar que devia ser um hospital - digo assim porque não consigo imaginar um hospital daqueles idos tempos, quando hoje os hospitais mais parecem viver um estado de guerra permanente - minha mãe recebeu a notícia triste do médico:
-Seu filho, senhora, está morto!
-Mas, ele ainda se mexe, doutor!
-Isto aí são os espasmos da morte.

E foi só. Minha pobre mãe lembrou-se de Deus e correu para a igreja de São Francisco de Assis. Lá chegando colocou-me sobre o altar-mor e fez uma promessa, que todos ali presentes ouviram:
-Se meu filho não morrer prometo que ele usará por dois anos a mesma roupa de São Francisco de Assis, dia e noite.

E assim foi. Não morri. Durante dois anos usei a batina de São Francisco de Assis. Tenho até uma velha fotografia, já amarelecida pelo tempo usando a tal roupa. Eu era uma graça de gente em relação ao que sou hoje.

Contudo, a partir dos doze anos passei a beber pinga. Aquela branquinha mesmo. Com o tempo tomei todas. Carqueja, conhaque, uísque, a bebida russa, caipirinhas então nem se fala. Cerveja dá pra tomar de balde. Hoje estou com sessenta anos e os intestinos funcionam perfeitamente. A única coisa que sinto após uma bebedeira é aquela dor de cabeça, quando a bebida é de segunda categoria. Percebo que aquele acidente de meus dois meses preparou-me para um alcoolismo sem problemas. Não que seja eu adepto do álcool. Não sou. A prova está no fato de nunca ninguém me ver por aí, caído, ou caindo de bêbado. Bebo quando quero. Ou para inspirar-me a escrever. Não faço da bebida uma necessidade padrão. Afinal, meus versos mais bonitos e que estão na internet para o mundo ver, foram escritos turbinados na cachaça da boa. A poesia "VOCÊ", que está há muitos anos como uma das melhores da Web também foi escrita numa madrugada qualquer, sensibilizada pela bebida.

Não obstante tudo isso, não aconselho ninguém a beber. Fuja do álcool. Nem que São Francisco - semelhante ao meu caso - ajude-lhe a não morrer alcoolizado.

Jeovah de Moura Nunes
poeta, escritor e jornalista
(e bom bebedor nas horas vagas)
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